Ta Thu Thau: líder trotskista vietnamita

Ngo Van Xuyet

1990


Primeira edição: publicado em 1990 na revista Revolutionary History, vol.º 3, n.º 2.

Fonte para a tradução: seção espanhola do Arquivo Marxista na Internet.

Tradução: Rick Magalhães de Sá.

HTML: João Batalha.

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Ta Thu Thau nasceu em 6 de maio de 1906 em Tan Binh (Longxuyén, sul do Vietnã), sendo o quarto filho de uma família grande e muito pobre — seu pai era carpinteiro. Em 1925, começou a trabalhar como professor em Saigon. Aos 20 anos, juntamente com a maioria da juventude "educada", Ta Thu Thau — em uma experiência na qual chamou, posteriormente, de uma "loucura de sua juventude" — ingressou no grupo nacionalista Jovem Anam, que logo foi dissolvido pelo governo colonial francês (...)

Ta Thu Thau chegou à França em setembro de 1927, e matriculou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Paris. Juntou-se ao Dang Viet Nam Doc Lap (Partido pela Independência Anamita — PIA), e ficou responsável pelo trabalho de seu fundador Nguyen The Truyen, logo após esse ter retornado ao Vietnã.

A publicação mensal anticolonialista chamada Résurrection, que começou em dezembro do mesmo ano, teve uma curta duração; foi publicada por Ta Thu Thau em colaboração com Huynh Van Phuong. (...) Um panfleto escrito por Ta Thu Thau dizia: “De nossa abominável escravidão, lançamos um apelo a todos os oprimidos das colônias: ergam-se contra o imperialismo europeu – seja ele branco ou vermelho –, se querem conquistar para si uma parte deste mundo!”. Em março de 1929, Ta Thu Thau tentou em vão defender o PIA para evitar sua dissolução legal pelo tribunal distrital do Sena (Paris).

De 20 a 30 de julho de 1929, participou do Segundo Congresso da Liga Anti-Imperialista em Frankfurt (1). Nos círculos de esquerda em Paris, conheceu Felicien Challaye, Francis Jourdain e Daniel Guérin(2). Abandonou as convicções nacionalistas de seus primeiros anos e ingressou na Oposição de Esquerda Trotskista. Tinha 23 anos.

Logo após a revolta de Yen Bay(3), na noite de 9 para 10 de fevereiro de 1930, inspirada por Viet Nam Quoc Dan Dang (o Kuomintang anamita), Ta Thu Thau formulou sua perspectiva política em relação à revolução indochinesa no La Verité, órgão da Oposição de Esquerda em Paris (abril, maio e junho de 1930).

Aqui, Ta Thu Thau criticava a Terceira Internacional e o Partido Comunista Francês (PCF) por sua negligência em formar quadros marxistas e por sua abordagem empírica em relação à chamada “situação revolucionária contínua” na Indochina. Denunciava também a “falsa política da Internacional” – a política aventureira do Terceiro Período – cujo resultado foi que “os revolucionários proletários capitularam perante os partidos nacionalistas...” e que “a revolução chinesa havia sido levada ao túmulo”.

Em 22 de maio de 1930, os estudantes anamitas em Paris se mobilizaram nos Champs d’Elysées contra mais de 50 sentenças de morte ditadas contra os participantes da revolta de Yen Bay; Ta Thu Thau foi preso e, em 30 de maio, deportado da França para o Vietnã com 18 de seus compatriotas.

Quando o Toi Doi Lap trotskista clandestino (Oposição de Esquerda) foi formado em Saigon, aproximadamente no final de 1931, Ta Thu Thau foi um de seus fundadores. Mas o grupo logo se dividiu em três facções: Ta Thu Thau organizou o grupo Dong Duong Cong San (Comunismo Indochinês) – que, desde 1 de maio de 1932, publicava um boletim informativo mimeografado —, Vo San (O Proletário); e Huynh Van Phuong e Phan Van Chanh, que também estavam entre os deportados da França, publicaram diários de propaganda comunista sob o título de Ta Doi Lap Tung Tho (Publicações da Oposição de Esquerda). Outro deportado da França, Ho Huu Tuong, ao lado de outros opositores do Partido Comunista Indochinês, formaram o grupo Thang Muoi (Outubro)(4).

Esses grupos clandestinos foram prontamente abatidos por uma severa repressão. Quarenta e uma pessoas foram presas em Saigon e nas províncias Bacliêu, Baria, Giadinh e Soctrang. Preso em 8 de agosto de 1932, Ta Thu Thau foi solto com uma advertência em 21 de fevereiro de 1933, mas 15 ativistas foram sentenciados entre 4 meses e 5 anos de prisão no julgamento de 21 trotskistas em 1 de maio de 1933. (...)

Em 15 de novembro do mesmo ano, por iniciativa de um grupo de estudos de ex-alunos da França, Ta Thu Thau deu uma palestra sobre dialética a uma grande audiência de estudantes e trabalhadores reunidos em uma faculdade cooperativa. (...)

