Abramos caminho com um programa de expansão do partido

James P. Cannon

16 de junho de 1939


Primeira edição: Socialist Appeal, vol. III, nº 42, 16 de junho de 1939, p. 3.

Fonte para a tradução: seção espanhola do Arquivo Marxista na Internet.

Tradução: Alexandre Linares.

HTML: João Victor Bastos Batalha.

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A questão da guerra, que leva diretamente à questão da revolução, confronta toda organização política operária com seu teste supremo. É tão claro quanto o dia, e ninguém mais nega, que o capitalismo, sistema social e econômico que já ultrapassou seu tempo, está prestes a infligir à humanidade uma nova explosão militar de escala mundial.

É evidente por si só que os Estados Unidos, a maior e mais voraz potência imperialista, estarão diretamente envolvidos na guerra, já que já estão envolvidos nas manobras diplomáticas que a precedem e a preparam. A oposição irreconciliável à guerra é o pré-requisito para o desenvolvimento de uma luta revolucionária destinada a encerrar a guerra com a vitória dos trabalhadores. Como o único partido nos Estados Unidos cuja oposição à guerra é levada a sério tanto por nós mesmos quanto por outros, devemos agora considerar os meios práticos para tornar efetiva nossa oposição e emergir da crise revolucionária, que inevitavelmente se seguirá à guerra, à frente das massas em revolta. Essa questão, necessariamente, dominará nossa próxima convenção contra a guerra, do início ao fim.

Mas o que significa, na prática, começar agora a preparar uma oposição efetiva à guerra? Obviamente, não pode ser feito por meio de uma espera passiva até que a guerra ecloda. Pelo contrário, significa acelerar todo o nosso trabalho a uma velocidade e intensidade que rompam completamente com o ritmo de lesma dos tempos “normais” e pacíficos. Essa é a essência do nosso problema. Se não o resolvermos, estamos perdidos. O problema conosco, o perigo mortal que enfrentamos, é que nosso programa revolucionário contra a guerra possa permanecer no papel. Repetimos incessantemente que a luta contra a guerra não é uma tarefa especial a ser cumprida por algum tipo de truque de mágica. Se a guerra é apenas a continuação da política por outros meios, então a luta revolucionária contra a guerra é a extensão e intensificação multiplicada da agitação e da organização revolucionária. Devemos nos preparar para a guerra construindo um partido mais forte e remodelando-o para as condições de guerra. E precisamos agir com urgência e realizar milagres de energia no breve tempo que nos resta.

Métodos antigos estão obsoletos

A crise social do capitalismo desenrola-se na velocidade de um furacão, com uma guerra mundial na ordem do dia. O crescimento lento e modesto dos tempos passados, o paciente recrutamento e educação de novos militantes, um por um, o único possível em nossos anos preparatórios, é agora fatalmente inadequado. Precisamos avançar com ímpeto; tudo deve ser feito com pressa e em escala multiplicada muitas vezes.

Felizmente, estamos prontos para uma transformação tão radical na natureza do nosso trabalho e atividade. Em cooperação com nossos camaradas da 4ª Internacional, elaboramos o programa. Temos quadros educados que constituem o esqueleto de uma organização nacional. Estamos prontos, preparados pelo passado, para avançar e nos tornar uma força proletária, se tivermos vontade de fazê-lo.

Podemos fazer isso sem tensão excessiva. Em nossas fileiras, há grandes reservas de energia ainda inexploradas. Não estamos cansados; ninguém em nossa organização ainda se esforçou ao limite. É verdade que nossos militantes fizeram muito mais do que os outros e realizaram sacrifícios que surpreendem os outros partidos com políticas mornas e pessoas sem convicção. Mas nós não somos como os outros; nosso objetivo é conquistar o mundo. Precisamos colocar o partido agora em pé de guerra e avançar por uma marcha forçada. Precisamos romper com os hábitos, com a rotina conservadora e abrir caminho para fora do isolamento por meio de um programa de expansão audacioso e ambicioso.

“Rearmamento moral”

Nossa Convenção(1) contra a guerra deve dar o sinal para um “rearmamento moral” próprio, no sentido de transformar nosso círculo de propaganda, mais ou menos sossegado e descontraído, em um exército em marcha; um exército cujos militantes disciplinados estão determinados a conquistar e que não recuam diante de nenhum esforço nem sacrifício. Devemos aspirar a construir um partido como o que Lenin construiu, e adaptar às condições dos EUA seu conceito de revolucionários profissionais que vivem e trabalham o tempo todo pelo e com o partido. A convenção, ao exigir tal transformação, deverá implementá-la estabelecendo tarefas concretas que, por sua própria natureza, vão acelerar o processo.

Até aqui, por razões compreensíveis, fomos principalmente um partido de propagandistas literários e críticos. No aspecto organizativo, fomos lamentavelmente fracos e realizamos apenas alguns experimentos tímidos com organização de massas. Esse desequilíbrio, justificável em nossos dias de preparação, precisa ser corrigido agora por meio de uma mudança drástica de ênfase. A propaganda, que Plekhanov definiu como a disseminação de muitas ideias para poucas pessoas, deve ser contrabalançada por um aumento dez vezes maior no trabalho de agitação, que ele definiu como a disseminação de poucas ideias para muitas pessoas. Esse é o verdadeiro significado de nosso programa de transição. Para realizar isso em poucos meses, é todo o tempo que podemos nos permitir para a mudança, precisamos de um programa concreto de expansão, como segue:

O Appeal três vezes por semana

Na frente literária: transformar o Appeal(2) num jornal mais popular e publicá-lo três vezes por semana, como o passo necessário seguinte no caminho rumo ao Daily Appeal(3).

