Telegramas relativos à derrocada da quarta campanha de “cerco e aniquilamento”

Zhou Enlai

Entre janeiro e março de 1933


Fonte para a tradução: Obras Escogidas de Zhou Enlai, t. I, Pequim: Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1981, pp. 77-91.

Tradução e HTML: João Batalha.

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Nota da edição

Entre fevereiro e março de 1933, Chiang Kai-shek mobilizou de 400 a 500 mil homens para empreender a quarta campanha de “cerco e aniquilamento” contra a Base Revolucionária Central(1). Naquele momento, a terceira linha oportunista “de esquerda”, que tinha Wang Ming como expoente, já era dominante na direção do Partido. Wang Ming e seus partidários haviam formulado não apenas uma linha política “esquerdista”, mas também uma linha militar equivocada. Quando teve início nossa quarta contracampanha, o camarada Mao Zedong já havia sido afastado do Exército Vermelho. Zhou Enlai, Zhu De e outros camaradas encontravam-se na linha de frente, dirigindo as operações. Por meio da prática, compreenderam que o Comitê Central e seu Birô na Zona Soviética haviam cometido um erro ao ordenar que o Exército Vermelho tomasse a dianteira e ocupasse Nanfeng e Nancheng, cidades fortificadas e bem defendidas pelo inimigo. O camarada Zhou Enlai propôs ao Comitê Central e ao seu Birô na Zona Soviética o princípio de concentrar forças superiores para aniquilar, uma a uma, as unidades inimigas mediante operações móveis. Sob o comando dos camaradas Zhou Enlai e Zhu De, obteve-se a vitória na quarta contracampanha. Destruíram-se, sucessivamente, as 11ª, 52ª e 59ª Divisões do inimigo, capturando mais de dez mil fuzis. Dos telegramas aqui apresentados, os oito primeiros foram enviados pelo camarada Zhou Enlai ao Comitê Central e ao seu Birô na Zona Soviética; o nono consistiu em uma ordem emitida conjuntamente pelos camaradas Zhou Enlai e Zhu De.

I. Telegrama de 27 de janeiro

A. Desde a Batalha de Jinxi(2), nossas tropas mantiveram-se em posição de combate, aparentando prontidão para uma nova ofensiva, visando provocar o movimento das forças inimigas e arrecadar fundos e provisões. Foi com esse mesmo propósito que o III Grupo de Exércitos deslocou-se para Guixi. Desta vez, o inimigo deixou-se arrastar por nós, pois pretendia atrair-nos com suas tropas estacionadas em Xinjiang e, em seguida, interceptar-nos ao norte de Jinxi com suas forças provenientes de Fuzhou. Contudo, como desconhecia nossa disposição e temia muito repetir as derrotas anteriores, suas forças vindas de Fuzhou avançavam com extrema lentidão, desviando-se, inclusive, para o Norte, enquanto as três divisões comandadas, respectivamente, por Wu, Luo e Zhou(3) permaneciam ao longo da linha Xuwan-Liuligang-Lixu. Nosso Exército da Frente deslocou-se de forma concentrada para o sul e, em apenas um dia, alcançou a região sudeste de Jinxi, assumindo postura de combate para atrair o inimigo. Porém, hoje o inimigo, por meio de reconhecimento, descobriu que nossas forças principais não se encontram ao norte de Jinxi e, por isso, alterou seu plano, concentrando as duas divisões de Wu e Zhou nas imediações de Xuwan, retirando a divisão de Luo para Fuzhou e prosseguindo rumo a oeste, conforme previsto, com a transferência da 23ª Divisão para Le’an. Assim, retornou à sua disposição ofensiva original.

B. Decidimos aproveitar estes dois dias para mobilizar nossas tropas a fim de transportar, sob escolta dos combatentes, os setecentos ou oitocentos soldados feridos e doentes que se encontram ao sul de Jinxi para a região de Lichuan, aguardando que sejam posteriormente enviados à retaguarda. Quando a 23ª Divisão inimiga deslocar-se para o oeste, amanhã ou depois (seria ainda melhor se a divisão de Luo também o fizesse), enviaremos uma parte do 11º Corpo para realizar operações de guerrilha em Xuwan e outra parte para simular um ataque contra Nancheng, com o objetivo de desorientar e imobilizar o inimigo. Pretendemos empregar o 12º Corpo para distrair as tropas inimigas em Shaowu, concentrar todas as nossas forças principais para cruzar o rio Fuhe e dirigir-se diretamente a Nanfeng, preparando-nos para aniquilar os reforços inimigos a oeste do rio, de modo a romper o cerco ao longo do mesmo.

