Os Principais Marcos Históricos da Vida e da Atividade de Stálin

Emelyan Yaroslavsky


Atividades Durante a Primeira Revolução Russa


O movimento revolucionário na Transcaucásia, dirigido pelas organizações bolcheviques, desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da primeira revolução russa. A poderosa energia revolucionária, até então represada pela autocracia czarista, rompeu suas margens e, nas cidades e aldeias da Geórgia, assumiu a forma de um movimento de massas impetuoso — um autêntico movimento popular. A fúria das massas georgianas, acumulada por séculos de opressão, seu ódio aos latifundiários, capitalistas e oficiais czaristas, encontrou expressão nas insurreições revolucionárias tanto nos centros urbanos quanto nas zonas rurais.

Stálin desempenhou papel importantíssimo na direção desse movimento, especialmente na formação política das massas. Sabemos que, após ter sido exilado para a Sibéria em 1903, ele escapou em janeiro de 1904 e retornou a Tíflis, assumindo a direção das organizações bolcheviques da Transcaucásia.

Esse foi o período em que o Partido Bolchevique começava a adquirir contornos mais definidos em termos organizacionais, ideológicos e políticos, particularmente após a cisão ocorrida no 2º Congresso do POSDR.

Em toda a obra de Stálin e de Lênin, percebemos a mais estreita afinidade de ideias. E isso se verifica invariavelmente quando Stálin precisava decidir, de forma independente, qual curso adotar frente aos eventos que se desenrolavam rapidamente.

Nesse período, diversos escritos de Lênin ajudaram a classe operária a formular uma posição correta sobre todas as questões relativas à teoria e à prática da revolução. Na obra “O Que Fazer?”, Lênin contribuiu para preparar ideologicamente o Partido; no seu escrito “Um Passo à Frente, Dois Atrás” desenvolvia os princípios da organização; e em “As Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática” era uma exposição política das bases fundamentais da estratégia e tática da classe operária.

Da mesma forma, uma série de escritos de Stálin, redigidos durante o período da primeira revolução russa, contribuiu profundamente para a formação ideológica, organizativa e política das organizações bolcheviques na Transcaucásia. Além disso, os escritos de Stálin não apenas popularizavam as ideias de Marx, Engels e Lênin, mas também desenvolviam de forma independente uma série de questões e problemas teóricos. Considerados em conjunto, seus escritos dessa época — como, por exemplo, “Algumas palavras sobre as divergências no Partido”, redigido no início de 1905, o artigo “Dois Choques, publicado em janeiro de 1906, e uma série de artigos sob o título geral “Anarquismo ou Socialismo”, publicados nos jornais Akhali Tskhovreba (A Nova Vida), Akhali Droyeva (Novos Tempos), Chveni Tskhovreba (Nosso Tempo), Dro (O Tempo), além de vários outros — oferecem uma exposição desenvolvida dos fundamentos do marxismo-leninismo, dos princípios do materialismo histórico e dialético, bem como das bases da estratégia, tática e organização bolchevique.

Portanto, durante a primeira revolução russa, Stálin trabalhou lado a lado com Lênin na consolidação da linha bolchevique.

Deve-se mencionar ainda que um fator altamente importante na atividade das organizações bolcheviques na Transcaucásia — e não apenas ali — foi a instalação da gráfica tipográfica clandestina em Avlabar. Essa tipografia foi organizada por instrução direta de Stálin, e sua excelência organizativa destacava-se de todas as demais conhecidas pela polícia. Durante longo tempo, as autoridades foram incapazes de descobrir sua localização, e apenas em 15 de abril de 1906 ela foi finalmente desmantelada. Essa gráfica tipográfica publicou os seguintes manifestos e panfletos, a maioria redigida pelo próprio Stálin:

Essa imprensa revolucionária também publicava panfletos em russo, georgiano, armênio e azeri, os quais circulavam não apenas pela Transcaucásia, mas também por diversas outras organizações partidárias em toda a Rússia. Segue uma lista dos panfletos e brochuras impressos pela gráfica tipográfica de Avlabar:

O governo czarista considerou uma imensa vitória quando A tipografia de Avlabar foi descoberta. Podemos ter uma ideia da dimensão dessa operação pelo seguinte relato publicado no jornal burguês Kavkaz (Cáucaso) de 16 de abril de 1906:

Tipografia Secreta — No sábado, 15 de abril, no pátio de uma casa desabitada pertencente a D. Rostomashvili em Avlabar, a cerca de 150 ou 200 passos do Hospital Municipal de Doenças Contagiosas, foi descoberto um poço com cerca de vinte metros de profundidade, ao qual se descia por meio de uma corda e roldana. A cerca de quinze metros, havia uma galeria que conduzia a outro poço, no fundo do qual havia uma escada com cerca de dez metros, dando acesso a uma câmara subterrânea localizada sob o porão da casa. Nessa câmara, foi encontrada uma tipografia totalmente equipada, contendo vinte caixas de tipos russos, georgianos e armênios, uma prensa manual avaliada entre 1.500 e 2.000 rublos, diversos ácidos, gelatina explosiva e outros materiais para fabricação de bombas, grande quantidade de literatura ilegal, carimbos falsos de repartições governamentais e instituições militares, além de uma máquina infernal contendo sete quilos de dinamite. A instalação era iluminada por lâmpadas de acetileno e equipada com sistema elétrico. Num galpão do pátio da casa, foram encontradas três bombas, componentes de bombas e outros materiais similares. Vinte e quatro pessoas foram presas durante uma reunião na redação do jornal Elva (Relâmpago), acusadas de envolvimento na operação. Uma busca nos escritórios do Elva revelou grande quantidade de literatura ilegal e panfletos, bem como cerca de vinte passaportes em branco. Os escritórios foram lacrados. Como fios elétricos haviam sido descobertos conduzindo da tipografia para diversos locais, iniciaram-se escavações com o objetivo de localizar outras instalações clandestinas. O equipamento encontrado na tipografia foi removido em cinco carrinhos. Na mesma noite, mais três pessoas foram presas. Durante todo o trajeto até a prisão, os detidos cantavam La Marseillaise.

Os fatos revelados pelo caso da tipografia de Avlabar ilustram bem o amplo e variado trabalho que Stálin realizou no período da primeira revolução.

Como sabemos, Stálin não pôde participar do 2º Congresso do Partido, pois se encontrava no exílio, mas assim que retornou, empenhou-se vigorosamente para garantir a convocação do 3º Congresso. Combateu os conciliadores que atuavam no Comitê Central do POSDR e, ao perceber que estes colaboravam com os mencheviques para sabotar a realização do Congresso, rompeu com esse Comitê Central conciliador.

Denunciou a duplicidade de Glebov (Noskov), que havia sido eleito no 2º Congresso como bolchevique, mas depois traiu a causa e ajudou os mencheviques a usurpar o Comitê Central e o Órgão Central do Partido (Iskra).

