Durante quase dois anos, Stálin esteve recluso entre a prisão e o exílio. Nesse ínterim, o movimento revolucionário avançava continuamente em território russo. O 2º Congresso do POSDR fora realizado, consolidando a vitória teórica e política do marxismo sobre o “economismo”. Contudo, os velhos oportunistas, os “economistas”, uma vez derrotados e ideologicamente esmagados pela força revolucionária do Partido, logo seriam substituídos por uma nova variante do oportunismo, mais articulada e insidiosa: o menchevismo. Após o Congresso, Lênin e os bolcheviques desencadearam uma luta ideológica intensa e intransigente contra essa nova corrente oportunista, confrontando tanto suas formulações doutrinárias como suas tentativas sistemáticas de dividir, paralisar e desorganizar o Partido. Com a eclosão da guerra entre o Império Russo e o Japão, somada à aproximação inevitável da tormenta revolucionária de 1905, essa luta assumiu contornos ainda mais agudos e decisivos. Para Lênin, apenas um novo Congresso — o 3º Congresso do POSDR — poderia resolver a crise interna que se abatia sobre o Partido, e a convocação desse congresso passou a ser, então, a tarefa central e imediata dos bolcheviques.
Na região do Cáucaso, Stálin se destacou como o mais fiel e ativo colaborador de Lênin na campanha pela convocação do 3º Congresso. À frente da organização bolchevique na Transcaucásia, concentrou toda sua energia na luta ideológica contra o menchevismo. Integrante do Comitê Caucasiano do POSDR, Stálin — junto a Mikhail Tskhakaya — exerceu de fato a direção política da organização regional. Incansável, ele percorria periodicamente diversas localidades da Transcaucásia, entre as quais se destacam Batumi, Chiaturi, Kutais, Tiflis, Baku, bem como os distritos rurais da Geórgia Ocidental, onde se dedicava à consolidação das antigas células do Partido e à fundação de novas organizações revolucionárias. Em todas essas frentes, participava ativamente dos debates acalorados com os mencheviques e outros representantes das tendências antimarxistas, sempre defendendo com firmeza os princípios teóricos e políticos do bolchevismo, e desmascarando as artimanhas oportunistas e a natureza conciliadora daqueles que buscavam a conciliação com os inimigos de classe.
Sob a direção de Stálin e Prokofy Dzhaparidze, em dezembro de 1904, os trabalhadores de Baku protagonizaram uma imponente greve, que se estendeu de 13 a 31 daquele mês e culminou na assinatura de um acordo coletivo com os proprietários das empresas petrolíferas — o primeiro do gênero na história do movimento operário russo. Tal greve representou não apenas uma vitória tática do proletariado de Baku, mas também um prenúncio da onda revolucionária que, pouco depois, se espalharia por toda a Rússia. Como afirmou o próprio Stálin, ela serviu de “sinal para as ações gloriosas de janeiro e fevereiro” do ano seguinte.
Segundo o relato contido na obra “História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS”, “essa greve irrompeu como um trovão, anunciando a grande tempestade revolucionária que se avizinhava”.
Stálin prosseguiu sua ação com perseverança e destreza, empenhando-se integralmente na difusão e consolidação das concepções leninistas entre as massas trabalhadoras, ao mesmo tempo em que organizava a campanha pela convocação do 3º Congresso do POSDR. Durante esse período, o Comitê Caucasiano manteve uma correspondência constante com Lênin, sendo Stálin o principal dirigente da luta ideológica e política dos bolcheviques no Cáucaso contra os mencheviques, os socialistas-revolucionários, os nacionalistas e os anarquistas. Um dos instrumentos mais eficazes nessa batalha de ideias foi a literatura partidária bolchevique: jornais, panfletos, livros e folhetos impressos clandestinamente, cuja produção atingiu níveis inéditos sob o regime czarista — esforço esse devido, em larga medida, à iniciativa e à direção de Stálin.