C. Tendo em vista a situação atual do inimigo, cujas duas colunas relativamente poderosas destinadas às operações de “aniquilamento” no vale do rio Fuhe ainda não se encontram plenamente organizadas, nossas tropas poderiam unir-se ao 11º Corpo na margem leste do referido rio para aniquilar o grosso de suas forças por meio de uma guerra móvel. Isso seria preferível a cercar e atacar diretamente a cidade de Nanfeng, o que revelaria nossa intenção de eliminar seus reforços. Ademais, a área a leste do rio Fuhe é bastante extensa e sua topografia é, particularmente, excelente, oferecendo condições favoráveis para a obtenção de recursos materiais. A desvantagem é que essa área está distante de nossa retaguarda, o que dificulta o transporte, além da principal deficiência, que reside no trabalho insuficiente de sovietização realizado em Nanfeng, Guangchang, Jianning e Lichuan. Ainda assim, nossas vantagens também são as desvantagens do inimigo. Este tentou, em mais de uma ocasião, forçar-nos ao combate, recorrendo à tática de imobilizar-nos com um de seus flancos na margem leste do rio e interceptar-nos com outro. Contudo, nas três batalhas travadas, respectivamente, em Nanfeng, Nancheng e Jinxi(4), derrotamo-lo graças a ataques fulminantes com forças bem concentradas, desbaratando ou aniquilando rapidamente um de seus flancos. Portanto, enquanto suas duas colunas destinadas às operações de “aniquilamento” na margem leste do rio Fuhe não estiverem devidamente organizadas, o inimigo não ousará avançar com ímpeto. Na ocasião anterior, depois da vitória conquistada em Lixizhao (próximo a Nancheng), aguardamos em Lichuan o momento oportuno para empreender novo combate; desta vez, após a vitória obtida em Jinxi, procedemos de modo semelhante. Contudo, como o inimigo não ousou avançar temerariamente e manteve-se agarrado à defesa de suas cidades, não pudemos travar combates sucessivos em uma guerra móvel, tendo que deslocar-nos do leste de Nanfeng para o leste de Nancheng, e dali para o leste de Xuwan. Estudamos minuciosamente a situação do inimigo e buscamos deslocá-lo com uma tática de avanços graduais, a fim de alcançar a vitória por meio da guerra móvel. Não deixamos de levar em conta a possibilidade de sermos atacados ou interceptados. Em nossa última tentativa de deslocar-nos para o leste e atacar Shaowu, visando atrair o inimigo, retiramo-nos antes do tempo por receio de sermos interceptados, e as duas divisões inimigas sob o comando de Wu e Zhou, que haviam avançado até Xiaoshi, ponto intermediário em seu caminho, recuaram para suas posições de origem. Isso demonstra que toda decisão tática deve ser tomada levando em consideração a situação do inimigo, as condições topográficas e nossas próprias tarefas. Por exemplo, teremos de mudar de tática caso as duas colunas inimigas no vale do rio Fuhe já estejam bem organizadas, ou se o III Grupo de Exércitos, que se aproxima de Guixi, se encontrar em situação desfavorável. Por essa mesma razão, nos manifestamos prontamente, por telegrama, contra a proposta de Zeng, Shao e Tang(5), feita quando o 10º Corpo atravessava o rio, de enviar também o III Grupo de Exércitos para cruzá-lo e atacar Guixi.

D. Agora que o inimigo se encontra em plena preparação para uma ofensiva, organizando três corpos de exército para operações de “aniquilamento” e encarregando a defesa de suas cidades a forças destacadas para a “limpeza”, devemos, naturalmente, tomar a iniciativa e deslocar-nos imediatamente para outro teatro de operações, de modo a manter o inimigo em movimento e frustrar seus planos ofensivos. Essa é a razão que fundamenta a ideia de transferir-nos para a margem oeste do rio Fuhe. Porém, importa deixar claro que, desde as últimas campanhas de Yihuang e Le’an(6), o inimigo se aferra com ainda mais tenacidade à defesa de suas cidades. Embora entre suas fileiras haja quem defenda o abandono dessa atitude rígida, o inimigo dificilmente tomará tal decisão se não o forçarmos a mover-se por meio de ataques que o desloquem e de operações de campo que aniquilem suas forças. O fato de nossas divisões independentes terem conseguido penetrar duas vezes em Chongren por assalto deveu-se, precisamente, às nossas vitórias e ofensivas na margem leste do rio Fuhe. Portanto, uma vez na margem oeste, não será possível forçar o inimigo a movimentar-se sem que lancemos ataques contra suas cidades, visto que Nanfeng, Nancheng, Yihuang e Fuzhou situam-se todas na margem oeste. Mais aconselhável seria avançar até as imediações de Fuzhou pela margem leste, a fim de ameaçar e atrair o inimigo. Atacar as cidades e combater seus reforços traria duas desvantagens: por um lado, revelaria nossa intenção e, por outro, correríamos o risco de sermos pegos em um envolvimento duplo. Por essa razão, não teríamos a mesma liberdade de manobra de que dispomos na margem leste. Assim, se no momento não formos capazes de iniciar operações móveis na margem leste, de modo algum devemos decidir precipitadamente pelo cruzamento do rio. Pedimos que levem isso em consideração.