Em novembro de 1904, realizou-se em Tíflis uma Conferência Bolchevique dos Comitês Caucasianos, presidida por Stálin. Essa conferência fez um apelo pela convocação do 3º Congresso do Partido, destacando sua urgência, tanto para consolidar a paz interna no Partido quanto porque, segundo as condições do momento histórico:

A convocação imediata de um congresso especial, essencial para os interesses da paz dentro do Partido, é extremamente necessária também por causa das condições do momento histórico atual, que exige unanimidade e unidade de ação excepcionais por parte das seções individuais do Partido para um ataque decisivo contra a autocracia czarista.(1)

Nos anos de 1905 a 1907, Mikhail Tskhakaya trabalhou lado a lado com Stálin na direção do Comitê Federal Caucasiano do POSDR. Outros membros desse Comitê eram Alexander Tsulukidze, Stepan Shaumyan, Alyosha Djaparidze, Bogdan Knunyantz, Philip Makharaadze e Mikho Bochoridze.

Nessa luta pela consolidação de um Partido Bolchevique, Stálin revelou-se um organizador de talento extraordinário, um propagandista incansável das ideias do marxismo-leninismo e um destacado teórico do socialismo científico. Os bolcheviques da Transcaucásia precisaram travar uma dura batalha contra os mencheviques, que eram liderados por figuras como Noe Zhordania, Tsereteli, Ramishvili, Chkheidze e Lomtatidze.

Stálin e outros bolcheviques percorriam incessantemente as cidades e centros industriais da Transcaucásia, debatendo com mencheviques, socialistas-revolucionários e anarquistas. O próprio Stálin visitava os principais centros do movimento — Tíflis, Baku, Kutais, Gori, Chiaturi, Khoni, Borchalo, entre outros. Nessas jornadas, não apenas enfrentava os adversários da linha marxista-leninista consequente, mas também realizava extenso trabalho organizativo.

Em Chiaturi, por exemplo, organizou um comitê regional bolchevique. Por sua iniciativa, foi formado um Comitê Bolchevique Imeretino-Mingreliano, com sede em Kutais, para dirigir as organizações partidárias da região. Após um debate com os mencheviques no distrito de Khoni, formou-se ali um Comitê Bolchevique.

Nesses debates contra os opositores do bolchevismo, Stálin impressionava os trabalhadores com sua calma, clareza e confiança manifesta na justiça e força de sua causa. Assim, em maio de 1905, ele discursou diante de uma imensa assembleia com mais de dois mil trabalhadores, onde houve debate com anarquistas e seguidores de Kropotkin — como Gogelia, Tsereteli e outros. Kekelidze, que estava presente, relata:

Em maio de 1905, realizou-se uma assembleia que rapidamente se transformou em um grande debate diante de cerca de 2 mil trabalhadores. O camarada Koba-Stálin foi o primeiro a falar. Seguiram-se G. Lordkipanidze (menchevique), S. Meskhishvili (socialista-revolucionário), S. Mdivani (federalista) e K. Gogelia (anarquista). O debate foi intenso. Enquanto seus adversários apelavam para ataques e confusões, o camarada Koba, com serenidade e firmeza, desmontava ponto por ponto todos os seus argumentos. Também aqui, os bolcheviques triunfaram: os trabalhadores apoiaram unanimemente o camarada Koba.(2)

Em dezembro de 1904, explodiu a famosa greve de Baku, que foi o prenúncio da primeira revolução. A ação do proletariado de Baku serviu como sinal para as gloriosas ações de janeiro e fevereiro de 1905 em todo o Império. No final de 1904, os operários de Baku conseguiram firmar o primeiro acordo coletivo da história do movimento operário russo.

As massas trabalhadoras ingressaram na primeira revolução sob as palavras de ordem dos bolcheviques, rejeitando as palavras de ordens dos mencheviques, socialistas-revolucionários, anarquistas, cadetes e dashnaks(3).

Todos os problemas fundamentais da luta — organizacionais, teóricos, políticos e táticos — eram explicados por Stálin aos trabalhadores por meio de discursos, panfletos e artigos. Já nesse tempo, ele era um propagandista talentoso, capaz de explicar, de forma clara e compreensível, as questões mais difíceis e complexas do marxismo. Embora suas exposições fossem de uma simplicidade metódica, ele condenava duramente toda vulgarização ou simplificação grosseira das ideias.

Eis um exemplo: explicando o princípio de que “as mudanças na ideologia jamais acompanham automaticamente as mudanças nas condições materiais de vida”, Stálin usava a seguinte comparação:

Imaginem, — dizia ele, — um sapateiro que, possuindo uma pequena oficina própria, vê-se compelido, pelas inexoráveis forças do mercado dominado pelo grande capital, a encerrá-la, não por falta de capacidade ou diligência, mas por não conseguir competir com os monopólios e grandes proprietários dos meios de produção. Forçado pela necessidade objetiva, busca então um emprego na fábrica de Adelkhanov. Contudo, ao adentrar o universo fabril, não o faz com a disposição subjetiva de tornar-se um operário permanente, integrante orgânico do proletariado moderno, mas sim com o propósito transitório e ilusório de acumular algum capital e, assim, reabrir futuramente o seu modesto negócio artesanal.

Nessa circunstância concreta, observa-se que, embora sua inserção nas relações de produção tenha se alterado substancialmente — passando de pequeno produtor independente a assalariado submetido ao capital —, sua consciência, sua ideologia de classe, permanece ainda arraigada à velha mentalidade pequeno-burguesa. Ou seja, sua realidade objetiva já é proletária, mas seu pensamento ainda é moldado por uma perspectiva de retorno à propriedade individual dos meios de produção, característica do estrato pequeno-burguês. Essa defasagem entre a base material e a consciência evidencia que, no curso histórico do desenvolvimento social, são, em primeira instância, as condições materiais e o modo de vida dos indivíduos que sofrem mutação; a consciência correspondente, por sua vez, acompanha essas mudanças apenas em um segundo momento, num processo de transformação mais lento e contraditório.

Dessa forma, torna-se evidente a importância fundamental do materialismo histórico para a prática revolucionária. Sendo as estruturas econômicas as primeiras a se modificarem — em virtude das contradições internas do modo de produção vigente —, a consciência das pessoas transforma-se apenas posteriormente, em correspondência dialética com a nova realidade material. É por isso que qualquer ideal, projeto político ou concepção de mundo verdadeiramente científica e transformadora deve buscar sua base, não em formulações abstratas, na fantasia ou na imaginação isolada dos indivíduos, mas sim na análise concreta das condições econômicas reais. Somente os ideais enraizados na realidade objetiva das relações de produção possuem solidez histórica e potência transformadora; todos os demais, alicerçados em construções subjetivas dissociadas da base material, revelam-se frágeis, inconsistentes e incapazes de orientar efetivamente a luta emancipadora da classe trabalhadora.

Se a mentalidade, a moral e os hábitos dos indivíduos derivam das condições materiais, se torna evidente que, se as formas legais e políticas se tornarem inadequadas por causa de mudanças econômicas, então, para que possamos alterar de maneira fundamental a moral, os hábitos e o sistema político de um povo, serão necessários transformar antes as relações de produção econômicas fundamentais.

Dessa maneira, torna-se evidente como Stálin, partindo de um exemplo aparentemente simples e corriqueiro — o caso concreto de um sapateiro que, ao perder sua frágil autonomia econômica, é compelido a proletarizar-se —, foi capaz de extrair daí generalizações filosóficas de extraordinária profundidade e vasto alcance teórico. Sua análise, longe de deter-se na anedota individual, ultrapassa o episódio particular para revelar, em sua totalidade e movimento, as leis gerais que regem a transformação das consciências humanas a partir das mudanças nas condições materiais de existência.