Um dos empreendimentos mais audaciosos da União Caucasiana do POSDR, verdadeiro modelo da técnica bolchevique de trabalho conspirativo, foi a gráfica tipográfica clandestina de Avlabar, localizada em Tiflis, que operou de novembro de 1903 a abril de 1906. Nessa gráfica tipográfica foram impressos importantes documentos políticos e teóricos, tais como “As ‘Comunas Revolucionárias’ e a Ditadura Revolucionária Democrática do Proletariado e do Campesinato”, de Lênin; “Algumas palavras sobre as divergências no Partido”, “Dois Choques” e outros panfletos de Stálin, além do programa e dos estatutos do Partido, dezenas de folhetos e as edições dos jornais Proletariatis Brdzola (A Luta do Proletariado) com o suplemento Proletariatis Brdzolis Purtseli (A Folha de Luta do Proletariado). Todo esse material era publicado em três idiomas, em tiragens que chegavam a vários milhares de exemplares.
Dentre as armas fundamentais na defesa dos princípios do bolchevismo e na propagação criadora das ideias de Lênin na Transcaucásia, destacou-se o jornal Proletariatis Brdzola, dirigido por Stálin e reconhecido como o órgão central da União Caucasiana do POSDR — digno herdeiro do jornal Brdzola (A Luta). Por sua extensão e qualidade teórica, esse periódico só era superado pelo Proletary, órgão central do Partido, editado por Lênin. Praticamente todos os números de Proletariatis Brdzola reproduziam textos de Lênin, retirados do Proletary (O Proletário). Mas também contavam com contribuições originais de Stálin, cujos artigos o revelavam como um polemista talentoso, teórico marxista de grande envergadura, dirigente político proletário e discípulo fiel de Lênin. Nesses textos, ele abordava com precisão e profundidade diversos problemas teóricos e políticos, desmascarando as ilusões ideológicas e a traição oportunista das correntes antibolcheviques. Cada intervenção sua representava um golpe certeiro contra o inimigo de classe, combinando análise crítica e força combativa. Lênin, por sua vez, não deixou de prestar tributo ao Proletariatis Brdzola, reconhecendo sua coerência marxista e seu valor literário elevado.
Como o mais ardoroso discípulo de Lênin e o mais inflexível defensor de sua linha revolucionária, Stálin exerceu um papel dirigente na derrota do menchevismo no Cáucaso, ao mesmo tempo em que consolidava os fundamentos ideológicos, organizacionais e táticos do Partido marxista. Seus escritos desse período constituem uma expressão exemplar da fidelidade criadora ao pensamento leninista, marcados por profunda penetração teórica e hostilidade ao oportunismo. Seu panfleto “Algumas palavras sobre as divergências no Partido”, suas duas “Cartas de Kutais” e o artigo “Resposta ao ‘Sotzial-Demokrat’” permanecem como monumentos de combate ideológico, nos quais se afirmam com vigor os princípios revolucionários do Partido do proletariado.
As célebres “Cartas de Kutais” (escritas entre setembro e outubro de 1904) constituem uma crítica contundente aos artigos de Plekhanov publicados no Novo-Iskra, nos quais este se afastava das posições fundamentais de Lênin, chegando mesmo a discordar da obra “O Que Fazer?”. Em oposição firme a tal desvio, Stálin reafirma com clareza e coerência as teses leninistas sobre a relação entre espontaneidade e consciência no movimento operário. Assim se expressa:
A conclusão prática que se deve extrair disso é a seguinte: é preciso elevar o proletariado ao nível da consciência plena de seus interesses de classe, da consciência do ideal socialista; mas jamais fragmentar esse ideal em moedas miúdas nem o adaptar às flutuações espontâneas do movimento. Lênin foi quem estabeleceu o fundamento teórico sobre o qual se ergue essa dedução prática. Basta aceitar essa premissa teórica para barrar qualquer forma de oportunismo. Eis o sentido profundo da concepção de Lênin. A ela dou o nome de leninista porque ninguém, na literatura russa, a formulou com a mesma nitidez e rigor com que Lênin o fez.
Em consonância com esse espírito, o panfleto “Algumas palavras sobre as divergências no Partido” — redigido no início de 1905 e publicado clandestinamente em maio do mesmo ano — representa uma das mais lúcidas contribuições de Stálin ao pensamento bolchevique. Essa obra mantém um vínculo estreito com o clássico leninista “O Que Fazer?”, cujas ideias fundamentais não apenas sustenta com firmeza, mas também desenvolve com profundidade.