II. Telegrama de 30 de janeiro

A. Na noite do dia 27, recebemos um informe fidedigno, segundo o qual as três divisões comandadas, respectivamente, por Luo, Zhou e Wu, buscando tirar proveito do deslocamento de nossas forças rumo ao sul para obrigá-las a ir o mais distante possível, haviam decidido partir no dia 28 em direção à linha Jinxi–Zuofang–Langju e, no dia 29, em direção à linha Poxu–Huangshidu–Langju. No dia 30, a divisão de Luo retornaria a Nancheng, via Lixizhao, enquanto as divisões de Zhou e Wu voltariam a Xuwan. Ao tomarmos conhecimento disso, nosso Exército da Frente concentrou ainda mais suas forças, preparando-se para liquidar primeiro a divisão de Luo, caso essas três divisões se separassem. Contudo, no dia 28, as forças inimigas haviam apenas alcançado a linha Xiaogongmiao–Xufang–Langju, quando Chen Cheng(7) suspendeu a perseguição sob o pretexto de que os preparativos para a operação de “aniquilamento” ainda não estavam concluídos, de modo que começaram a recuar no dia 29. Atualmente, a 11ª Divisão inimiga retornou a Xuwan e Dongguan, situado a oeste do rio, à espera de novas ordens, e as 14ª e 90ª Divisões concentraram-se nas imediações de Xuwan. A 23ª Divisão deslocou-se rumo ao oeste, em direção a Le’an, e a 5ª Divisão chegou a Guixi. A 83ª Divisão deverá chegar a Jiangxi na segunda metade de fevereiro. Como Chiang Kai-shek chegou em Nanchang no dia 29, é de se esperar que os preparativos para a ofensiva se intensifiquem e acelerem ainda mais.

B. Já está claro que, antes de concluir suas disposições, o inimigo não deseja se lançar a um ataque temerário nem dividir suas forças, arriscando enfraquecer assim seu poderio. No momento, a divisão de Zhou Zhirou busca ansiosamente se recompor, a de Wu Qiwei está se reorganizando para o combate, e o próprio Wu foi se encontrar com Chiang Kai-shek. Dadas essas movimentações do inimigo, combates contínuos e encarniçados parecem iminentes. Caso nos desloquemos imediatamente para a margem oeste do rio Fuhe, só conseguiremos forçá-lo a movimentar-se por meio de ataques às suas cidades. Em meu último telegrama, apontei duas desvantagens de tal estratégia: primeiro, a revelação de nossas intenções; segundo, a possibilidade de cairmos facilmente em um envolvimento duplo. A essas, somam-se outras três: terceiro, o risco de pesadas baixas; quarto, a impossibilidade de angariar fundos; e quinto, a perda de tempo. Se sofrermos essas desvantagens às vésperas de uma grande batalha, sem conseguir tomar as cidades fortificadas e encontrando inconvenientes para enfrentar as três divisões inimigas de reforço em seu avanço simultâneo, não só falharemos em frustrar os planos ofensivos do inimigo, como também lhe facilitaremos os ataques. Portanto, enquanto houver possibilidade de aniquilar o inimigo por meio de operações móveis sucessivas na margem leste do rio Fuhe, antes que conclua seus posicionamentos, sou contrário ao cruzamento do rio neste momento para atacar tais cidades. Mesmo que o inimigo não avance por ora, ainda poderemos arrecadar fundos para cobrir os gastos de uma grande batalha por vir (após a vitória em Jinxi obtivemos 200 mil yuans em espécie), reforçar o trabalho do 11º Corpo para sovietizar Jinxi e Zixi, além de conter com maior eficácia as 5ª e 6ª Divisões inimigas, impedindo que se juntem às forças de “aniquilamento”. Se, por causa da chegada de Chiang Kai-shek e de nossa permanência na margem leste do rio Fuhe, o inimigo decidir penetrar profundamente na Zona Soviética(8) para tentar nos interceptar, devemos então deslocar-nos imediatamente para os limites dessa Zona e, tendo-a às costas, travar uma batalha decisiva contra o inimigo.