Eis, pois, outro exemplo ilustrativo da acuidade teórica e do rigor metodológico com que Stálin operava: ao confrontar o que se convencionou chamar, de forma reducionista e equivocada, de “materialismo econômico” — expressão vulgarizada que distorce e simplifica a concepção marxista da relação entre base e superestrutura —, Stálin não apenas rechaçava essa caricatura do materialismo histórico, como desafiava abertamente seus proponentes a apresentarem, nos escritos de Marx, uma única citação que sustentasse a fórmula grotesca segundo a qual “a ideologia do homem é determinada pela comida que ele consome”. E, com mordaz ironia, inquiria: em que mundo, em que planeta, com que propósito e por que motivo Marx teria proferido tamanho disparate?

Stálin travou uma luta implacável contra o que então se denominava “zubátovismo” — essa forma pérfida de manipulação política que consistia na infiltração deliberada de sindicatos artificiais entre as fileiras operárias, criados e dirigidos sob os auspícios da polícia czarista, com o intuito de desviar a luta dos trabalhadores para frações reformistas, legalistas e inofensivos à autocracia. Essa tentativa de dominação ideológica e organizativa do movimento operário, conduzida nos bastidores do regime autocrático e operacionalizada em Baku sob a liderança contrarrevolucionária dos irmãos Shendrikov, encontrou em Stálin um adversário vigilante e incansável, cuja intervenção foi decisiva para desmascarar e desarticular essa ofensiva da reação.

De especial relevância histórica foi seu envolvimento direto nos preparativos para a insurreição armada, tarefa à qual conferia centralidade estratégica no desenvolvimento da luta revolucionária, compreendendo que a conquista do poder político pelas massas exploradas exigia não apenas clareza ideológica e organização disciplinada, mas também a capacidade material de empunhar as armas. Nesse sentido, destacou-se sua colaboração com Kamo Petrosyan — célebre combatente do Cáucaso e herói da causa proletária — na complexa e arriscada operação de aquisição e distribuição de armamentos para os destacamentos operários.

No 3º Congresso do POSDR, os bolcheviques da Transcaucásia foram representados pelo camarada Mikhail Tskhakaya, que assumiu a responsabilidade de apresentar um informe detalhado e rigoroso sobre o desenvolvimento do movimento revolucionário na região caucasiana, evidenciando o papel crescente da luta de classes naquela zona estratégica do império e a contribuição decisiva da militância bolchevique para o avanço do processo revolucionário. O Congresso aprovou uma resolução especial relativa aos eventos no Cáucaso, a qual dizia:

1. Considerando que as condições sociais e políticas especiais predominantes no Cáucaso favoreceram a formação das organizações mais militantes de nosso Partido;

2. Que o movimento revolucionário entre a maioria da população urbana e rural do Cáucaso já atingiu o nível de uma insurreição em escala nacional contra a autocracia;

3. Que o governo autocrático já está despachando tropas e artilharia para a região de Guria, com o objetivo de reprimir de forma implacável todos os centros importantes da insurreição;

4. Que uma vitória da autocracia sobre a revolta popular no Cáucaso — o que pode ser facilitado pelo fato de que a população é composta por nacionalidades não-russas — seria, portanto, extremamente prejudicial ao êxito da insurreição em toda a Rússia o fracasso no Cáucaso.

Por isso, o 3º Congresso do POSDR, falando em nome do proletariado da Rússia, envia ardentes saudações ao heroico proletariado e campesinato do Cáucaso, e instrui o Comitê Central e os comitês locais do Partido a tomarem medidas enérgicas para garantir a mais ampla difusão de informações sobre a situação no Cáucaso por meio de panfletos, assembleias operárias, reuniões de grupo, discussões, etc., e também a fornecerem ao Cáucaso todo o apoio possível com os meios disponíveis.

Quando Alexander Tsulukidze faleceu no verão de 1905, Stálin proferiu um discurso à beira de seu túmulo, que causou profunda impressão em todos os que o ouviram.

Um papel extremamente importante na formação das organizações bolcheviques e na difusão da ideologia bolchevique na Transcaucásia foi desempenhado pelo jornal Proletariatitis Brdzola (A Luta do Proletariado), fundado por Stálin e impresso na gráfica tipográfica clandestina de Avlabar. Alguns artigos publicados neste jornal foram posteriormente republicados por Lênin no Proletary (O Proletário), órgão central dos bolcheviques.

A sétima edição do Proletariatitis Brdzola, de 1º de setembro de 1904, trazia um artigo notável intitulado “A visão social-democrata sobre a Questão Nacional”. O texto guarda grande afinidade com a obra clássica de Stálin, “O Marxismo e a Questão Nacional”, escrita algum tempo depois. O artigo observava que, em diferentes períodos, o nacionalismo serve a diferentes interesses de classe e assume diversas formas, conforme a classe que o impulsiona e o momento histórico em que se manifesta.

Stálin combatia as tendências federalistas dos nacionalistas burgueses, assim como os mencheviques. Defendia que a vitória do proletariado exigia a união de todos os trabalhadores, independentemente de sua nacionalidade, e que os particularismos nacionais precisavam ser superados. A fusão próxima entre proletários russos, georgianos, armênios, poloneses, judeus e de outras nacionalidades era condição essencial para a vitória da revolução proletária em toda a Rússia.

Contra a política dos federalistas — que buscavam dividir os trabalhadores por linhas nacionais, como entre georgianos e armênios — Stálin defendia a unidade, a ligação direta entre os proletários de todas as nacionalidades da Rússia. Passo a passo, demonstrava a falsidade dos argumentos federalistas.

Em 1905, defendeu com firmeza o direito das nações à autodeterminação e travou polêmica com o periódico georgiano Sakartvelo (A Geórgia), que se dizia socialista, mas na realidade propagava uma linha político-ideológica nacionalista burguesa.

Os federalistas da Transcaucásia seguiam essencialmente a mesma linha do Bund e do Partido Socialista da Polônia: defendiam organizações partidárias com base nacional e rejeitavam o princípio organizativo do centralismo-democrático. Stálin, por sua vez, conclamava a luta decisiva contra todas as divisões nacionalistas e à criação de um único partido proletário.

Com o irromper da Primeira Revolução Russa, a tipografia de Avlabar tornou-se palco de um ato histórico de agitação política: ali foi impresso um manifesto inflamado, em nome do Comitê Federal Caucasiano do POSDR, sob o título incisivo — “Operários do Cáucaso, chegou a hora de nos vingarmos!”. A proclamação, dotada de um vigor retórico e de uma clareza combativa inconfundível, advertia os trabalhadores de que a tempestade revolucionária que se avizinhava não apenas abalaria, mas varreria de maneira implacável o trono sinistro do Czar, extirpando-o da superfície da Terra. Era, portanto, um chamado à mobilização consciente, à ação organizada e à preparação militante para a grande confrontação que se aproximava.

Nesse mesmo espírito de combate ideológico e luta de classes, o periódico Proletariatitis Brdzola mantinha uma ofensiva sistemática contra os liberais burgueses, desmontando pacientemente as ilusões que estes tentavam semear entre as massas. Em sua oitava edição, publicou um artigo sob o título contundente de “Caiu a Máscara”, no qual denunciava com veemência a falsa constituição proposta pelos liberais e expunha, com acuidade teórica, a essência mistificadora de sua política, que, em última instância, visava preservar os interesses de classe da burguesia sob a aparência de concessões democráticas.

