A primeira Revolução Russa em 1905, embora heroica em seus impulsos iniciais, resultou, ao fim, em derrota. Entre essa experiência inaugural e a posterior erupção revolucionária de 1917, desenrolou-se um intervalo de dez anos marcado por um trabalho perseverante, abnegado e incansável dos bolcheviques, os quais, sob condições extremamente adversas, se dedicaram com denodo à organização das massas, à incitação do espírito revolucionário entre os trabalhadores, à condução das lutas populares e à preparação meticulosa do terreno que permitiria, no futuro, o triunfo definitivo da revolução proletária.
Para Lênin e Stálin, este decênio representou uma fase de combate impiedoso pela preservação e consolidação do Partido revolucionário na clandestinidade, pela defesa e aplicação consequente da linha bolchevique adaptada às novas condições históricas, assim como por um esforço árduo e sistemático de organização e formação ideológica das massas proletárias. Foi, igualmente, um período de enfrentamento persistente e tenaz contra o aparato repressivo do czarismo. A autocracia czarista, ao perceber em Stálin um dirigente revolucionário de envergadura excepcional, empreendeu diversas tentativas para neutralizá-lo, subtraindo-lhe, por todos os meios possíveis, a capacidade de continuar o trabalho revolucionário. Prisões sucessivas, encarceramentos prolongados e exílios reiterados compuseram a trajetória que ele enfrentou com firmeza e determinação. Entre os anos de 1902 e 1913, Stálin foi capturado sete vezes e exilado em seis ocasiões distintas, das quais conseguiu escapar em cinco. Mal era deportado para um novo local de desterro, já lograva romper o confinamento para, uma vez mais, lançar-se à tarefa de aglutinar e dinamizar as energias revolucionárias latentes nas massas oprimidas. O último de seus exílios apenas não foi interrompido por fuga, pois foi encerrado pela eclosão da Revolução de Fevereiro de 1917.
Em julho de 1907, inicia-se o período de Baku na trajetória revolucionária de Stálin. Após regressar do 5º Congresso do POSDR, realizado em Londres, ele deixa Tiflis e, em conformidade com as orientações do Partido, estabelece-se em Baku — principal centro industrial da Transcaucásia e uma das regiões mais estratégicas para o movimento operário na Rússia czarista. Ali, engajou-se imediatamente na luta por conquistar a organização local para os princípios do leninismo e por reunir a classe trabalhadora sob a bandeira firme do bolchevismo. Conduziu com vigor a campanha de expulsão dos mencheviques dos principais distritos operários de Baku — Balakhani, Bibi-Eibat, Chorny Gorod e Byely Gorod — ao mesmo tempo em que assumia a direção de diversas publicações bolcheviques, tanto clandestinas quanto legais, como Bakinsky Proletary (O Proletário de Baku), Gudok (O Apito) e Bakinsky Rabochy (O Trabalhador de Baku).
Foi também sob sua direção que se desenvolveu a campanha eleitoral para a Terceira Duma. Em 22 de setembro, durante uma assembleia de representantes das cúrias operárias de Baku, foi aprovado o “Mandato aos Deputados Social-Democratas à Terceira Duma do Estado”, redigido por Stálin. Este documento não apenas refletia a linha política do bolchevismo como consolidava a autoridade de Stálin como dirigente da luta operária local. Digno de destaque foi o papel por ele desempenhado na grande campanha relacionada às negociações do acordo coletivo entre os petroleiros e os patrões. Tal iniciativa constituiu uma aplicação exemplar da política leninista de articulação flexível entre ações legais e clandestinas durante o período da reação. Por meio de uma aplicação tática hábil dos métodos de Lênin, Stálin logrou reunir os trabalhadores numa luta política concreta contra a monarquia czarista, assegurando uma vitória importante dos bolcheviques em condições adversas.
Baku, naquele momento, fervilhava com a energia da luta proletária. Os jornais bolcheviques, mesmo operando sob severas limitações legais, faziam ecoar a voz da revolução por toda a Rússia, tornando-se porta-vozes dos interesses mais profundos da classe operária. A cidade oferecia, assim, um espetáculo inusitado em plena noite escura da reação stolypinista. A luta heroica dos trabalhadores de Baku em 1908 levou Lênin a se referir a ela, com admiração, como “o último dos moicanos da greve política de massas”.
Ao redor de Stálin agrupou-se um núcleo coeso e combativo de bolcheviques forjados na prática revolucionária: Fioletov, Efimov-Saratovets, Vacek, Bokov, Malygin, Ordzhonikidze, Dzhaparidze, Shaumian, Spandaryan, Khanlar, Memedov, Azizbekov, Kiazi-Mamed, entre outros, com os quais consolidou, de forma definitiva, a hegemonia bolchevique dentro da organização partidária local. Sob sua direção, Baku tornou-se, não apenas um centro de ebulição proletária, mas um verdadeiro bastião do bolchevismo revolucionário. A classe operária local, sob orientação de Stálin, assumiu papel destacado na vanguarda do movimento revolucionário em escala nacional.
A importância do período de Baku na formação política de Stálin é inegável, como ele próprio reconheceria posteriormente:
Dois anos de atividade revolucionária entre os operários de Baku serviram para me forjar não apenas como teórico, mas como um quadro prático da luta de classes. Meus contatos próximos com operários como Vacek e Efimov-Saratovets, por um lado, e os agudos e tempestuosos conflitos entre os operários e os proprietários das petrolíferas, por outro, ensinaram-me pela primeira vez o que significa conduzir verdadeiramente as grandes massas operárias. Ali, em Baku, recebi, portanto, meu segundo batismo de fogo revolucionário.