C. Os camaradas Zhu e Wang(9) estão, em linhas gerais, de acordo com as opiniões acima expostas. No entanto, o Comitê Central tem nos telegrafado repetidas vezes, instando-nos a romper as defesas das cidades inimigas, o que diverge, de fato, da tática que expus em meus dois telegramas anteriores. Ainda assim, sustento que a aniquilação das forças inimigas, especialmente de suas forças principais, constitui um pré-requisito para a tomada de cidades bem defendidas. Com tais forças destruídas, o inimigo, mesmo dispondo de cidades fortificadas, será incapaz de nos cercar, ao passo que poderemos avançar livremente e assaltá-las pela retaguarda. Caso contrário, nossas forças principais sofrerão perdas em vão, sem conseguir romper as fortificações, exatamente o que o inimigo deseja. Espero que os camaradas do Birô do Comitê Central da Zona Soviética enviem amanhã uma breve resposta por telegrama, manifestando-se quanto ao acordo ou desacordo com essa opinião. Se a resposta não chegar até amanhã, assumirei a responsabilidade de tomar uma decisão, pois as circunstâncias atuais não permitem mais demora. Ainda assim, solicito que o Comitê Central nos envie instruções políticas.

III. Telegrama de 7 de fevereiro

A. O Birô do Comitê Central da Zona Soviética ordenou um ataque a Nanfeng. Nossas perspectivas quanto ao plano de ação são as seguintes:

1) Aproveitando o fato de que dois regimentos da 8ª Divisão inimiga encontram-se em Xinfeng, à exceção de um batalhão, que está estacionado em Litaxu, destacaremos uma parte de nossas forças para tomar Xinfeng de assalto, ao passo que nossas forças principais cruzarão o rio Fuhe a jusante de Nanfeng, visando cortar a retirada das tropas inimigas de Xinfeng para Nanfeng e, em seguida, lançar um ataque direto contra esta cidade. Como o inimigo dispõe de apenas quatro regimentos no interior e nos arredores da cidade, é possível que consigamos forçar a entrada. Ao investirmos sobre Nanfeng com força total, também posicionaremos parte de nossas forças na margem leste do rio, em frente à cidade.

2) A força principal do 11º Corpo se aproximará de Xuwan, ao passo que parte de suas tropas mover-se-á para a margem oposta de Nancheng, visando a guerra de guerrilhas, a fim de ameaçar e conter o inimigo. Concomitantemente, seus grupos de trabalho empenhar-se-ão em sovietizar Jinxi e Zixi. O 21º Corpo avançará sobre Yongfeng, enquanto as 4ª e 5ª Divisões Independentes manobrarão ao sul de Yihuang e Le’an.

3) Caso não obtenhamos sucesso no ataque direto, mas consigamos desalojar as forças inimigas das defesas externas da cidade, poderemos escavar trincheiras e preparar-nos para atacar os reforços inimigos.

4) Se os reforços inimigos chegarem antes de conseguirmos desalojar as tropas inimigas das defesas externas, não teremos outra escolha senão atacá-los diretamente.

5) Se nossos esforços para conter as forças inimigas forem infrutíferos e três ou quatro divisões de reforço avançarem simultaneamente pelas estradas, um confronto frontal nos colocaria em um envolvimento duplo, ao passo que um ataque de flanco de nossa parte facilitaria a convergência das tropas inimigas de dentro e de fora da cidade. Nesse caso, deveremos nos deslocar e atacar Yihuang e Le’an, a fim de atrair as forças inimigas e liquidá-las por meio de operações móveis em regiões montanhosas. Isso porque, nas áreas montanhosas, é mais fácil distrair uma parte das forças inimigas e eliminar outra, ao passo que seria extremamente difícil imobilizá-las enquanto avançam simultaneamente ao longo das estradas.

B. As disposições acima não são rígidas; devem ser executadas com flexibilidade, de acordo com as mudanças na situação inimiga ou no aspecto topográfico. Se, por acaso, o degelo da primavera tornar difícil vadear o rio a jusante de Nanfeng, forçando-nos a cruzá-lo a montante, nossa intenção será facilmente revelada de antemão, o que impossibilitará cortar a retirada dos dois regimentos estacionados em Xinfeng. Como resultado, a guarnição de Nanfeng poderá ser reforçada, chegando a seis regimentos, além de que as 11ª e 90ª Divisões inimigas poderão deslocar-se antecipadamente para apoiar Nanfeng. Nesse caso, tornar-se-á ainda mais difícil efetuar um ataque direto contra a cidade, sendo necessário mudar o plano e atacar Yihuang ou Le’an, passando pela Zona Soviética, a fim de obrigar o deslocamento das tropas inimigas e aniquilá-las por meio de operações móveis.