Pouco depois, em 26 de março de 1905, circulou entre os operários um novo panfleto, impresso também na tipografia de Avlabar, com o título interrogativo e provocador — “Quais são os fatos?” Este documento político exercia um papel de esclarecimento fundamental: rechaçava a tese, difundida pelos setores liberais, de que a Rússia experimentava uma suposta “primavera política”, quando, na verdade, o que se desenrolava era o desabrochar do poder revolucionário do proletariado, que, mobilizando as camadas populares descontentes, tomava para si a tarefa histórica de assaltar as fortalezas do regime autocrático czarista. A análise retroativa dos eventos já ocorridos permitia ao texto afirmar, com precisão e firmeza, que o verdadeiro estandarte da revolução — seu motor consciente e sua vanguarda insubstituível — era o proletariado organizado sob a direção do Partido.

O panfleto encerrava-se com uma conclamação vigorosa à consolidação do Partido como instrumento indispensável da insurreição, e à imediata preparação da insurreição armada. Enfatizava que era imprescindível desencadear o levante revolucionário e, no curso desse processo, ocupar os arsenais, os bancos, os correios, as estações telegráficas e ferroviárias, e assegurar que tais ações ocorressem de forma simultânea e coordenada nos centros neurálgicos do poder estatal, de modo a não deixar ao regime czarista nenhuma margem de manobra para reagrupar forças ou conter o ímpeto insurrecional das massas em marcha.

Um artigo intitulado “A Insurreição Armada e Nossa Tática”, publicado na segunda edição do Proletariatits Brdzola, em 15 de julho de 1905, afirmava que a revolução se alastrava por toda parte, e que o momento não tardaria para que a tempestade revolucionária irrompesse sobre a Rússia como um gigantesco dilúvio, varrendo com ela tudo o que havia de podre e imundo, arrastando junto o governo czarista.

O Proletariatits Brdzola travava uma polêmica direta com os mencheviques oportunistas, que justificavam sua recusa em organizar a revolta com a alegação de que o movimento era espontâneo. O jornal denunciava como traição a palavra de ordem menchevique de Martov — “Armem o povo!” —, uma palavra de ordem desprovida de orientação política e estratégica, e apresentava com firmeza a linha bolchevique sobre a insurreição armada:

Mas isso — a propaganda e a agitação — é exatamente o que já vínhamos fazendo. Agora a situação exige mais. Recusar-se a ir além disso, recusar-se a definir um plano prático de ação, é fugir do dever ou revelar total incapacidade de adaptar as táticas revolucionárias às exigências reais do momento.

Sim, devemos intensificar a agitação política. A social-democracia deve ampliar sua influência sobre o proletariado e sobre os setores mais combativos do povo que se aproximam da revolução. Devemos popularizar, em todos os cantos do país, a necessidade da insurreição. Mas isso, camaradas, não é suficiente!

Se o proletariado deseja usar essa revolução para avançar em sua própria luta de classes — se quiser conquistar um sistema democrático que lhe assegure melhores condições para a luta pelo socialismo — então ele deve se tornar não apenas o núcleo dirigente da oposição ao czarismo, mas também o guia e o comandante da insurreição armada.

A direção técnica e organizativa de uma insurreição de toda a Rússia é a nova tarefa que se impõe à classe operária. Se nosso Partido quer ser realmente a vanguarda da classe trabalhadora, não pode fugir desse dever.

Apenas uma preparação completa e organizada para a insurreição pode garantir à social-democracia o papel de direção política no levante nacional contra a autocracia. Só com essa preparação será possível transformar choques isolados com a polícia ou o Exército em uma insurreição geral, com o objetivo de substituir o governo czarista por um governo revolucionário provisório.

O proletariado organizado, consciente de sua missão histórica, rejeita toda política khvostista — aquela que se arrasta atrás dos acontecimentos — e lutará com todas as suas forças para assegurar para si não apenas a direção política, mas também a direção técnica da insurreição armada.

Esta é a condição essencial para transformar a revolução que se aproxima em um instrumento da luta proletária por uma nova sociedade: a sociedade socialista.

O Proletariatits Brdzola, fiel ao espírito combativo do Iskra, seguiu a linha revolucionária traçada por Lênin, não se limitando a proclamações gerais ou gestos simbólicos, mas conclamando, de modo categórico e incisivo, à adoção de medidas práticas, resolutas e organizadas para armar o proletariado. O jornal exortava a constituição de destacamentos de combate específicos, cuja função estratégica consistiria em reunir e distribuir armamentos entre os operários, formá-los no manejo das armas e mantê-los em permanente estado de prontidão para intervir nas ruas, conduzir as massas populares em momentos decisivos e organizar a resistência armada frente aos ataques perpetrados pelas Centúrias Negras e por outros instrumentos da reação czarista, instigados diretamente pelo poder estatal.

De igual modo, Proletariatits Brdzola insistia na necessidade imperiosa de um planejamento insurrecional detalhado e territorialmente adaptado: propunha que se elaborassem planos específicos para cada distrito, que se identificassem com precisão os pontos frágeis da “armadura” defensiva do inimigo de classe, que os focos iniciais da ofensiva revolucionária fossem previamente escolhidos de maneira tática, e que as forças proletárias fossem distribuídas de acordo com um conhecimento profundo e científico da topografia local. A vitória da insurreição — afirmava o jornal — não poderia jamais ser fruto da espontaneidade, do improviso ou da paixão momentânea, mas somente da preparação metódica, sistemática e rigorosa, guiada por uma análise concreta da topografia regional e da situação concreta.

Já no seu número inaugural, o jornal publicava um artigo de significativa densidade teórica e amplitude programática, sob o título “Um Governo Revolucionário Provisório e Nossa Tática”, no qual se delineavam as tarefas imediatas da revolução e se estabelecia uma perfeita consonância com as posições táticas defendidas por Lênin — em especial, quanto ao papel de vanguarda do proletariado, à necessidade da insurreição armada e à centralidade da organização partidária como sujeito coletivo da transformação social.

Naquele mesmo período, os mencheviques lançavam, também na Transcaucásia, o seu próprio órgão de imprensa, intitulado Sozial-Demokrat (O Social-Democrata). Frente a essa publicação, o Proletariatits Brdzola assumiu com firmeza o combate ideológico, travando uma intensa polêmica teórica e política, em que desmascarava com precisão a linha oportunista, hesitante e contrarrevolucionária dos mencheviques — linha esta que, ao renegar a insurreição armada e diluir a luta de classes no reformismo parlamentar, representava um obstáculo objetivo ao avanço do movimento revolucionário. Ao criticar o medo dos mencheviques em participar de um governo revolucionário provisório, o jornal citava Engels:

Recorramos, pois, à inteligência de Engels. Nos anos que se seguiram à década de 1870, eclodiu na Espanha uma insurreição de vulto, na qual se colocou objetivamente a questão da formação de um governo revolucionário provisório. Nesse cenário histórico, emergiram com força os bakuninistas — representantes do anarquismo —, que, fiéis ao seu dogma contra qualquer direção, recusavam toda e qualquer forma de ação “de cima”, negando à classe operária o direito de erigir seu próprio poder revolucionário. Tal posição deu origem a uma intensa polêmica com Engels, que respondeu de maneira categórica à vacuidade desse tipo de “princípio”.