Em 25 de março de 1908, Stálin foi novamente capturado pelas autoridades czaristas e, após permanecer encarcerado por quase oito meses, foi condenado ao exílio na localidade de Solvychegodsk, situada na província de Vologda, por um período de dois anos. No entanto, em 24 de junho de 1909, conseguiu evadir-se do confinamento e retornou clandestinamente a Baku, com o objetivo de retomar sua atividade revolucionária ilegal, interrompida apenas temporariamente. Uma vez reinstalado no terreno da luta, Stálin manifestou apoio incondicional e vigoroso a Lênin em sua firme oposição tanto aos liquidacionistas, que pretendiam dissolver a organização clandestina do Partido sob o pretexto do legalismo, quanto aos otzovistas, que propunham a retirada dos bolcheviques da Duma, abandonando a tribuna parlamentar às correntes reacionárias e oportunistas.
É nesse contexto que surgem as suas históricas “Cartas do Cáucaso”, publicadas no órgão central do Partido, nas quais Stálin intervém de forma contundente nos debates que agitavam o movimento social-democrata russo. Para o jornal Bakinsky Proletary, escreveu os artigos “A Crise do Partido e Nossas Tarefas”, “Do Partido”, entre outros textos críticos, nos quais denunciava, com coragem e clareza estratégica, o estado de desorganização das estruturas partidárias e propunha um plano concreto de superação da crise interna que ameaçava a continuidade da ação revolucionária. Nesses escritos, dirigiu críticas ferozes aos liquidacionistas, exemplificando com os mencheviques de Tiflis o modo como esses renegavam abertamente os princípios programáticos e táticos do marxismo revolucionário. Condenou a postura traiçoeira daqueles que ao lado de Trotsky, conspiravam para desviar o Partido de sua linha classista e revolucionária, e formulou as tarefas imediatas que deveriam orientar a reorganização do Partido. Tais propostas — a convocação de uma conferência geral do Partido, a publicação de um jornal legal de caráter partidário e a criação de um centro clandestino para a condução do trabalho prático dentro da Rússia — seriam posteriormente ratificadas e implementadas pela histórica Conferência de Praga.
Em 23 de março de 1910, Stálin foi novamente detido pelas forças repressivas em Baku e, após permanecer outros seis meses na prisão, foi conduzido mais uma vez ao exílio em Solvychegodsk. Mesmo isolado geograficamente, não rompeu os vínculos com a direção do Partido: restabeleceu contato com Lênin e, no final daquele mesmo ano, escreveu-lhe uma carta na qual reafirmava sua solidariedade plena à tática leninista de constituir um bloco partidário sólido entre todos aqueles que defendessem a manutenção e o fortalecimento da estrutura clandestina do Partido. Nessa correspondência, além de apoiar incondicionalmente a linha de Lênin, Stálin atacava, com veemência, a conduta oportunista e eclética de Trotsky, denunciando-lhe a completa ausência de princípios e apresentando uma proposta de organização do trabalho partidário no interior da Rússia.
Na segunda metade de 1911, tem início o período de São Petersburgo na trajetória revolucionária de Stálin. Em 6 de setembro, ele rompe secretamente com o exílio em Vologda e dirige-se à capital, onde imediatamente estabelece contato com a organização bolchevique local, passando a orientar e dirigir a luta contra os liquidacionistas — entre eles, os mencheviques e os partidários de Trotsky —, além de atuar na rearticulação e no fortalecimento das estruturas bolcheviques na cidade. Contudo, foi novamente preso, apenas três dias depois, em 9 de setembro de 1911, sendo deportado outra vez à província de Vologda. Ainda assim, mesmo sob constante perseguição, Stálin conseguiu, em fevereiro de 1912, escapar mais uma vez do exílio, mantendo-se fiel à tarefa de construir a revolução em meio à repressão.
Em janeiro de 1912, ocorreu um dos eventos mais decisivos da trajetória do POSDR: a histórica Conferência de Praga. Essa conferência, ao efetivar a expulsão definitiva dos mencheviques das fileiras partidárias, assinalou o ponto de inflexão para a consolidação de um partido de novo tipo — o partido forjado sob os princípios do leninismo, o Partido Bolchevique. A edificação dessa nova forma de organização revolucionária, cuja gênese remonta aos tempos da antiga Iskra, vinha sendo cuidadosamente preparada pelos bolcheviques.
A totalidade da luta travada contra os “economistas”, os mencheviques, os trotskistas, os “otzovistas”, bem como contra os representantes do idealismo filosófico — inclusive os empiriocriticistas —, constituiu, em sua essência, o processo histórico de preparação e maturação dessa forma superior de partido proletário. Nesse processo, desempenharam papel central e decisivo as obras teóricas fundamentais de Lênin, tais como “O Que Fazer?”, “Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás”, “Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática” e “Materialismo e Empirocriticismo” — textos que serviram de alicerce teórico para a construção do partido revolucionário do proletariado.
Nesse percurso histórico de enfrentamentos ideológicos e construção partidária, Stálin destacou-se como camarada de armas inabalável de Lênin, atuando como um pilar firme e combativo na luta contra os inimigos da revolução e pela constituição de um autêntico partido marxista — o Partido Bolchevique.