C. Há uma divergência entre as disposições acima e o que foi originalmente previsto nas diretivas do Birô do Comitê Central da Zona Soviética. Entendo que o melhor seria ocupar Nanfeng, mas a tomada de Yihuang e Le’an, acompanhada da liquidação dos reforços inimigos por meio de operações móveis, também nos permitirá explorar a vitória para exercer pressão direta sobre Fuzhou. Ademais, possibilitará manobras com ainda maior flexibilidade. Estão de acordo? Ou insistem que devemos assaltar Nanfeng a qualquer custo e travar uma batalha decisiva contra o inimigo, mesmo que três ou quatro divisões inimigas avancem simultaneamente pelas estradas? Por favor, enviem-nos uma resposta por telegrama até as 18:00 horas de hoje, para que possamos entrar em ação amanhã.

D. Solicitamos que o Comitê Central leve em consideração que, dadas a atual disposição do inimigo e as condições topográficas, é impossível tomar Nancheng de assalto sem antes atacar Nanfeng ou Yihuang e Le’an.

IV. Telegrama de 13 de fevereiro

A. Ontem, prosseguimos com o reconhecimento dos blocausses em Nanfeng e constatamos que apenas as fortificações localizadas fora do portão noroeste podiam ser abordadas para assalto, à sombra da noite. Após o cair da tarde, nossas forças iniciaram o ataque e, depois de uma noite inteira de combates intensos contra o inimigo, tomaram mais de dez blocausses importantes, de diversos tamanhos. Contudo, mais de vinte blocausses situados fora da cidade ainda permanecem nas mãos do inimigo. Situam-se em áreas de difícil acesso e apresentam um terreno aberto ao fundo. As fortificações já capturadas ainda se encontram distantes das muralhas da cidade, reforçadas por baluartes. A maioria dos blocausses inimigos estava guarnecida por um esquadrão ou um pelotão, e os mais importantes, por no máximo uma companhia. Tomou-nos muito tempo para capturá-los, e tivemos que cercar aquelas em posições mais estratégicas, visando preparar o assalto à cidade. Durante o combate sangrento que durou toda a noite, conseguimos capturar menos de um batalhão inimigo, enquanto sofremos mais de 300 baixas. A principal força encarregada do ataque foi o III Grupo de Exércitos, cujo comandante de divisão, Peng Ao(10), e dois comandantes de regimento tombaram em combate. Apesar da chuva durante o assalto à cidade, o moral de nossas tropas permaneceu elevado.

B. No dia 10, nosso 11º Corpo conteve um regimento da 8ª Divisão inimiga em Xinfeng, e, no dia 11, nosso 22º Corpo avançou até Litaxu e cortou sua linha de retirada. Desse modo, restaram apenas cinco regimentos inimigos em Nanfeng. Como o nosso 12º Corpo capturou durante a noite um blocausse localizado na margem leste do rio, o regimento inimigo estacionado ao sul se retirou para dentro da cidade e destruiu a ponte flutuante, demonstrando, assim, sua determinação de defender Nanfeng enquanto aguarda reforços. Ao que tudo indica, o inimigo está enviando reforços por três colunas separadas: duas divisões a partir de Nancheng, uma de Yihuang e duas de Le’an. A 11ª Divisão inimiga já iniciou sua marcha em direção a Yihuang.

C. Diante dessas circunstâncias, alteramos o plano original de tomar Nanfeng por assalto e optamos por um ataque simulado, decidindo aniquilar, antes de tudo, os reforços inimigos. No momento, nossas forças estão se concentrando a oeste de Nanfeng e, após averiguarmos hoje e amanhã as rotas de marcha das colunas inimigas, empenhar-nos-emos em atingir um de seus flancos com operações móveis premeditadas, buscando eliminar suas forças uma a uma.

V. Telegrama de 15 de fevereiro

A. Segundo informações confiáveis, enquanto nossas tropas se encontravam em Lichuan, o inimigo punha em prática um amplo plano de destacamento de forças. A força central, dirigida por Chen Cheng, se dividiria em três colunas. A primeira, comandada por Luo Zhuoying e composta pelas 11ª, 52ª e 59ª Divisões, se concentraria em Yihuang e Tangyin; a segunda, a mando de Wu Qiwei e formada pelas 10ª, 14ª e 90ª Divisões, em Fuzhou e Longgudu; e a terceira, chefiada por Zhao Guantao(11) e constituída pelas 5ª, 6ª, 9ª e 79ª Divisões, em Xuwan e Jinxi, com parte de suas tropas deslocando-se para Zixi. A 43ª Divisão deveria concentrar-se entre Yihuang e Le’an como força de reserva. Todas essas colunas deveriam concluir sua concentração antes do dia 20. As 4ª e 83ª Divisões serviriam como a reserva geral.

