O nacionalismo brasileiro é a expressão do patriotismo do nosso povo, reflexo dos seus sentimentos e aspirações à liberdade e à abolição do domínio imperialista sobre o país. Ele é o resultado de condições históricas determinadas, que lhe dão forma e configuram seus elementos essenciais.
Uma vez que o desenvolvimento econômico independente do Brasil é tolhido, em virtude da ação refreadora e asfixiante do imperialismo norte-americano, o conteúdo do nacionalismo brasileiro é nitidamente antiimperialista.
Há países em que o nacionalismo tem significação diversa, variando do fascismo ao chauvinismo aberto. Não é o caso do nacionalismo brasileiro, que jamais poderá ser identificado com o nacionalismo dos “Camelots du Roi”, da “Action Française” ou de Chiang Kai-chek, marcados pela traição ao povo.
O nacionalismo brasileiro é o oposto da tendência às concessões aos imperialistas, concessões sempre prejudiciais aos interesses da nação brasileira.
Quando se entrega aos Estados Unidos a Ilha de Fernando de Noronha, alienando uma parcela do território pátrio, é o nacionalismo brasileiro que se ergue como uma barreira na preservação de nossa soberania. A defesa da Petrobrás, dos minérios atômicos ou da indústria nacional, o esforço pela industrialização do país, a luta pelo desenvolvimento independente da economia nacional, são aspectos concretos do nacionalismo brasileiro.
No conjunto destes problemas que dizem de perto com a causa da independência e do progresso da nossa pátria, não se pode deixar de ver a intensidade e a complexidade das contradições que atuam no país. O que em tudo isso se destaca, porém, é a evidência da contradição dominante, relevada no antagonismo entre o imperialismo norte-americano e seus agentes internos, de um lado e, de outro lado, a maioria da nação. Esta contradição condiciona o desenvolvimento cada vez maior do nacionalismo brasileiro, a sua contagiante influência sobre todos os setores e camadas da população brasileira.
Os partidos políticos, o parlamento, as forças armadas, o aparelho judiciário do Estado, mesmo setores governamentais, são atingidos pelos efeitos do nacionalismo. Ao seu influxo surgem alas nos partidos políticos, dividem-se as forças políticas da nação. A tendência é para a polarização dessas forças, para o agrupamento, num polo, daqueles que propugnam pelos interesses da nação e, em outro, da minoria que os contradita.
O nacionalismo brasileiro é o herdeiro das tradições patrióticas de nosso povo, onde sobressaem um Camarão, um Henrique Dias ou Luís Barbalho, de quem dizia o historiador Handelmann, conduzira as tropas brasileiras por entre os invasores holandeses numa “retirada como há poucas iguais na história das guerras”. O nacionalismo brasileiro é o prolongamento no espaço e no tempo das ideias e ações que presidiram aos episódios marcantes da história da luta pela nossa libertação e salvaguarda de nossa soberania. É impossível compreendê-lo sem levar em conta antecedentes como a expulsão dos holandeses e franceses, a guerra dos emboabas e a dos mascates, a revolta de 1720, a Inconfidência Mineira e as lutas da Independência, bem como a atitude de Floriano ameaçando receber à bala o desembarque de tropas estrangeiras no país.
Os comunistas estão entre os pioneiros do nacionalismo brasileiro e das lutas patrióticas de nosso povo. O Partido Comunista do Brasil foi em 1937 o incentivador da siderurgia, pela qual batalhou ao lado de um destacado representante da burguesia nacional, o engenheiro Raul Ribeiro. O Partido Comunista do Brasil é um dos organizadores da luta de massa em defesa do petróleo. Os comunistas enfrentavam com o povo na rua as balas da polícia quando falar em petróleo era expor-se às iras da reação. Pioneiros da descoberta do petróleo, como Oscar Cordeiro, Monteiro Lobato e outros, sempre encontraram firme apoio nos comunistas. Ao contrário do que pretendem insinuar alguns, a contribuição dos comunistas foi decisiva no Parlamento para dar à legislação da Petrobrás um caráter nítidamente nacionalista.
Carece de qualquer fundamento a acusação que se faz de incompatibilidade entre o Partido Comunista do Brasil e o nacionalismo brasileiro. Para desfazer essa invencionice basta relembrar o trabalho de Lênin “A propósito das nacionalidades ou da autonomia” (ver “Cahiers du Communisme”, nº 8-9, de agosto-setembro de 1956, pg. 949), em que ele diz:
“Colocar a questão do nacionalismo em geral não vale absolutamente nada. É preciso distinguir o nacionalismo da nação opressora do nacionalismo da nação oprimida, o nacionalismo da grande nação do nacionalismo da pequena”.
É o nacionalismo da nação oprimida que vemos no nacionalismo brasileiro e por isso com ele nos identificamos. Como partido da classe operária, encarnamos as aspirações do nosso proletariado, que se confundem com as aspirações da nação brasileira e se identificam simultaneamente com os interesses do proletariado em todo o mundo. Eis porque não podemos separar o internacionalismo proletário do patriotismo. Não desejamos para os outros povos o que não queremos praticado contra o nosso. Repelimos o nacionalismo da nação opressora, o nacionalismo daqueles que objetivam impor sua dominação aos outros povos. Estamos com o nacionalismo da nação oprimida, que só almeja libertar-se e não aspira a dominar ninguém. O internacionalismo proletário não está e jamais esteve em contradição com o patriotismo. Um e outro se completam, são o verso e o reverso da mesma moeda.
Igualmente destituído de fundamento é o suposto antagonismo entre o nacionalismo brasileiro e a livre iniciativa. Como um fenômeno objetivo, o nacionalismo brasileiro opõe-se fundamentalmente ao imperialismo norte-americano, cujos capitais e empresas, acordos e tratados concluídos com o Brasil entravam o desenvolvimento independente do país e ameaçam sua soberania. Contrapondo-se ao imperialismo norte-americano, o nacionalismo brasileiro preservou o nosso petróleo com o monopólio estatal, não por ser sempre e rigorosamente contra a livre iniciativa, mas por ser aquele o melhor meio de defendê-lo da cobiça dos trustes.
Quanto ao apoio dos comunistas ao nacionalismo brasileiro, não há nada a temer. Os comunistas são pela liberdade de iniciativa para os industriais e para o comércio interno com a garantia dos interesses da economia nacional e do bem-estar do povo. Não se propõem a tocar nas bases econômicas da burguesia brasileira nem pretendem, na etapa histórica de luta pela libertação do jugo do imperialismo norte-americano e das sobrevivências feudais, realizar a socialização dos meios de produção.
O nacionalismo brasileiro é um fator da luta emancipadora de nosso povo. Ele constitui o importante fator nacional que sempre existe nos países coloniais e dependentes e que no Brasil não pode ser menosprezado. É em atenção a este fator que precisamos trabalhar com redobrada energia contra a energia da Ilha de Fernando de Noronha aos Estados Unidos e simultaneamente apoiar e estimular o crescente movimento nacionalista no país.