“Durante muitos anos, — escreve Engels, os bakuninistas pregaram que toda ação revolucionária de cima para baixo é perniciosa, que tudo deve ser organizado exclusivamente de baixo para cima. Segundo a lógica anarquista, qualquer organização de um poder político, mesmo que se chame provisório ou revolucionário, só pode constituir um novo engodo, que para o proletariado será tão nocivo quanto os governos existentes.”

Engels não apenas refutou essa tese com argumentos precisos, como a ridicularizou abertamente, demonstrando que a própria realidade histórica se encarregou de destruir, de forma impiedosa, essa concepção doutrinária. Os bakuninistas, diante das exigências concretas da luta, viram-se forçados a abandonar seus princípios abstratos e a constituir — contra a própria doutrina que proclamavam — um governo revolucionário. Assim, negaram na prática aquilo que haviam defendido teoricamente: que a criação de tal governo equivaleria a uma nova traição ao proletariado. A vida, portanto, desmoralizou suas teses, impondo-lhes a necessidade de agir de maneira revolucionária, mesmo à revelia de sua ideologia.

Dessa experiência histórica decorre uma lição intransponível: o princípio sustentado pelos mencheviques — de que só é legítima a ação “de baixo”, recusando qualquer participação em um governo revolucionário provisório — revela-se, em sua essência, uma posição anarquista. Trata-se de um princípio que colide frontalmente com a tática da social-democracia revolucionária, e que já havia sido denunciado ao escárnio por Engels. Tal como os bakuninistas, esses mencheviques serão, mais cedo ou mais tarde, desmentida pela própria marcha da luta de classes e, como outrora, será condenada ao ridículo histórico.

Mas mesmo diante de tudo isso, os representantes do menchevismo continuam a afirmar, com insistência obtusa, que sua oposição não decorre de princípios anárquicos, e sim de princípios social-democráticos. Tal afirmação, no entanto, suscita espanto, pois revela uma compreensão profundamente distorcida — e, diríamos, contraditória — do que sejam de fato os princípios do marxismo revolucionário. Tomemos, por exemplo, a sua posição sobre o governo revolucionário provisório e a Duma de Estado. Os mencheviques recusam-se participar de um governo provisório, nascido da luta popular revolucionária, considerando-o contrário aos princípios. Entretanto, defende a participação na Duma de Estado, instituição convocada e legalizada pelo próprio autocrata, surgida dos interesses da monarquia czarista. Ora, como é possível alegar princípios social-democráticos e, ao mesmo tempo, opor-se a um governo revolucionário constituído pelas massas, enquanto se defende a colaboração com um órgão criado pelas forças da reação? Como se pode rejeitar a participação em um poder revolucionário que visa sepultar a autocracia, e, ao mesmo tempo, aceitar participar de uma instituição cujo objetivo é perpetuá-la?

A que princípios, afinal, estão atrelados esses senhores? Aos do liberalismo burguês ou aos do socialismo científico? Seria desejável, em nome da honestidade teórica, que respondessem com clareza a essa questão. Entretanto, não nutrimos muitas esperanças quanto à obtenção de uma resposta direta.

Deixemos, por ora, tais interrogações em suspenso. O essencial é que, ao se lançarem na busca de uma pureza doutrinária abstrata, os mencheviques terminaram por escorregar para o terreno do anarquismo, abandonando na prática as premissas fundamentais do marxismo revolucionário.

Eis, pois, a verdade que agora se revela com nitidez histórica.

Um artigo intitulado “O Decreto do Czar e a Revolução Popular”, publicado no décimo primeiro número do Proletariatits Brdzola, em 15 de agosto de 1905, desmascarava o verdadeiro conteúdo do edito imperial que anunciava a convocação de uma assembleia popular — a Duma — baseada na lei eleitoral redigida pelo ministro Bulygin. O artigo analisava ponto por ponto o edito, demonstrando que o direito ao voto não se estendia ao proletariado e que os camponeses tampouco tinham seus direitos garantidos. A análise caracterizava o edito como uma manobra reacionária do governo czarista, uma tentativa de encobrir todas as forças negras da reação, e conclamava o boicote à Duma de Bulygin. Tal boicote foi assumido e levado à prática com sucesso pelos bolcheviques.

Esse mesmo número trazia ainda o artigo “O Governo Revolucionário Provisório e a Social-Democracia”, que defendia de forma convincente a posição bolchevique de que os sociais-democratas deveriam participar ativamente de tal governo revolucionário.

No número seguinte, o décimo segundo, datado de 15 de outubro de 1905, constava o artigo “Fortalece-se a Reação”, onde se demonstrava que o governo czarista envidava todos os esforços para sufocar a revolução popular.

Balas para o proletariado, promessas falsas aos camponeses, “direitos” para a burguesia — tais são as armas com as quais a reação está se armando.

Este artigo foi redigido na véspera da greve geral de outubro de 1905, momento em que a classe operária russa se aproximava de um novo limiar de confrontação aberta com o regime autocrático. No entanto, Stálin e seus camaradas da Federação Caucasiana do POSDR demonstraram notável clareza estratégica e agudeza de análise. Compreendendo com exatidão a radicalização da conjuntura, souberam orientar politicamente as massas conforme as novas condições objetivas, prevendo que uma nova onda revolucionária estava prestes a varrer todo o território do império. Destacaram que os acontecimentos de setembro, particularmente os levantes em Moscou e São Petersburgo, não eram senão os prenúncios da tempestade que se avizinhava.

No artigo, denunciava-se com contundência a postura ilusória dos mencheviques, os quais se enganavam — e enganavam o proletariado — ao sustentar que havia possibilidade real de se convocar uma Assembleia Constituinte dotada de plenos poderes enquanto o regime czarista permanecesse de pé. Contra essa miragem reformista, reafirmava-se com energia a necessidade imperiosa da preparação imediata para uma insurreição armada de caráter geral, pois somente através da vitória dessa insurreição o povo poderia ter qualquer esperança concreta de libertação política e emancipação social.

Na mesma edição, outro artigo de grande valor político e analítico — intitulado “A Burguesia Prepara a Armadilha” — lançava luz sobre a verdadeira natureza do Congresso de Zemstvos e Cidades, ocorrido em meados de setembro de 1905. Foi nesse congresso que se constituiu formalmente o chamado Partido da Liberdade Nacional, posteriormente conhecido como Partido Constitucional-Democrático, ou simplesmente os Cadetes. O Proletariatits Brdzola desmascarava sem rodeios a hipocrisia política dos Cadetes, revelando que não passavam de representantes da burguesia liberal, avessos tanto ao movimento socialista quanto à própria ideia de uma república democrática. Seu objetivo real não era a destruição da autocracia, mas tão somente sua limitação, e isso apenas na medida em que os poderes absolutos do czar fossem redistribuídos e absorvidos pelas mãos da burguesia.

O artigo advertia ainda que os mencheviques da Transcaucásia seguiam os Cadetes como sombras servis, e que, por meio de seu órgão de imprensa — o Sozial-Demokrat — estavam disseminando entre a juventude operária um engodo ideológico semelhante ao projeto liberal burguês dos Cadetes. Essa política, afirmava o texto, não era senão uma armadilha cuidadosamente urdida para desviar a energia revolucionária da juventude proletária, canalizando-a para os pântanos da legalidade czarista e do reformismo.