B. Como nossas forças cercavam e atacavam Nanfeng intensamente, o inimigo antecipou sua concentração. A 11ª Divisão chegou a Yihuang e Tangyin no dia 14, enquanto as 52ª e 59ª Divisões partiram para Le’an com o intuito de nos interceptar a partir de Dongbei, Huangbei e Xinfengshi. Atualmente, ambas avançam em direção a Le’an. A segunda coluna desloca-se rumo a Nanfeng. No dia 14, a 90ª Divisão chegou a Dongguan. Há também relatos de que a 14ª Divisão iniciou sua movimentação, mas a 10ª Divisão permanece imóvel. A data e o local de concentração da terceira coluna seguem inalterados. A 43ª Divisão encaminha-se para Yihuang, onde um de seus regimentos já está estacionado, e chegou a Gongbei no dia 14. A 27ª Divisão encontra-se concentrada em Yongfeng e Xingan.

C. Agora, estamos substituindo nossas táticas de assalto por ataques simulados contra o inimigo em Nanfeng, mantendo-o sob vigilância, a fim de eliminar seus reforços. Existe a possibilidade de o inimigo alterar novamente sua rota ofensiva. Considerando que nossos ataques vigorosos contra a cidade bem fortificada nos causariam baixas, esgotariam nossas forças e nos imobilizariam diante desta, o inimigo planeja enviar reforços para nos interceptar e impor combates sucessivos. Dessa forma, decidiu iniciar sua campanha de “aniquilamento” no dia 18.

D. Atualmente, nossas forças estão concentradas na região a oeste de Nanfeng e Litaxu, com a retaguarda resguardada pela Zona Soviética. Intensificamos os ataques simulados contra Nanfeng para induzir o inimigo a lançar sua campanha de “aniquilamento” pela rota originalmente planejada, permitindo-nos atacar primeiramente sua ala direita e exterminá-la.

E. O violento ataque a Nanfeng nos custou mais de 400 baixas.

VI. Telegrama de 2 de março

A. Nossas forças travaram uma batalha encarniçada contra o inimigo durante três dias e três noites. No terceiro dia, poderíamos ter ampliado nossa vitória aniquilando ou dispersando a 11ª Divisão inimiga, mas, devido às dificuldades impostas pelo terreno montanhoso, o qual dificultava a comunicação entre nossas unidades e a transmissão de ordens do quartel-general, nossas tropas, após liquidarem, no segundo dia de combate, a 52ª Divisão e a maior parte da 59ª, não conseguiram se posicionar favoravelmente para atacar a 11ª Divisão, que vinha como reforço, e, por conseguinte, não conseguimos encerrar completamente a batalha no dia de ontem, limitando-nos a prosseguir eliminando os remanescentes da 59ª Divisão. Ainda assim, nossa vitória foi sem precedentes. As três divisões da segunda coluna inimiga, que partiram ontem rumo a oeste para prestar reforço, podem chegar hoje a Xinfengshi, Dongbei e Huangbei, cortando nossa linha de retirada. Nesse caso, nos veríamos cercados, com o agravante de que o campo de batalha ainda não foi limpo, os soldados feridos não foram evacuados e as pilhas de suprimentos capturados continuam espalhados por toda parte. Por isso, decidimos nos retirar hoje, mesmo em meio à vitória, e recuamos para a região de Xiaobu, Nantuan, Dongshao e Shuikou, com o objetivo de nos reagrupar e nos preparar para novos combates.

B. Como consequência de nossa vitória, as unidades inimigas começaram a abandonar suas posições uma após a outra. Além das 11ª e 28ª Divisões, as quais já chegaram a Hekou, a 9ª Divisão deve chegar hoje a Xingfang, via Nancheng. A segunda coluna deslocou-se por Nanfeng, Litaxu e Xinfeng até a linha Yongxingqiao–Raofang, e se aproximará amanhã de Dongbei e Huangbei. Parte da terceira coluna ocupou Xiaoshi ontem. Hoje, a 5ª Divisão dirigiu-se para Longgudu. As 6ª e 79ª Divisões mudaram sua rota original, passando a se concentrar na margem oeste do rio Fuhe, nos arredores de Nancheng.

