O papel decisivo da juventude na construção do socialismo

Discurso no 8º Congresso do Komsomol(1)

Josef Stálin

16 de maio de 1928


Título Original: Речь на VIII Съезде ВЛКСМ.

Fonte Principal: Josef Stálin: Obras Completas, Volume 11 (Janeiro de 1928 – Março de 1929) — Instituto Marx-Engels-Lênin-Stálin do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevique) (PCUS-B), Moscou, 1947.

Consulta Auxiliar: Jornal “Pravda” (A Verdade), Edição 113 (3.945), 17 de maio de 1928, página 03.

Tradução e Adaptação: Thales Caramante.

HTML: João Batalha.

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Camaradas, a regra geral nesses congressos é falar sobre conquistas. E não há dúvida alguma de que nós temos vitórias para mostrar. Elas não são pequenas, é verdade, e não há motivo nenhum para escondê-las.

Porém, camaradas, ultimamente tem se falado tanto sobre esses sucessos — e, às vezes, com um tom tão meloso e exagerado — que a gente perde até a vontade de repetir o que já foi dito.

Sendo assim, permitam-me quebrar o protocolo. Quero dizer algumas palavras não sobre onde acertamos, mas sobre as nossas fraquezas e as tarefas que precisamos encarar por causa delas.

Refiro-me, camaradas, aos desafios da nossa construção interna. Esses desafios giram em torno de três questões fundamentais: a linha e direção do nosso trabalho político; a necessidade de aumentar a participação ativa das massas populares — e, em especial, da classe trabalhadora — na luta contra a burocracia; e, finalmente, a formação de novos dirigentes e quadros para a nossa economia.

I. Fortaleçam a vigilância da classe trabalhadora

Comecemos pelo primeiro ponto. A característica marcante deste momento é que, nos últimos cinco anos, temos construído o socialismo em condições de desenvolvimento pacífico. Não me refiro apenas à ausência de guerras com inimigos externos, mas também à ausência de elementos de uma guerra civil dentro do país. É a isso que chamamos de condições pacíficas para a nossa construção.

Vocês sabem que lutamos por três anos contra capitalistas do mundo todo para conquistar essas condições de paz. Nós as conquistamos e consideramos isso nossa maior vitória. Porém, camaradas, toda conquista, inclusive esta, tem seus lados negativos. As condições de paz não vieram de graça para nós. Elas deixaram sua marca no nosso trabalho positivo, na nossa gente e na psicologia de muitas pessoas. Nesses cinco anos, avançamos de forma suave, como em trilhos. Por conta disso, muitos dos nossos quadros criaram a ilusão de que tudo vai “como um trem expresso”, direto para o socialismo, sem baldeações ou paradas.

É nessa base “espontaneísta” que nasce a teoria do “deixa a vida me levar”, a ideia de que “tudo se ajeita” sozinho, que não temos mais classes, que nossos inimigos sossegaram e que tudo vai ocorrer como planejado. Isso gera uma atração por uma certa inércia, por uma soneca geral. Essa ideia de uma total hibernação, essa tendência à espontaneidade no trabalho, constitui o lado negativo do período de desenvolvimento pacífico.

Qual é o perigo de um sentimento como esse? O perigo é que ele cega a classe trabalhadora, impede-a de ver seus inimigos, adormece-a com conversas vaidosas sobre a fraqueza do inimigo e mina sua vigilância combativa.

Não podemos nos consolar achando que, porque o Partido tem um milhão de membros, o Komsomol tem dois milhões e os sindicatos, dez milhões, a vitória final sobre os inimigos está garantida. Isso é falso, camaradas. A História nos ensina que exércitos gigantescos pereceram justamente porque se tornaram arrogantes, confiaram demais na sua força e se entregaram à inércia e a letargia. Perderam a vigilância e, no momento crítico, foram pegos de surpresa.

O maior partido pode ser pego de surpresa, o maior partido pode perecer, se não prestar atenção nas lições da História, se não trabalhar dia após dia para forjar a vigilância combativa de sua classe. Ser pego de surpresa é a coisa mais perigosa, camaradas. Ser pego de surpresa significa cair vítima de “imprevistos”, vítima do pânico diante do inimigo. E o pânico leva à desagregação, à derrota e à ruína.

Eu poderia lhes dar muitos exemplos da vida dos nossos exércitos durante a Guerra Civil, onde pequenos destacamentos aniquilaram grandes formações militares, simplesmente porque estas últimas não estavam suficientemente mobilizadas e em vigilância. Posso lhes contar como, em 1920, três divisões de cavalaria, com não menos de 5 mil sabres, foram desbaratadas e postas em fuga desordenada por apenas um batalhão de infantaria. Por quê? Porque as divisões de cavalaria foram pegas de surpresa, entraram em pânico diante de um inimigo que desconheciam, que era pouquíssimo numeroso e que poderia ter sido varrido com um único golpe — se elas não estivessem em estado de inércia e, depois, de pânico e confusão.