Procurado pelas autoridades devido a “atividade subversiva na imprensa”, ele recebeu uma sentença de dois anos de prisão com pena suspensa em 27 de junho de 1935, pena confirmada pelo tribunal de apelação em 10 de setembro do mesmo ano. Em 26 de dezembro de 1935, Ta Thu Thau – junto com outros três representantes eleitos da La Lutte – foi preso por pronunciar um discurso em apoio aos motoristas de tílburi que haviam entrado em greve, sendo todos soltos no dia seguinte. No processo movido contra o jornal La Lutte, em 18 de março de 1936, Ta Thu Thau foi multado em 500 francos pelo tribunal de Saigon. (...)

Foi formado um comitê para elaborar uma lista de reinvindicações democráticas para serem apresentadas ao governo da Frente Popular. O movimento de Congresso foi declarado ilegal em 19 de setembro de 1936, e Ta Thu Thau, que havia participado de sua comissão de legislação para os trabalhadores, foi preso junto com Nguyen Van Tao e Nguyen Na Ninh. Todos foram soltos depois de 11 dias de greve de fome, em 5 de novembro.

Em 1937, as greves industriais e as manifestações camponesas estouraram novamente. Ta Thu Thau voltou a ficar preso de 18 de maio a 7 de junho, e então foi condenado a dois anos de prisão no dia 9 de julho, pelo tribunal de Saigon, em uma sentença contra a qual recorreu. (...) Uma greve geral de trabalhadores ferroviários terminou com Ta Thu Thau sendo preso novamente em julho de 1937. Depois de uma greve de fome de 12 dias, foi levado de volta ao tribunal de Saigon em uma maca. Estava semi-paralisado. Ao mesmo tempo, foi condenado no dia 11 de novembro a cumprir uma sentença de dois anos adicionais; foi solto condicionalmente três meses antes do fim da condenação, em fevereiro de 1939, na véspera do ano novo anamita.

Trabalhando com seus camaradas trotskistas, Ta Thu Thau continuou a publicação do jornal Tranh Dau (antigo La Lutte, que surgiu na língua anamita a partir de outubro de 1938), apoiando a Quarta Internacional. A partir das páginas do jornal, ele lançou uma campanha para as eleições do Conselho Colonial, de 16 a 30 de abril de 1939(5), onde foi eleito com seus dois camaradas Tran Van Thach e Phan Van Hum(6). Seu programa incluía a oposição a um empréstimo nacional de 33 milhões de piastras que estava sendo arrecadado entre o povo “para a defesa da Indochina”, e isso colidia com a posição do Partido Comunista da Indochina – alinhado ao PCF – de que a França deveria colocar suas forças de segurança em estado de alerta, como consequência do pacto Laval-Stalin, de maio de 1935. (...)

Ta Thu Thau foi autorizado a deixar Saigon em 21 de agosto de 1939 para ir a Siam. Tinha a intenção de buscar tratamento médico por ali. Mas a guerra estourou, e foi preso e levado de volta a Saigon em 18 de outubro de 1939.

O jornal Tranh Dau foi um dos atingidos pela ordem de proibição de 26 de setembro de 1939, e o grupo de Ta Thu Thau estava entre os “grupos e associações comunistas” dissolvidos por decreto em outubro do mesmo ano. Em 16 de abril de 1940, ele foi condenado pelo tribunal de Saigon a cinco anos de prisão, dez anos de proscrição e dez anos de perda de direitos civis. Ta Thu Thau foi deportado ao campo de concentração da ilha de Con Dao em outubro de 1940. (...)

Depois de seu retorno do campo de concentração no final de 1944, Ta Thu Thau trabalhou para construir o Partido Socialista dos Trabalhadores (Dan Xa Hoy Tho Thuyen). (...) Em meados de 1945, ele chegou a Tonkín e estabeleceu contato com os militantes trotskistas da região de Dan Phuong, incluindo Luon Duc Thiêp, Khuong Huu Na e outros que estavam publicando o jornal Chien Dau (Combate), órgão do Partido Socialista dos Trabalhadores do norte do Vietnã.

Ta Thu Thau participou de reuniões clandestinas de operários e camponeses nas regiões mineiras de Nam Dinh, Haiphong e Hai Duong. Após a queda do Japão e da chegada ao poder de Ho Chi Minh, em agosto de 1945, Ta Thu Thau tinha esperança de voltar para o Vietnã do Sul, mas foi preso pelo Viet Minh em Quang Ngai e assassinado em setembro de 1945.(7) (...) Como pessoa, Ta Thu Thau era simpático e tinha grande compostura. Respondendo a uma intimação judicial do governador Pagès(8), em abril de 1937, declarou: “Sou um revolucionário, e revolucionário permanecerei enquanto correr sangue em minhas veias”.