O livro de Béria, “Sobre a História das Organizações Bolcheviques na Transcaucásia”, contém numerosos trechos dos artigos de Stálin contra os mencheviques publicados no Proletariatits Brdzola e em outros jornais.

Quando os mencheviques deflagraram um ataque público contra Lênin e os bolcheviques por meio das páginas do Sozial-Demokrat, Stálin respondeu à altura, com firmeza teórica e precisão política. No décimo primeiro número do Proletariatits Brdzola, publicou um texto intitulado “Resposta ao Sotzial-Demokrat”, que imediatamente atraiu a atenção do camarada Lênin, o qual não hesitou em elogiar profundamente sua clareza argumentativa e fidelidade à linha revolucionária. Reconhecendo o valor estratégico e a qualidade teórica do artigo, o Proletary — órgão central dos bolcheviques — republicou o texto sob o título: “O 3º Congresso diante do tribunal dos mencheviques caucasianos”, ampliando seu alcance e consolidando sua repercussão política.

Após a publicação do Manifesto de 17 de Outubro de 1905 — que os mencheviques, com sua cegueira política habitual, saudaram como uma vitória decisiva — Stálin não vacilou em denunciar o erro crasso de tal interpretação. Em uma reunião realizada em Nadzaladevi, subúrbio de Tiflis, assumiu com coragem a tribuna e atacou frontalmente a capitulação oportunista dos mencheviques. Décadas depois, em 1929, o periódico Kommunist (O Comunista) publicaria o testemunho de um camarada presente àquela reunião, oferecendo-nos um valioso registro da intervenção de Koba (Stálin). De acordo com esse testemunho, Stálin iniciou sua fala com uma advertência direta e pedagógica ao público:

“Existe entre vocês um hábito extremamente nocivo, — afirmou ele, — do qual não posso deixar de falar com franqueza. Não importa quem suba a esta tribuna ou o que diga — vocês o aplaudem sem distinção. Se alguém proclama ‘Viva a liberdade!’, há aplausos. Se diz ‘Viva a revolução!’, igualmente. E nisso não há mal. Mas, quando alguém sobe aqui e exclama ‘Abaixo as armas!’, vocês também aplaudem. Pergunto: Que revolução pode vencer sem armas? E que tipo de revolucionário ousaria dizer ‘Abaixo as armas’? Quem fala assim talvez seja um seguidor de Tolstói, mas não é um revolucionário. Seja quem for, é um inimigo da revolução e da liberdade do povo.”

A intervenção causou alvoroço entre os presentes. Alguns murmuravam: “Quem é ele?”; outros, impressionados pela veemência do discurso, comentavam: “Fala com amargura”; “Tem a língua de um jacobino!”

Koba, porém, prosseguiu com serenidade e convicção: “E o que precisamos para alcançar a vitória real? Precisamos de três coisas: primeiro, armas; segundo, armas; e terceiro — de novo e sempre — armas!”

A essa proclamação inequívoca, seguiu-se uma prolongada salva de aplausos. O orador, então, desceu da tribuna, tendo deixado marcada uma posição de absoluto rigor revolucionário e lucidez estratégica diante da indecisão e do oportunismo que ameaçavam paralisar a luta popular naquele momento crítico.

Este episódio, que ocupa lugar de destaque na crônica da Revolução Russa, ilustra com clareza exemplar a perfeita identidade entre o pensamento e a ação de Lênin e Stálin — dois gênios da revolução proletária, que, unidos pela teoria marxista e pela prática bolchevique, edificaram os alicerces da arte científica da insurreição e da tomada do poder.

Na luta contra os mencheviques da Transcaucásia, o camarada Stálin defendeu, explicou e propagou a teoria da revolução de Lênin, o programa estratégico da ditadura democrática do proletariado e do campesinato, a transição da revolução democrático-burguesa à revolução socialista, e destacou as tarefas táticas do proletariado.(4)

Em novembro de 1905, sob a firme direção do camarada Stálin, realizou-se a 4ª Conferência Bolchevique da Federação Caucasiana do POSDR. A conferência contou com a participação ativa dos comitês revolucionários de Baku, Imeretino-Mingreliano, Tíflis e Batum, além do combativo Grupo da Guria. Nesse conclave estratégico, foi tomada a decisão unânime de intensificar, com máxima energia e determinação, os preparativos para a insurreição armada. Deliberaram-se ainda diversas medidas organizativas de vulto, dirigidas à consolidação das estruturas partidárias e à elevação do grau de prontidão revolucionária das massas trabalhadoras da região caucasiana.

Pouco antes da deflagração da insurreição, realizou-se a histórica Conferência Bolchevique de Tammerfors, marco de significação profunda na trajetória do Partido. Para mim, foi uma honra inestimável participar de tal reunião e compartilhar da mesma tribuna com os camaradas Lênin e Stálin. Trabalhei ao lado de Stálin na comissão responsável pela redação da resolução política, uma experiência que me proporcionou não apenas aprendizado prático, mas também o testemunho direto da clareza estratégica e do rigor teórico que ele imprimia às tarefas do momento.

É profundamente lamentável que, até os dias de hoje, nem mesmo um folheto tenha sido publicado dedicado exclusivamente àquela conferência decisiva. A perda de muitos dos documentos relativos a Tammerfors impõe a nós, comunistas e historiadores comprometidos com a verdade da luta revolucionária, o dever inadiável de reconstruir o quadro político dessa conferência com base nos testemunhos, nos vestígios disponíveis e no método rigoroso da análise marxista. Resgatar a memória dessa etapa é resgatar uma parte vital da história da construção bolchevique, da preparação insurrecional e do surgimento da vanguarda proletária como força dirigente da revolução.

Encontrei-me pela primeira vez com Lênin em dezembro de 1905, na Conferência Bolchevique de Tammerfors (Finlândia). — escreve Stálin — Eu aguardava o encontro com a águia das montanhas de nosso Partido, o grande homem, grande não só politicamente, mas, se permite, também fisicamente, pois em minha imaginação eu figurava Lênin como um gigante de postura imponente e majestosa. Qual não foi meu desapontamento, quando vi um homem perfeitamente comum, de estatura abaixo da mediana e que não se diferençava em nada, absolutamente em nada, dos demais mortais.

É geralmente aceito que um “grande homem” deva chegar tarde às reuniões, enquanto os assistentes esperam sua aparição com o coração batendo; que, quando o grande homem vai surgir, corra o sussurro de aviso: “Silêncio! Silêncio! Ele está vindo!” Parecia-me que esse cerimonial não era supérfluo, porque cria um ambiente de expectação, inspira respeito. Qual não foi meu desapontamento, quando soube que Lênin chegara à reunião antes dos delegados e que, afastado a um canto, mantinha, sem qualquer afetação, a mais banal das conversações com os mais simples dos delegados à Conferência. Não posso deixar de dizer-lhes que, na ocasião, aquilo me pareceu violar um tanto certas regras imprescindíveis.

Foi somente mais tarde que compreendi que esta simplicidade e esta modéstia, este desejo de passar despercebido ou pelo menos de não chamar a atenção, de não pôr em relevo sua alta posição, eram traços que constituíam um dos mais fortes méritos de Lênin como o novo líder das massas, das massas simples e comuns das “camadas inferiores” mais profundas da humanidade.