O mesmo deve ser dito sobre o nosso Partido, nosso Komsomol, nossos sindicatos e nossas forças em geral. É um erro dizer que não temos mais inimigos de classe, que eles foram derrotados e liquidados. Não, camaradas, nossos inimigos de classe continuam a existir. E não apenas existem, mas estão crescendo e tentando atuar contra o Poder Soviético.

A crise de abastecimento de grãos que enfrentamos neste inverno prova isso, quando elementos capitalistas no campo tentaram sabotar a política do Poder Soviético.

O Processo de Shakhty(2) prova isso, sendo a expressão da ação conjunta do capital internacional e da burguesia em nosso país contra o Poder Soviético.

Inúmeros fatos na política interna e externa provam isso, fatos que vocês conhecem e sobre os quais não vale a pena me alongar aqui.

É impossível ficarmos calados sobre esses inimigos da classe trabalhadora. É criminosa a tentativa de subestimar a força dos inimigos de classe. Não podemos nos calar sobre isso, especialmente agora, no período de desenvolvimento pacífico, onde a teoria da inércia e do “deixa rolar” encontra um solo fértil para minar nossa vigilância combativa.

O imenso valor pedagógico do Processo de Shakhty e da crise de grãos é que eles sacudiram todas as nossas organizações, desmantelando a teoria do “deixa rolar” e sublinhando que os inimigos de classe existem, não dormem e é necessário fortalecer as forças da classe trabalhadora, sua vigilância, sua força revolucionária e sua mobilização massiva contra eles.

Daí a tarefa imediata do Partido, a linha política do seu trabalho diário: elevar a vigilância combativa da classe trabalhadora contra seus inimigos de classe.

É importante notar que este congresso do Komsomol, e especialmente o jornal “Komsomolskaya Pravda” (A Verdade do Komsomol), se aproximaram mais do que nunca dessa tarefa. Vocês veem que as falas dos oradores, assim como os artigos do jornal, destacam a importância deste objetivo. Isso é ótimo, camaradas. Só é preciso que essa não seja considerada uma tarefa temporária ou passageira, pois a tarefa de aumentar a vigilância do proletariado é a missão que deve permear todo o nosso trabalho enquanto houver classes em nosso país e enquanto estivermos sob o cerco capitalista.

II. Organizar a crítica em massa a partir da base

O segundo ponto é sobre a luta contra o burocratismo, a organização da crítica em massa das nossas falhas e a organização do controle popular vindo da base.

Um dos inimigos mais cruéis do nosso avanço é o burocratismo. Ele vive em todas as nossas organizações: nas do Partido, nas do Komsomol, nos sindicatos e nas instâncias econômicas. Quando falamos em burocratas, o pessoal costuma apontar o dedo para o antigo funcionário sem-partido, o que aparece nas nossas caricaturas de óculos. (Risos). Isso não é totalmente correto, camaradas. Se o problema fosse apenas os velhos burocratas, combater esse mal seria moleza, seria necessário apenas retirar-lhes os óculos. (Risos).

Acontece que o problema não está nos velhos burocratas. O problema, camaradas, são os novos burocratas, os simpatizantes do Poder Soviético e, sobretudo, os burocratas que são comunistas. O comunista-burocrata é o tipo mais perigoso. Por quê? Porque ele mascara seu burocratismo com o título de membro do Partido. E, infelizmente, temos muitos desses burocratas comunistas.

Vejam nossas organizações partidárias. Vocês devem ter lido sobre o Processo de Smolensk, o Processo de Artemovsk e outros. Isso é apenas coincidência? O que explica esses fatos vergonhosos de decomposição e desintegração moral em alguns setores das nossas organizações?

O fato é que levaram o monopólio do Partido ao absurdo, abafaram a voz da base, destruíram a democracia interna e implantaram o burocratismo.

Como podemos lutar contra esse mal? Eu acredito que não há, e não pode haver, outro meio de combate além de organizar o controle das massas do Partido vindo da base, e de implantar a democracia interna. O que se pode argumentar contra a ideia de despertar a fúria das massas do Partido contra esses elementos corruptos e dar-lhes a chance de chutar para fora essas pessoas? Quase nada se pode argumentar.