Na frente organizativa: Recrutar vinte camaradas qualificados adicionais para trabalhar em tempo integral pelo partido. Um deve especializar-se e dirigir o trabalho sindical em escala nacional; outro, o trabalho entre os desempregados; outro, o trabalho entre os negros. Os demais devem ser designados para atuação no campo — pelo menos um organizador em tempo integral em cada distrito ou centro importante onde existam organismos partidários, e alguns militantes itinerantes para organizar novas filiais e desenvolver novas atividades.

Agitação: Realizar giras regulares de oradores do partido, com intervalos de no máximo dois meses.

Finanças: Arrecadar um fundo especial de US$ 10.000(4) para financiar as iniciativas acima.

Este programa, tão modesto em comparação com a magnitude de nossa tarefa e o tempo limitado à nossa disposição é, naturalmente, apenas um começo. Mas, uma vez plenamente em operação, ele gerará novos meios e possibilidades para uma expansão posterior. Deve ser realizado num prazo de três a quatro meses após a convenção. Não há dúvida alguma de que podemos cumprir integralmente este programa sem sobrecarregar os recursos e energias de nossos membros e simpatizantes. É certo que qualquer outro partido de tamanho comparável ficaria atônito diante de metade dessas exigências. Mas, novamente, nós não somos como os outros. Impomos a nós mesmos tarefas que, de alguma forma, estão à altura de nossos grandes objetivos e da qualidade de nossos militantes. As exigências deste programa de expansão vão parecer brincadeira de criança comparadas às tarefas reais e aos sacrifícios que ainda estão por vir e para os quais os pequenos esforços e sacrifícios deste programa nos ajudarão a nos preparar.

Nossa convenção, arrisco dizer, não vai hesitar diante dos sacrifícios que este programa implica; é mais provável que peça provas de sua viabilidade prática. Sob esse aspecto, discutirei brevemente a questão aqui.

Não seria imprudente assumir uma publicação três vezes por semana quando se admite que a versão duas vezes por semana enfrenta sérias dificuldades financeiras e que há apenas algumas semanas, ameaçaram sua suspensão? Não, não é imprudente; ao contrário, é inteiramente viável. Precisamos do jornal três vezes por semana para nos prepararmos para o diário, que estará na pauta amanhã.

O Appeal duas vezes por semana já tem quatro meses de existência. É uma arma inestimável, como todos reconhecem. Agora atingimos o dobro da força e o dobro da frequência, e distribuímos aproximadamente o dobro de exemplares que antes. O único problema é que é muito pequeno. Naturalmente, operamos com margem apertada. Algumas filiais tornaram-se descuidadas no pagamento de suas contas de encomendas de lotes do jornal. Muitas têm sido lentas demais em obter assinantes. Corrijam-se esses defeitos e a Convenção, por sua autoridade, certamente pode e irá corrigi-los, ponha-se fim às brincadeiras sobre os pagamentos de encomendas de pacotes do jornal, e amplie-se a lista de assinaturas ativas em apenas 1.000 por meio da atribuição obrigatória de cotas, e o Appeal duas vezes por semana será estabilizado financeiramente. O caminho estará aberto para o próximo passo necessário: o Appeal três vezes por semana.

Metade para o trabalho organizativo

É claro que precisaremos de um fundo de reserva para cobrir o déficit e ajudar o jornal durante o primeiro período. Metade do fundo de US$ 10.000 deve ser destinado para esse fim. A outra metade deve ser gasta exclusivamente no trabalho organizativo, conforme descrito acima.

Dez mil dólares é uma quantia considerável para uma pequena organização de pessoas pobres arrecadar de uma só vez. Mas a base de nossa organização demonstrou no passado ser capaz de responder com entusiasmo e sacrifício sempre que lhe são apresentadas, de forma racional, necessidades reais e tarefas sérias. O cumprimento de 100% das cotas para o Appeal duas vezes por semana e a arrecadação simultânea do fundo internacional deveriam abrir os olhos daqueles que duvidam que nossos militantes estejam prontos para dar um passo à frente e pagar por isso, se necessário, com a própria pele.

Todo o partido está insatisfeito, e com razão, com o modo como nosso trabalho organizativo fica atrás da propaganda literária. Parte da dificuldade pode ser atribuída a falhas individuais, que podem ou não ser corrigidas nos próximos meses. Mas uma discussão na Convenção nesse nível e um coro de recriminações não podem render nada de muito valioso. Isso seria, de qualquer forma, apenas roçar a superfície do problema. Não precisamos apenas de ajustes pontuais, embora isso seja útil, mas de uma reconstrução drástica e abrangente de nossas concepções e métodos de organização. Devemos acabar com o amadorismo e os métodos organizativos displicentes de uma seita de propaganda que não contempla grandes ações. Precisamos de uma equipe maior, não apenas no centro, mas também, e especialmente, no campo.

Temos as pessoas qualificadas para formar essa equipe: jovens militantes que receberam sua educação política em nossa escola incomparável, que não recuam diante de nenhum sacrifício e estão prontos para qualquer tarefa. Ao mesmo tempo, o partido chegou a um ponto em que precisa, e deve ter, uma dedicação integral. O Appeal três vezes por semana e a equipe ampliada de organizadores vão poder, em breve, elevar o partido a um patamar superior e prepará-lo melhor para as coisas maiores que estão por vir.

A Convenção marcará um verdadeiro avanço se adotar um programa de expansão nessa linha.