VII. Telegrama de 4 de março

A. Nos últimos dias, o inimigo está constrangido a uma passividade total. As três divisões de sua segunda coluna, que inicialmente pretendiam sair de Xinfengshi para interceptar nossa retirada, mudaram de rumo ao saber que as 52ª e 59ª Divisões haviam sido aniquiladas, marchando então em direção a Huangbei. Mais tarde, ao tomar conhecimento de que nossas tropas já haviam deixado Huangbei, a 14ª Divisão apressou-se em partir de Dangkou e Raofang rumo ao norte, dirigindo-se a Yankou, as 10ª e 90ª Divisões estacionaram em Chongwudu, a 11ª entrou em Huangbei e a 9ª chegou às pressas a Hekou. Hoje, todas permanecem imóveis. A 5ª Divisão da terceira coluna havia sido deslocada para Longgudu, mas recebeu hoje ordens para regressar a Nancheng via Yuekou. A terceira coluna já redirecionou sua marcha em direção a Nanfeng, e sua vanguarda deve chegar lá amanhã.

B. Ontem, uma brigada e um regimento inimigos da província de Fujian, sob comando de Liu Heding(12), adentraram a cidade de Taining. O Exército da Décima Nona Rota conta com a divisão de Ou Shounian e a brigada de Zhang Yan compondo sua ala direita, ambas concentradas em Yong’an no dia 3, e com as divisões de Shen Guanghan e Zhang Zhen integrando sua ala esquerda. A entrada da ala direita em Liancheng está prevista para o dia 8. Essa disposição foi planejada antes da batalha de Huangbei.

C. A força central comandada por Chen Cheng alterou seu curso de ataque. A primeira e segunda colunas (as quais atualmente são compostas por apenas cinco divisões) devem avançar em formação mais compacta em direção a Dongbei, Huangbei ou Xinfengshi, buscando um confronto decisivo contra nossa força principal na região de Dongshao e Hekou, enquanto a terceira coluna, que se redirecionou para Nanfeng, seguirá por Guangchang até Toubei e Dongshanba, com o objetivo de cortar nossa rota de retirada.

D. Depois de reunidas nossas forças (o I Grupo de Exércitos, encarregado de transportar os suprimentos capturados, precisa percorrer um trajeto relativamente longo, passando por Zhaoxia), planejamos escolher uma das alas inimigas e liquidá-la por meio de operações móveis.

VIII. Telegrama de 16 de março

A. Duas colunas inimigas vindas do norte, cada uma composta por três divisões, aproximaram-se uma da outra e adotaram a tática de intercalar-se no avanço em ondas, numa marcha de reconhecimento rumo ao sudeste. Hoje, da coluna dianteira, a 14ª Divisão chegou a Xinfengshi, a 90ª a Houfang e a 10ª a Caotaigang. Da coluna posterior, a 9ª Divisão chegou a Dongbei, a 5ª a Huangbei e a 11ª está em Ancha e Jiaohu. Quanto às reservas, a 79ª Divisão encontra-se em Yihuang, com dois regimentos em Hekou, a 6ª Divisão está em Fuzhou, a divisão de Xu Kexiang está inteira em Nancheng, a de Liu Shaoxian, entre Le’an e Chongren, e as demais unidades mantêm suas posições.

B. Ordenamos ao 11º Corpo que se coloque em marcha. Espera-se que, até o dia 18, fixe uma posição a noroeste de Guangchang, onde poderá, em coordenação com divisões e regimentos independentes, junto com as forças locais, conter e imobilizar a coluna dianteira inimiga, que avança sobre Guangchang. Deliberamos que nossas forças principais devem permanecer aguardando o momento oportuno para lançar um ataque de flanco contra a coluna posterior do inimigo, visando aniquilar, primeiro, suas unidades de retaguarda ainda em movimento, o que facilitará a destruição das forças inimigas, uma a uma, através de operações contínuas.

C. Ontem, nosso Exército da Frente se pôs em movimento, mas ainda aguarda o momento oportuno para entrar em ação, uma vez que as duas colunas inimigas permanecem excessivamente próximas uma da outra. No entanto, como se trata de uma batalha decisiva para o desenlace da quarta contracampanha, nosso Exército tomou a firme decisão de travá-la contra as três divisões inimigas sem poupar sacrifícios, tendo mobilizado e posicionado suas tropas com esse propósito.

IX. Telegrama de 20 de março

A. Informaremos sobre a situação do inimigo em outro telegrama.

Nosso 11º Corpo chegou às adjacências de Guangchang no dia 18. Segundo o nosso plano, a partir do dia 20, este coordenará as forças locais na contenção da coluna dianteira inimiga, que avança rumo a Guangchang, ao passo que sua força principal impedirá o recuo dessa coluna e a vinda de reforços, protegendo a retaguarda do nosso flanco direito.