Ou, peguemos o Komsomol. Vocês certamente não negarão que, em alguns lugares, há elementos completamente corruptos cuja luta implacável é absolutamente necessária. Mas, deixando os corruptos de lado, considerem o recente fato das brigas mesquinhas e sem princípios em torno de indivíduos, uma luta que envenena o ambiente no Komsomol. Por que temos tantos “Kosarevistas” e “Sobolevistas” no Komsomol, mas precisamos procurar marxistas com uma vela na mão? (Aplausos). O que esse fato indica senão o processo de engessamento burocrático em algumas camadas da direção do Komsomol?

E os sindicatos? Quem negará que o burocratismo sobra nos sindicatos? Temos reuniões de produção nas empresas. Temos comissões de controle nos sindicatos. A missão dessas organizações é despertar as massas, expor nossas falhas e apontar caminhos para melhorar nossa construção. Por que essas organizações não se desenvolvem? Por que a vida não ferve nelas? Não está claro que o burocratismo nos sindicatos, somado ao burocratismo nas organizações do Partido, impede o desenvolvimento dessas organizações cruciais da classe trabalhadora?

Finalmente, nossas organizações econômicas. Quem negará que nossos órgãos econômicos não sofrem com a ausência de burocratismo? Tomemos o Processo de Shakhty, por exemplo. O Processo de Shakhty não demonstra que nossos órgãos econômicos não estão avançando, mas sim engatinhando e se arrastando?

Como podemos dar um basta ao burocratismo em todas essas organizações?

Para isso, só existe um único caminho: a organização do controle vindo da base, a organização da crítica das milhões de massas da classe trabalhadora contra o burocratismo das nossas instituições, contra suas falhas e seus erros.

Eu sei que, ao despertar a fúria das massas trabalhadoras contra as distorções burocráticas, teremos que, às vezes, incomodar camaradas com méritos no passado, mas que agora sofrem da doença burocrática. Mas será que isso pode paralisar nosso trabalho de organizar o controle vindo da base? Eu penso que não pode e não deve.

Por méritos antigos, devemos nos curvar em respeito a eles, mas por novos erros e por burocratismo, podemos muito bem lhes dar um chacoalhão! (Risos e Aplausos). E por que não? Se é isso que os interesses da causa exigem!

Fala-se em crítica vinda de cima, da Inspeção Operário-Camponesa, do Comitê Central do Partido, do Birô Político etc. Tudo isso, é claro, é bom. Mas está longe de ser suficiente. Mais ainda, o principal agora não é isso. O principal agora é despertar a mais ampla onda de crítica vinda da base contra o burocratismo em geral e, em particular, contra as falhas do nosso trabalho. Somente organizando uma pressão dupla — de cima e principalmente de baixo —, e mudando o centro de gravidade para a crítica da base, podemos contar com sucesso na luta para erradicar o burocratismo.

Seria um erro pensar que apenas os dirigentes possuem experiência na construção do Partido e do socialismo. Não é verdade, camaradas. As milhões de massas trabalhadoras, que estão construindo nossa indústria, acumulam dia após dia uma imensa experiência valiosa, que não tem valor menor que a experiência dos líderes. A crítica em massa vinda da base, o controle da base, é necessário, entre outras coisas, para que essa experiência das milhões de massas não seja desperdiçada, para que ela seja considerada e posta em prática.

Daí a tarefa urgente do Partido: a luta impiedosa contra o burocratismo, a organização da crítica em massa vinda da base, e a consideração dessa crítica nas decisões práticas para eliminar as nossas falhas.

Não se pode dizer que o Komsomol, e especialmente o jornal Komsomolskaya Pravda, não tenham compreendido a importância dessa tarefa. A falha aqui é que, muitas vezes, a execução dessa tarefa não é levada até o fim. E para levá-la até o fim, é preciso levar em conta não apenas a crítica, mas os resultados da crítica e as melhorias que são implementadas na prática por causa dela.

III. A juventude precisa dominar a ciência

A terceira tarefa diz respeito à organização de novos quadros para a construção socialista.

Temos diante de nós, camaradas, a gigantesca tarefa de reestruturar toda a nossa economia nacional. Na agricultura, precisamos lançar as bases de uma grande economia coletiva e social. Pelo informe do camarada Vyacheslav Molotov, vocês devem saber que o Poder Soviético estabeleceu a tarefa dificílima de unir as pequenas e dispersas fazendas camponesas em kolkhozes, criando grandes e novas fazendas soviéticas produtoras de grãos. Não há avanço sério e rápido sem resolver essa questão.