Ampliando as teses de Lênin, Stálin argumenta, no referido panfleto, que a consciência socialista é o elemento central e imprescindível para o movimento operário. Todavia, adverte contra o erro simétrico, isto é, a tendência idealista de superestimar unilateralmente a consciência e negligenciar as condições econômicas objetivas e o papel concreto do movimento real da classe trabalhadora. Interrogando-se de forma crítica, escreve:
Poderíamos afirmar que o socialismo é tudo e o movimento operário, nada? É evidente que não! Somente os idealistas dizem semelhante coisa. Um dia, num futuro remoto, o desenvolvimento econômico — por sua própria lógica objetiva — inevitavelmente conduzirá a classe operária à revolução social, forçando-a a romper com a ideologia burguesa. O único problema é que esse caminho seria demasiadamente longo e penoso.
Após examinar minuciosamente a questão da relação dialética entre o movimento operário espontâneo e a consciência socialista, abordando-a sob múltiplos aspectos e ângulos, Stálin sintetiza a concepção leninista nos seguintes termos:
O que é o socialismo científico sem o movimento operário? — Uma bússola que, se não for utilizada, enferrujará e acabará lançada ao mar.
O que é o movimento operário sem o socialismo? — Um navio à deriva, sem bússola, que até poderia alcançar a outra margem, mas o faria com muito mais lentidão e risco.
Combinar ambos é construir uma embarcação robusta, que navegará com segurança até o porto desejado.
Unir o movimento operário ao socialismo é forjar um movimento social-democrata genuíno, que marchará diretamente rumo à terra prometida.
A história posterior da luta de classes na Rússia viria a confirmar, com eloquência, a justeza dessa formulação teórica. Nesse panfleto fundamental, Stálin demole as premissas do oportunismo centrado na teoria da espontaneidade e, em contrapartida, oferece uma análise sólida e materialista sobre o papel histórico de um partido revolucionário e da teoria revolucionária para a emancipação do proletariado.
O movimento operário, — escreve Stálin, — deve ser inseparavelmente vinculado ao socialismo; a prática revolucionária e o pensamento teórico devem fundir-se em unidade orgânica, de modo a imprimir ao movimento espontâneo da classe operária um caráter autenticamente social-democrata.
[...] Nosso dever, enquanto social-democracia, consiste em afastar o movimento operário do caminho restrito do sindicalismo para orientá-lo no rumo político do socialismo revolucionário. É nosso encargo introduzir a consciência socialista nesse movimento e unir as forças progressistas do proletariado num partido centralizado e disciplinado. Nossa tarefa histórica é manter-nos sempre à frente do movimento, combatendo incansavelmente todos aqueles — sejam inimigos declarados ou “amigos” disfarçados — que se interponham no caminho dessa tarefa grandiosa.
Os escritos de Stálin, desde seus primeiros passos no campo da teoria e da tática revolucionária, encontraram ressonância e aprovação plena por parte de Lênin. Ao comentar, no número 22 do Proletary, o artigo de Stálin “Resposta ao ‘Sotzial-Demokrat’”, publicado originalmente no Proletariatis Brdzola em agosto de 1905, Lênin destacou, com reconhecimento explícito, a “excelente formulação da célebre questão da ‘introdução da consciência de fora’”, reafirmando, assim, a consonância teórica entre os dois dirigentes bolcheviques.