B. Nossas tropas planejam lançar, ao amanhecer do dia 21, um ataque relâmpago para aniquilar, num único golpe, a 11ª Divisão inimiga, estacionada nas imediações de Caotaigang e Xuzhuang, prosseguindo então com o assalto sobre Dongbei e Wulipai.

C. Sob o comando de Dong e Zhu(13), a ala direita, composta pelo V Grupo de Exércitos, pelo 12º Corpo e pelos regimentos independentes de Yihuang, deverá atacar, com sua força principal, a retaguarda do flanco esquerdo das unidades inimigas em Caotaigang e Xuzhuang na madrugada do dia 21, enquanto parte de suas forças deterá o inimigo em Dongbei, a partir do monte Yaolanzhai. As manobras previstas são:

1) O 12º Corpo (acompanhado dos dois regimentos independentes de Yihuang) deverá chegar aos arredores de Xiefan ao entardecer do dia 20. No dia 21, tomará um atalho e atravessará o rio por um ponto apropriado a montante de Houfang, ocupará posições ao redor dos montes Linggeng e Sanjiaozhai, e lançará um ataque de flanco contra as forças inimigas em Houfang, Xuzhuang e Leigongsheng. Ao mesmo tempo, destacará parte de suas forças, junto do antigo regimento independente de Yihuang, para Shibei e monte Yaolanzhai, a fim de realizar operações de guerrilha contra o inimigo em Dongbei. O novo regimento independente deslocar-se-á à região sudoeste de Xinfengshi e destruirá a estrada leste–oeste (de modo a impedir o retorno do inimigo e o envio de reforços), resguardando nossa retaguarda do flanco direito.

2) O V Grupo de Exércitos deverá alcançar as cercanias de Duanxi no dia 20 e enviar destacamentos disfarçados para se aproximar de Houfang e empreender operações de guerrilha. Na madrugada do dia 21, atacará o inimigo em Houfang, Xuzhuang e Leigongsheng, contornando os montes Luoma e Pili.

D. Sob o comando de Peng e Teng(14), a ala esquerda, composta pelo III e pelo I Grupos de Exércitos, pelo 21º Corpo e pela 5ª Divisão Independente, deverá aniquilar rapidamente as forças inimigas nas redondezas de Caotaigang na madrugada do dia 21, lançando em seguida um assalto sobre o inimigo em Dongbei. As manobras previstas são:

1) O III Grupo de Exércitos destacará uma força de cobertura para ocupar a linha Jieshang–Monte Leimu no dia 20, garantindo que sua força principal possa alcançar os arredores de Dongbianling e Liangxi ao entardecer e, movendo-se do sudoeste para o nordeste, atacar o inimigo em Caotaigang na madrugada do dia 21.

2) O I Grupo de Exércitos enviará uma força de cobertura para ocupar posições no entorno de Sanxi no dia 20, de modo que sua força principal chegue à linha Daping–Xufang–Zhizhou ao entardecer e, deslocando-se de oeste para leste, lance, ao amanhecer do dia 21, um assalto às forças inimigas próximas de Tieshi’ao, cortando todo contato entre suas unidades em Dongbei e Caotaigang.

3) O 21º Corpo (sob comando direto de Lin(15) e Nie(16)) deverá destacar uma força de cobertura para ocupar, no dia 20, posições ao redor de Wangdu e Shangbao, protegendo sua força principal, que deverá chegar aos arredores de Guwangkeng e Qiuping ao entardecer, e, movimentando-se de oeste para leste, lançar um ataque ao inimigo em Dongbei na madrugada do dia 21.

4) A 5ª Divisão Independente (também sob comando direto de Lin e Nie) deverá sair de Wucheng na madrugada do dia 21 rumo ao monte Xiushan, lançando um ataque simulado, de norte a sul, contra as forças inimigas em Wulipai e mantendo guarnecida nossa ala esquerda.

E. A linha de demarcação entre os campos de batalha das duas alas vai de Dongbianling até o lado direito da estrada real de Dongbei (a própria estrada corresponde à ala esquerda).

F. O 22º Corpo atuará como reserva geral. No dia 20, permanecerá onde está, e, no dia 21, avançará pela ala esquerda, seguindo o I Grupo de Exércitos. Quando necessário, ficará sob o comando direto de Lin e Nie.

G. O Departamento Médico do I Grupo de Exércitos planeja instalar um hospital de campanha em Changluo, enquanto o do III Grupo de Exércitos pretende montar postos sanitários em Xuzhuang e Yinshui. A linha de contato com a retaguarda segue conforme previsto no plano de operações.

H. O Quartel-general planeja chegar amanhã (dia 21) às proximidades de Liangxi.