Stálin recorda ainda, com entusiasmo, os dois discursos proferidos por Lênin durante aquela conferência, os quais, lamentavelmente, não chegaram até nós em forma escrita:

Os dois discursos que Lênin pronunciou naquela Conferência foram magníficos. Um versou sobre a situação política e o outro sobre a questão agrária. Infelizmente, não foram conservados. Foram discursos cheios de inspiração, que despertaram em toda a Conferência o mais caloroso entusiasmo. O extraordinário poder de convicção, a simplicidade e a clareza da argumentação, a frase curta e facilmente compreensível para todos, a ausência de afetação, de gestos teatrais, de linguagem requintada para produzir efeito, tudo isso pôs em relevo a superioridade dos discursos de Lênin relativamente aos discursos dos oradores “parlamentares” comuns.

No entanto, segundo Stálin, havia algo ainda mais impactante do que o conteúdo em si:

Não foi, porém, este aspecto dos discursos de Lênin o que mais me cativou então e, sim, a força invencível da sua lógica que, embora um tanto seca, assenhoreou-se totalmente do auditório, eletrizou-o pouco a pouco e depois, como se diz, cativou-o por completo. Lembro-me de que muitos delegados diziam: “A lógica dos discursos de Lênin é como um poderoso tentáculo que agarra por todos os lados e de cujo abraço é impossível livrar-se: não há outro recurso que render-se ou preparar-se para a derrota total”. Creio que esta particularidade dos discursos de Lênin era a característica mais forte de sua arte oratória.”

As qualidades notáveis que Lênin encarnava — a simplicidade revolucionária, a clareza lógica, a firmeza moral e a profunda conexão com as massas — não eram atributos exclusivos de sua figura extraordinária. Eram igualmente traços distintivos de Stálin, que os expressava não apenas em momentos excepcionais, mas também em sua prática cotidiana, particularmente no labor paciente e estratégico de formação de quadros do Partido e da juventude comunista. Era nesse trabalho educacional e organizativo — destinado a forjar dirigentes políticos do tipo leninista, moldados pela doutrina marxista e temperados pela luta de classes — que se revelava a continuidade orgânica entre os dois maiores construtores do Partido Bolchevique.

Mesmo diante da derrota da insurreição de dezembro de 1905, os bolcheviques não se deixaram abater por desânimo ou hesitação. Ao contrário, a firmeza revolucionária de seus quadros mais avançados mostrou-se ainda mais necessária. Foi nesse momento tempestuoso, de refluxo tático e reorganização estratégica, que Stálin brilhou como exemplo de tenacidade inquebrantável, oferecendo ao movimento um modelo de perseverança e análise lúcida. Seu panfleto “Dois Choques”, escrito em janeiro de 1906, constitui uma obra de inegável valor político, sintetizando com clareza marxista os aprendizados cruciais do ciclo revolucionário de 1905.

O texto analisa dois eventos centrais: o massacre de 9 de janeiro de 1905 — o chamado “Domingo Sangrento” — e a insurreição de dezembro do mesmo ano. Em 9 de janeiro, os operários, ainda nutrindo esperanças na figura do czar, marcharam pacificamente rumo ao Palácio de Inverno, conduzindo ícones religiosos e retratos do “pequeno pai”, com o intuito de implorar-lhe por pão e justiça. Mas o czar respondeu com balas e baionetas, destruindo com sangue a fé popular. Diante da traição, o proletariado de Petrogrado iniciou um processo de despertar político, e muitos diziam com amargura e decisão: “O czar atirou contra nós; agora é nossa vez de responder.”

Contudo, como demonstrou Stálin, as ações de janeiro não foram acompanhadas por uma mobilização simultânea em escala nacional. O campesinato permanecia ainda disperso, o proletariado de outras regiões não havia entrado em cena com a necessária força, e o Partido — ainda em processo de consolidação — sofria os efeitos das dissensões internas, o que impediu a formação de uma direção centralizada e coesa.

A insurreição de dezembro, por sua vez, apresentou um panorama radicalmente distinto. Ao longo de onze meses de lutas intensas e politicamente temperadas, o proletariado havia amadurecido. Já não brandia ícones nem cantava hinos religiosos, como “Deus salve o Czar”; agora empunhava bandeiras vermelhas, trazia nos braços retratos de Marx e Engels, e entoava hinos revolucionários como a La Marseillaise. Já havia armas nas mãos da classe operária, ainda que em quantidade insuficiente. E se, em janeiro, a direção do movimento estivera nas mãos de um padre, agora era o Partido do proletariado que se colocava à frente das massas.

Ainda assim, apontou Stálin com precisão crítica, a insurreição de Moscou fracassou por duas razões principais: a fragmentação das fileiras proletárias, resultado da desunião interna do Partido, e o erro tático fundamental de adotar uma postura defensiva, quando as condições exigiam uma ofensiva audaz e determinada. A conclusão que Stálin extrai dessa análise histórica é de uma clareza estratégica irrefutável:

Em suma, — afirmava ele, — a vitória da insurreição exige um Partido unido, uma insurreição armada organizada pelo Partido e uma tática ofensiva.

Respondendo aos lamentos dos mencheviques, que viam na derrota momentânea da insurreição de dezembro um sinal de fracasso irreversível da classe operária, Stálin — com a lucidez e o vigor próprios de um dirigente revolucionário forjado na luta — declarou de forma categórica:

Não, camaradas! O proletariado não foi vencido. Ele apenas recuou por um momento, e agora se prepara para um novo e glorioso assalto. O proletariado russo não abandonará sua bandeira ensanguentada; ela tem sido, é, e será a única bandeira digna do proletariado russo.

Essas palavras, que não apenas confortavam, mas também reorientavam a luta, revelam a confiança inabalável de Stálin na força histórica da classe trabalhadora e na inevitabilidade da vitória revolucionária, desde que esta seja guiada por um Partido revolucionário, unido e combativo.

No ano seguinte, em 1906, Stálin participou como delegado do 4º Congresso do POSDR — o chamado Congresso da Unidade. Sua intervenção nesse congresso foi marcada por clareza teórica e precisão política, tornando-se um dos momentos mais brilhantes de sua atuação naquele período. Ali, diante da tentativa de conciliação das tendências inconciliáveis, Stálin não hesitou em delimitar com nitidez as linhas divisórias fundamentais entre a política revolucionária bolchevique e o oportunismo menchevique:

Ou a hegemonia do proletariado, — afirmou ele, — ou a hegemonia da burguesia democrática — é assim que a questão se coloca dentro do Partido, e é justamente aí que residem nossas divergências.

Essas palavras vão ao cerne da luta interna no seio do Partido: as divergências não eram de forma, mas de conteúdo, não eram táticas meramente, mas estratégicas — diziam respeito ao papel histórico das classes na revolução, à missão dirigente do proletariado e, portanto, à própria razão de ser do Partido como instrumento de sua vanguarda.

A amizade entre Stálin e Lênin, já solidamente assentada na comunidade de ideias e na afinidade revolucionária que precedera o próprio contato pessoal entre ambos, fortaleceu-se ainda mais nesse 4º Congresso, tornando-se não apenas um vínculo humano, mas uma aliança ideológica entre dois dos maiores artífices da revolução socialista na Rússia. Unidos não apenas por convicções comuns, mas por uma mesma linha estratégica, ambos elevariam o Partido Bolchevique à condição de força dirigente da primeira revolução proletária vitoriosa da história.