Stálin, nesse período, publicou uma série de artigos em defesa da linha revolucionária consolidada por Lênin no 2º Congresso do POSDR e nos embates subsequentes. Em “A Classe dos Proletários e o Partido dos Proletários” — artigo publicado no Proletariatis Brdzola, número 08, em 1º de janeiro de 1905 — Stálin debruça-se sobre o primeiro parágrafo dos Estatutos do Partido, defendendo com firmeza os princípios organizativos do bolchevismo e aprofundando as ideias lançadas por Lênin em sua obra fundamental “Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás’”. Neste texto, refutando concepções liberais de organização e reiterando o caráter disciplinado do partido de novo tipo, Stálin escreve:
Até então, nosso Partido assemelhava-se a uma família patriarcal hospitaleira, disposta a acolher todos os que manifestassem simpatia. Mas agora, tendo-se tornado uma organização centralizada, ele rompeu com sua forma patriarcal e transformou-se, sob todos os aspectos, numa fortaleza, cujos portões só se abrem àqueles que demonstraram ser dignos. Isso possui importância decisiva para nós. Num momento em que a autocracia procura corromper a consciência de classe do proletariado por meio do “sindicalismo”, do nacionalismo, do clericalismo e outras formas de influência ideológica burguesa, e quando, paralelamente, a intelectualidade liberal se empenha persistentemente em subjugar a autonomia política do proletariado, impondo-lhe sua tutela ideológica, torna-se imperativo que permaneçamos vigilantes. Devemos lembrar constantemente que nosso Partido é uma fortaleza, e que apenas os comprovadamente testados devem ter acesso a seus portões.
Outro artigo notável de Stálin nesse mesmo período é “Como a social-democracia considera a questão nacional?” (Proletariatis Brdzola, número 07, 1º de setembro de 1904), onde realiza uma crítica profunda à política nacional do POSDR. Nesse texto, Stálin desmonta o princípio oportunista da fragmentação do proletariado em seções nacionais e defende a unidade internacionalista da classe trabalhadora. Nessa intervenção, ele já se apresenta como um teórico de destaque sobre a questão nacional, demonstrando pleno domínio do método dialético-materialista, e antecipa as formulações que posteriormente cristalizaria em sua obra maior “O Marxismo e a Questão Nacional”.
Durante a Primeira Revolução Russa (1905), Stálin destacou-se por sua firme adesão à estratégia revolucionária elaborada por Lênin, em especial no que diz respeito à hegemonia do proletariado como força dirigente do processo revolucionário. Às vésperas do 9 de janeiro, dirigindo-se aos liberais — cuja posição não era de ruptura revolucionária, mas de conciliação com o czarismo — Stálin escreveu:
Sim, senhores, são vãos os vossos esforços! A revolução russa é inevitável. Tão inevitável quanto ao nascer do sol! Porventura podeis impedir o sol de erguer-se no horizonte? A força dirigente desta revolução é o proletariado urbano e rural, seu estandarte é o POSDR, e não vocês, senhores liberais!
Com idêntico vigor, Stálin apoiou a tática leninista da insurreição armada como meio necessário para o derrubamento da autocracia czarista e o estabelecimento de uma república revolucionária. Em seus escritos do período de 1905 a 1907, a necessidade da insurreição é tratada com exaustiva clareza, não como um simples evento espontâneo, mas como uma operação organizada e tecnicamente preparada. Escreve ele: “A salvação do povo reside na insurreição vitoriosa do próprio povo.”
À semelhança de Lênin, Stálin atribuiu importância estratégica à preparação técnica e organizacional da insurreição: à formação de destacamentos armados, à obtenção de armamentos e à criação de mecanismos eficazes de ação combativa. Assim formulou:
É a preparação técnica e a organização da insurreição em escala nacional que constituem as novas tarefas colocadas pela vida diante do proletariado.
Nesse contexto, Stálin desempenhou papel dirigente na Transcaucásia, orientando cotidianamente as organizações bolcheviques locais na preparação concreta para o levante armado.
Além disso, ele desenvolveu e aprofundou a concepção de Lênin a respeito do governo revolucionário provisório, concebendo-o como produto direto e inevitável da vitória de uma insurreição popular. Para Stálin, sendo o proletariado e o campesinato as classes chamadas a liderar tal levante, o governo provisório deveria expressar seus interesses históricos e de classe. Nesse sentido, somente uma ditadura revolucionária do proletariado e do campesinato seria capaz de suprimir a reação contrarrevolucionária, armar o povo, aplicar o programa mínimo do POSDR e consolidar a vitória política da revolução.
Se o proletariado consciente é o dirigente da revolução, — escreveu Stálin, — e se deve participar ativamente da organização da insurreição, então é evidente que não podemos lavar as mãos diante da questão do governo provisório revolucionário. Devemos conquistar o poder político junto ao campesinato e integrar o novo governo. Aquele que lidera as ruas deve também dirigir o governo da revolução.