Enquanto na indústria o Poder Soviético se apoia na maior produção concentrada, na agricultura ele se apoia na economia camponesa mais dispersa e fragmentada. Essa economia semi-mercantil fornece muito menos grãos para o mercado do que a agricultura pré-guerra, mesmo tendo atingido os níveis de área plantada. Esta é a base de todas as possíveis dificuldades futuras no abastecimento de grãos.

Para sair dessa situação, precisamos investir firmemente na organização da produção social de grande escala na agricultura. Mas, para organizar uma grande fazenda, é preciso dominar a ciência agrícola. E para dominar, é preciso estudar.

Temos uma quantidade vergonhosamente pequena de pessoas que dominam a ciência agrícola. Daí a urgência de criar novos quadros, novos agrônomos, oriundos da juventude, para construir essa nova agricultura kolkhoziana coletiva.

Na indústria, estamos muito melhor, mas mesmo aqui a falta de novos quadros especialistas freia nosso avanço. Basta lembrar o Processo de Shakhty para entender a gravidade da falta de novos quadros para a indústria socialista. Claro, temos especialistas mais antigos, mas: são poucos, nem todos querem construir a nova indústria, muitos não compreendem as novas tarefas da construção socialista acelerada, uma boa parte já está velha, pendurando as chuteiras, saindo da linha de produção. Para avançarmos, precisamos criar rapidamente novos quadros de especialistas vindos da classe trabalhadora, de comunistas, de membros do Komsomol.

Não faltam voluntários para construir e dirigir, tanto na agricultura quanto na indústria. Mas faltam vergonhosamente pessoas que saibam construir e dirigir. Pelo contrário, a ignorância é vasta nesse campo. Mais ainda: há gente que está disposta a celebrar nossa falta de cultura... Se você é ignorante, analfabeto, escreve errado e se gaba do seu atraso, você é o “operário da base”, portanto, merece honra e respeito. Porém, se você vence a falta de cultura, domina a ciência, você é um “estranho”, alguém que se “isolou” das massas, que deixou de ser operário.

Eu digo a vocês: não daremos um passo à frente enquanto não extirparmos essa barbárie e essa atitude selvagem em relação à ciência e às pessoas cultas. A classe trabalhadora não pode ser a verdadeira dona do país se não conseguir vencer a falta de cultura, se não for capaz de criar sua própria intelectualidade, se não dominar a ciência e não souber administrar a economia com princípios completamente lógicos e científicos.

É preciso entender, camaradas, que as condições de luta são diferentes das da Guerra Civil. Naquele período, podíamos tomar as posições do inimigo no ímpeto, na coragem, na carga de cavalaria. Hoje, na construção econômica pacífica, uma carga de cavalaria só estraga o negócio. Coragem e bravura continuam necessárias, é claro. Mas só com coragem e bravura não se chega longe. Para vencer o inimigo agora, é preciso saber construir indústria, agricultura, transporte, comércio; é preciso abandonar a atitude arrogante e esnobe em relação ao comércio.

Para construir, é preciso saber. Para saber, é preciso dominar a ciência. E para dominar, é preciso estudar. Estudar com obstinação, com paciência. Aprender com todos — com amigos e com inimigos, especialmente com os inimigos. Aprender cerrando os dentes, sem temer que os inimigos riam de nós, da nossa ignorância, do nosso atraso.

Há uma fortaleza à nossa frente. Essa fortaleza se chama Ciência, com seus inúmeros ramos de conhecimento. Devemos tomar essa fortaleza custe o que custar. Essa fortaleza deve ser tomada pela juventude, se ela deseja ser a construtora da nova vida, se ela quer ser a substituta legítima da velha guarda.

Não podemos mais nos limitar a formar quadros comunistas em geral, quadros bolcheviques em geral, que saibam “falar um pouco de tudo”. O diletantismo e o “saber de tudo” são grilhões para nós agora. Hoje, precisamos de bolcheviques-especialistas em metalurgia, em têxteis, em combustível, em química, em agricultura, em transporte, em comércio, em contabilidade etc. Precisamos de grupos inteiros, centenas e milhares de novos quadros bolcheviques que possam ser mestres e doutores em seus ofícios nas mais variadas áreas do saber. Sem isso, não há como falar em um ritmo rápido de construção socialista. Sem isso, não há como falar em alcançar e superar os países capitalistas avançados.

Dominar a ciência, forjar novos quadros bolcheviques especialistas em todos os ramos do saber, aprender, aprender, aprender com a maior persistência — essa é a nossa tarefa agora.

Uma marcha em massa da juventude revolucionária em busca da ciência — é disso que precisamos, camaradas!

(Todos se levantam e dão fortes aplausos e gritam palavras de ordem: “Viva!”, “Bravo!”).