Na ocasião do 4º Congresso do Partido, Stálin publicou um panfleto incisivo intitulado “O Momento Atual e o Congresso de Unificação do Partido Operário”, no qual, com firmeza teórica e combatividade política, atacava frontalmente as posições mencheviques e defendia, em todos os pontos essenciais, a linha estratégica de Lênin.

Simultaneamente, sob o pseudônimo de I. Bessoshvili, Stálin publicou diversos artigos no jornal Elva (O Relâmpago), nos quais reafirmava com clareza dialética e consistência argumentativa a posição de Lênin no Congresso, com especial ênfase na questão agrária — tema que ganhava crescente centralidade na estratégia revolucionária, dada a insatisfação profunda das massas camponesas. Ainda que o Congresso tenha sido formalmente designado como de unificação, a realidade política demonstrava o contrário: a unidade alcançada fora puramente formal. Na prática, bolcheviques e mencheviques continuavam a manter estruturas organizativas e orientações distintas, sendo cada vez mais evidente o caráter oportunista da fração menchevique.

Diante disso, os bolcheviques passaram à ofensiva, compreendendo que a tarefa do momento era preparar as condições para uma cisão política definitiva, com o objetivo estratégico de isolar a direção menchevique e conquistar para o campo do marxismo revolucionário os setores operários ainda vinculados à social-democracia ampla.

Logo após o encerramento do 4º Congresso, Stálin organizou com êxito a criação do Birô Regional Bolchevique da Transcaucásia — centro diretivo regional que se converteria em uma verdadeira alavanca da luta pelo novo congresso do Partido. A missão histórica desse futuro congresso não era outro senão consolidar a unidade real do movimento operário russo sob a bandeira intransigente do marxismo-leninismo, rompendo de vez com a política de conciliação de classes.

Essa perspectiva se concretizou no 5º Congresso do POSDR, realizado em Londres, no qual Stálin desempenhou papel ativo na denúncia das manobras mencheviques, dando continuidade à linha de combate ideológico travada nos anos anteriores. Após o encerramento do Congresso, publicou um valioso documento intitulado “O Congresso de Londres do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (Apontamentos de um Delegado)”, no qual traçava um panorama detalhado das deliberações, dos embates políticos travados no interior do Congresso e de suas repercussões estratégicas.

Segundo a análise de Stálin, o desfecho mais significativo desse Congresso não foi uma nova cisão, como temiam alguns, mas sim o estreitamento substancial da unidade partidária e a fusão política dos elementos mais conscientes e combativos do proletariado russo em um único Partido, indivisível, guiado por uma linha de classe coerente. A unificação efetiva da vanguarda operária sob a direção do marxismo revolucionário não era apenas um resultado organizativo, mas o reflexo de uma maturação política da classe. Como afirmaria o próprio Stálin:

A unificação efetiva dos trabalhadores avançados de toda a Rússia em um único Partido russo, sob a bandeira do socialismo revolucionário — eis o verdadeiro significado do Congresso de Londres, esta é sua importância geral.

A importância histórica do Congresso de Londres se intensifica ainda mais ao se considerar o contexto em que ocorreu: naquele momento, o regime czarista preparava o golpe reacionário de 3 de junho, por meio do qual dissolveria a recém-eleita Segunda Duma, intensificando a repressão e preparando uma nova ofensiva contra o movimento operário. Assim, a construção de um Partido revolucionário unificado, coeso e ideologicamente armado tornava-se condição indispensável para enfrentar a nova fase da luta de classes.

As organizações bolcheviques, duramente atingidas pela repressão czarista, vinham sendo sistematicamente esmagadas pelas autoridades; a onda revolucionária que havia sacudido o Império Russo começava a refluir; a ofensiva da reação se intensificava, e a revolução recuava temporariamente, abrindo uma nova fase da luta de classes.

Neste momento histórico de inflexão, Lênin e Stálin orientaram as massas não ao desânimo, mas à preparação paciente e metódica para uma nova ofensiva. Ensinaram ao Partido e ao proletariado como reorganizar suas fileiras sob as novas condições adversas, como adaptar a tática à conjuntura e como preservar e expandir as conquistas revolucionárias em meio à contraofensiva da burguesia e da autocracia. Era o momento de educar politicamente os militantes, de forjar novos quadros e de semear a consciência revolucionária com vistas à virada inevitável da maré.

Apesar da repressão crescente, Stálin concentrou sua atividade revolucionária na cidade operária de Baku, centro estratégico da indústria petrolífera e foco de intensas contradições de classe. Anos mais tarde, relataria esse período em artigo publicado no Zarya Vostoka, em 10 de junho de 1926:

Dois anos de atividade revolucionária entre os operários de Baku serviram para me forjar não apenas como teórico, mas como um quadro prático da luta de classes. Meus contatos próximos com operários como Vatsek e Saratovets, por um lado, e os agudos e tempestuosos conflitos entre os operários e os proprietários das petrolíferas, por outro, ensinaram-me pela primeira vez o que significa conduzir verdadeiramente as grandes massas operárias. Ali, em Baku, recebi, portanto, meu segundo batismo de fogo revolucionário.

Nesse período particularmente difícil da reação, Stálin revelou-se um organizador e propagandista de capacidade superior, desempenhando um papel essencial na manutenção da atividade revolucionária e, sobretudo, no enraizamento do bolchevismo entre os operários da Transcaucásia. Seu maior serviço à causa nesse momento foi, sem dúvida, a conquista da classe operária de Baku à bandeira do Partido Bolchevique.

Durante todo o ciclo da primeira revolução russa, Stálin atuou lado a lado com Lênin na edificação das bases programáticas, organizativas e teóricas do nosso Partido. Sua contribuição teórica foi de valor inestimável: elaborou de forma autônoma os fundamentos da teoria marxista da questão nacional, oferecendo ao movimento revolucionário um arcabouço sólido para lidar com as especificidades nacionais dentro da estrutura do socialismo científico. Simultaneamente, contribuiu de modo independente para o desenvolvimento e aprofundamento da filosofia marxista-leninista, aplicando o método dialético às novas condições históricas concretas.

Não menos importante foi sua atuação prática: dirigiu com energia incansável o movimento revolucionário na Transcaucásia, demonstrando domínio técnico e político na construção da organização partidária. A esse esforço se somou a criação de uma imprensa marxista clandestina voltada para a região, cujas publicações exerceram influência decisiva na formação ideológica dos militantes e na consolidação do bolchevismo entre os povos caucasianos.

É digno de nota que, nesse mesmo período, quando Karl Kautsky publicou na Alemanha um panfleto tratando das causas da Revolução Russa, tanto Lênin quanto Stálin realizaram, de forma independente e simultânea, traduções da obra. Cada um escreveu um prefácio próprio, nos quais se manifesta, com impressionante nitidez, a total identidade de concepção entre os dois dirigentes. Essa convergência não era fortuita, mas produto de uma unidade política forjada na luta teórica e prática pela hegemonia do proletariado na revolução.

Assim, dois mestres da arte revolucionária, dois arquitetos do marxismo-leninismo, combateram lado a lado as ideias oportunistas que ameaçavam o movimento operário, e lutaram incansavelmente pela hegemonia ideológica do socialismo científico como direção consciente e organizada do processo revolucionário.