Na luta encarniçada contra os múltiplos inimigos do Partido Bolchevique e da classe operária russa, Stálin destacou-se como um defensor firme, disciplinado e criador da teoria da revolução de Lênin e de seu plano tático. O mérito incontestável desse plano residia, precisamente, em sua notável adequação às condições concretas da Rússia czarista, na medida em que soube galvanizar as amplas massas populares para a ação revolucionária, infundindo nelas confiança na vitória e impulsionando decisivamente o avanço da revolução.
O Comitê Caucasiano do POSDR, sob a direção de Stálin, propagou incessantemente as resoluções do 3º Congresso do Partido, convocando trabalhadores e camponeses à insurreição armada. Os panfletos de Stálin, redigidos ao longo de 1905, constituem modelos de agitação e propaganda bolchevique dirigida ao povo. Em textos como “A Insurreição Armada e a Nossa Tática”, “O Governo Revolucionário Provisório e a Social-Democracia”, “Fortalece-se a Reação”, entre outros, Stálin desferiu críticas destruidoras às teses conciliadoras dos mencheviques e reafirmou, com veemência, a necessidade objetiva e histórica de uma insurreição armada nacional.
A greve geral de outubro de 1905 revelou o vigor e a capacidade de mobilização do proletariado russo, a tal ponto que obrigou o czar, tomado de pavor, a publicar o “Manifesto de 17 de outubro”. No entanto, longe de representar uma concessão autêntica às demandas populares, tal manifesto revelou-se rapidamente uma manobra ardilosa — uma farsa reacionária disfarçada de “liberdade”, cujo verdadeiro propósito era ganhar tempo, confundir os incautos e reorganizar as forças da contrarrevolução. Os bolcheviques advertiram o povo contra a armadilha czarista. Naquele mesmo dia, em Tiflis, na linha de frente da luta por aplicar as palavras de ordem táticas de Lênin, Stálin dirigiu-se a uma assembleia de operários, proclamando:
E o que precisamos para alcançar a vitória real? Precisamos de três coisas: primeiro, armas; segundo, armas; e terceiro — de novo e sempre — armas!
Em consonância com essa orientação, Stálin escreveu, em outubro de 1905, o panfleto “Cidadãos!”, publicado pelo Comitê de Tiflis da União Caucasiana do POSDR, no qual sustentava:
A greve política geral em curso — cujas proporções não têm precedentes nem na história da Rússia, nem na história mundial — pode, talvez, ser encerrada hoje sem se converter numa revolta nacional; mas amanhã, sem dúvida, estremecerá novamente o país com ainda mais força e maturará naquela insurreição armada de massas que porá fim, de uma vez por todas, à milenar disputa entre o povo russo e a autocracia czarista, esmagando a cabeça desse monstro abjeto. [...] Uma insurreição armada nacional — eis a tarefa suprema que hoje se coloca diante do proletariado russo, e cuja realização exige-se com imperatividade histórica!
As atividades revolucionárias de Stálin na Transcaucásia, nesse período de intensificação da luta de classes, foram vastas e decisivas. Sob sua orientação, a 4ª Conferência Bolchevique da União Caucasiana do POSDR, realizada em novembro de 1905, aprovou uma resolução que convocava à intensificação da preparação para a insurreição armada, conclamava ao boicote ativo à Duma czarista e à consolidação das formas organizativas da luta popular: os Sovietes de Deputados Operários, os Comitês de Greve e os Comitês Camponeses Revolucionários. Stálin denunciou os mencheviques como inimigos da revolução e opositores diretos da insurreição, combatendo ininterruptamente pela preparação política, moral e material do proletariado para o confronto decisivo com a autocracia. A revolução alastrou-se por toda a Transcaucásia em chamas. No 3º Congresso do POSDR, Lênin incluiu uma resolução específica — “Sobre os Acontecimentos no Cáucaso” — na qual se fazia menção honrosa às organizações bolcheviques da região, qualificando-as como “as mais combativas do nosso Partido” e conclamando o conjunto da organização partidária a apoiá-las com o máximo de esforço.
Em dezembro de 1905, Stálin representou os bolcheviques da Transcaucásia na 1ª Conferência Pan-Russa Bolchevique, realizada em Tammerfors, na Finlândia. Foi nesse encontro histórico que Stálin e Lênin se encontraram pela primeira vez. Stálin foi eleito para o Comitê Político (Comitê de Redação) da Conferência, atuando ao lado de Lênin como um dos quadros mais destacados do Partido.
Com o esmagamento da insurreição de dezembro, a maré da revolução começou a refluir. No entanto, longe de significar o fim da luta, esse momento agudo deu lugar à intensificação da polêmica interna entre bolcheviques e mencheviques nos preparativos para o 4º Congresso do POSDR. Tendências anarcossindicalistas começaram a ganhar visibilidade, especialmente em Tiflis. Stálin permaneceu na linha de frente da luta contra todas as expressões teóricas e políticas hostis ao proletariado e à revolução, combatendo sistematicamente as ideias pequeno-burguesas e desorganizadoras que ameaçavam o Partido.
No 4º Congresso do POSDR, realizado em Estocolmo em abril de 1906, Stálin desempenhou papel ativo ao lado de Lênin, defendendo com firmeza a linha bolchevique da revolução contra as teses mencheviques. Em suas intervenções, colocou com clareza a alternativa estratégica fundamental:
Ou a hegemonia do proletariado, ou a hegemonia da burguesia democrática — eis como se coloca a questão no seio do Partido; é precisamente aí que reside a divergência essencial entre nós e os mencheviques.
Pouco após o Congresso, Stálin escreveu o panfleto “O Momento Atual e o Congresso de Unificação do Partido Operário”, no qual analisou criticamente as lições da insurreição de dezembro, justificou as posições bolcheviques durante o Congresso e sintetizou seus resultados políticos, teóricos e organizativos.
Retornando à Transcaucásia, Stálin prosseguiu sua luta intransigente contra o menchevismo e outras correntes ideológicas antiproletárias. Durante esse período, dirigiu diversos jornais legais de orientação bolchevique, publicados em língua georgiana, como Akhali Tskhovreba (A Nova Vida), Akhali Droyeba (A Nova Era), Chveni Tskhovreba (A Nossa Vida) e Dro (O Tempo), todos instrumentos fundamentais de organização e formação política das massas.
Foi também nesse momento que Stálin escreveu a série de artigos reunida sob o título “Anarquismo ou Socialismo”, dirigida contra as ideias dos anarquistas da escola de Kropotkin, então influentes na Transcaucásia. Com o refluxo da revolução e o avanço da reação, tornou-se tarefa central a defesa dos fundamentos teóricos do bolchevismo contra todas as formas de revisionismo. Em 1909, Lênin publicou seu clássico “O Materialismo e o Empiriocriticismo”, no qual denunciava os apóstatas do marxismo e restaurava com brilho os alicerces teóricos do Partido.
Stálin, por sua vez, também se lançou na batalha teórica, publicando entre 1906 e 1907 uma série de artigos em jornais bolcheviques georgianos nos quais explicava, de forma acessível e pedagógica, os princípios do materialismo histórico e dialético. Esses escritos abordavam com precisão questões centrais da teoria marxista: o sentido do materialismo e da dialética, a lógica do desenvolvimento histórico, a inevitabilidade da revolução socialista, a ditadura do proletariado, a necessidade de um partido proletário de novo tipo — distinto dos partidos reformistas da 2ª Internacional — e as estratégias e táticas do Partido. Esses artigos constituem uma importante contribuição ao corpo teórico do marxismo-leninismo e integram o patrimônio ideológico da luta revolucionária do proletariado.
Stálin participou ativamente do 5º Congresso do POSDR, realizado em Londres entre abril e maio de 1907, onde se consolidou a vitória política e organizacional dos bolcheviques sobre os mencheviques. Após seu retorno à Rússia, escreveu o artigo “O Congresso de Londres do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (Apontamentos de um Delegado)”, no qual analisou os resultados do Congresso, justificou as posições táticas e ideológicas do bolchevismo, denunciou a política conciliadora dos mencheviques e demonstrou, com nitidez, a natureza de classe do menchevismo como expressão política da pequena-burguesia.