Era relativamente fácil atuar politicamente durante os momentos de ascenso revolucionário, quando o entusiasmo das massas inflamava as ruas, quando cada coração pulsava com a paixão ardente da luta libertadora, e vastas multidões de operários e camponeses se lançavam com confiança à ação direta. Contudo, infinitamente mais difícil era manter viva a chama da organização comunista durante o refluxo, sob o regime de reação encarnado pelo ministro Stolypin, quando o terror estatal voltava com fúria contra os avanços obtidos no calor da revolução.
Ao recordar esse período sombrio, em seu artigo “A propósito do Décimo aniversário de Fundação do Pravda (Recordações)”, publicado na edição de 5 de maio de 1922, Stálin traça um retrato lúgubre, mas necessário, da repressão czarista e do estado de espírito das massas trabalhadoras:
Os membros mais jovens do Partido, é claro, não experimentaram os encantos desse regime e não o recordam. Quanto aos mais velhos, estes devem recordar as expedições punitivas de odiosa memória, os ataques de bandidos contra as organizações operárias, os açoitamentos em massa de camponeses e, como cobertura para tudo isso, a Duma das Centúrias Negras e dos Cadetes.
A opinião pública acorrentada, a lassidão e apatia generalizadas, a miséria e o desespero entre os trabalhadores; o campesinato esmagado e aterrorizado; uma escória de policiais, latifundiários e capitalistas à solta por toda parte — tais eram os traços típicos da “pacificação” de Stolypin.
O triunfo do chicote e das forças mais obscuras foi completo. Naquele momento, a vida política da Rússia era definida como uma “abominação da desolação”.
Essas palavras, que carregam o peso da memória histórica e da experiência concreta de quem resistiu às noites reacionárias, expressam com clareza o caráter de classe do regime czarista em sua fase de contraofensiva. O czarismo, ainda transtornado pelo pânico que experimentara quando a Revolução de 1905 atingira seu ápice, procurava agora, no ciclo do refluxo, aterrorizar os trabalhadores e vingar-se do povo.
O regime czarista, em sua sanha vingativa contra o proletariado e o campesinato insurgentes, encharcava as ruas das cidades e das aldeias com sangue operário e camponês, tentando, pela violência nua e brutal, extirpar todos os germes de consciência e organização que haviam escapado ao seu controle durante a insurreição. Expedições punitivas percorriam o país como tropas de ocupação interna, semeando o terror em nome da “ordem” autocrática.
Particularmente nas províncias de Tiflis e Kutais — centros destacados do movimento revolucionário na Transcaucásia durante a primeira revolução — a repressão alcançou níveis de selvageria sistemática. Apenas no ano de 1907, segundo registros administrativos, nada menos que 3.074 pessoas foram detidas por ordem direta das autoridades czaristas.
Em Baku, como em toda a Rússia, os patrões também procuravam espoliar os trabalhadores de suas conquistas revolucionárias. Em uma “Cartas do Cáucaso”, publicada na décima primeira edição do órgão ilegal bolchevique, o Sotzial-Demokrat (de 13 de fevereiro de 1910), Stálin descreveu as condições do proletariado de Baku durante o período de reação da seguinte forma:
Longe de diminuírem, as repressões econômicas estão, ao contrário, tornando-se cada vez mais severas. Estão sendo retirados os “bônus” e os subsídios de aluguel. O trabalho em três turnos (de oito horas cada) está sendo substituído por dois turnos (de doze horas cada), sendo o trabalho compulsório em horas extras tornado prática comum. A assistência médica e os gastos com educação estão sendo reduzidos ao mínimo (enquanto os magnatas do petróleo gastam mais de 600 mil rublos por ano apenas com a polícia!). Já foram suprimidas as cantinas públicas e os salões populares. Os fundos das comissões do petróleo e das fábricas foram confiscados e os sindicatos operários estão sendo completamente ignorados. Os camaradas conscientes de classe continuam a ser demitidos. As multas e as surras estão sendo retomadas.
Mas isso foi mais tarde, em 1909 e 1910; em 1907 e 1908, a classe operária de Baku ainda se encontrava em tal nível de combatividade que os patrões não ousavam atacar duramente os trabalhadores com todo o peso de sua repressão. A força das organizações operárias bolcheviques naquele tempo se manifestava no fato de que era possível continuar publicando o Bakinski Proletary (O Proletário de Baku).
O Gudok (A Sirene) continuava a circular legalmente; Sergo Ordzhonikidze dizia que este jornal, enquanto na Rússia a reação se impunha como um silêncio de cemitério, reinando suprema, a voz revolucionária da Sirene ainda soava em Baku e era ouvida por todo o país.
Durante este período, Sergo Ordzhonikidze, Kliment Voroshilov, Alyosha Djaparidze, Stopani, Suren Spandaryan, Stepan Shaumyan, Vanya Fioletov, V. P. Nogin (Makar), Vatsek, Alliluyev, Gvantsaladze (Apostol), Radus-Zenkovich (Egor) e outros trabalharam em diversos momentos com Stálin em Baku. Voroshilov era secretário do Sindicato dos Petroleiros no distrito de Bibi-Eibat e atuava como caldeireiro na empresa Oletm. Que Voroshilov viesse a comandar o Exército Vermelho Soviético em um território que cobria um sexto do globo, e que os homens que organizavam os operários de Baku se tornariam os construtores e arquitetos do primeiro Estado Socialista da história, eram pensamentos ainda muito distantes das mentes dos magnatas do petróleo de Baku — os Mantachevs, os Lianozovs, os Rothschilds e os Nobels.
Para dirigir todo o trabalho dos bolcheviques, foi estabelecido um Comitê de Baku, com um Birô Executivo dirigido por Stálin. Cada distrito de Baku possuía seu Comitê Distrital. Além disso, foi criada a organização Gummet, para atuar entre os operários maometanos. Stálin atuava em todos os distritos, mas trabalhou particularmente nos locais onde se exigia uma luta determinada contra os mencheviques, que também tentavam estabelecer um centro permanente na cidade. Em especial, dedicou-se ao trabalho no distrito de Bibi-Eibat, onde os mencheviques haviam se entrincheirado e onde ainda sobreviviam remanescentes da organização shendrikovista. As atividades do Comitê de Baku desempenharam, portanto, um papel de elevada importância no movimento revolucionário do proletariado russo nos anos anteriores.
No texto intitulado “A Conferência e os Trabalhadores”, Stálin mais tarde forneceu a seguinte descrição do papel desempenhado pela organização de Baku no movimento operário:
A primeira greve geral em Baku, na primavera de 1903, marcou o início das famosas greves e manifestações de julho nas cidades do sul da Rússia; a segunda greve geral, em novembro e dezembro de 1904, serviu como sinal para as lutas gloriosas de janeiro e fevereiro em toda a Rússia. Em 1905, o proletariado de Baku — rapidamente recuperado do massacre armênio-tártaro — lança-se à luta, contagiando “todo o Cáucaso” com seu entusiasmo. Desde 1906, mesmo após o refluxo da revolução, Baku não se “silenciou” e celebra, com vigor proletário, o Primeiro de Maio com mais intensidade do que qualquer outra localidade da Rússia, despertando sentimentos de nobre inveja em outras cidades.
A literatura bolchevique, tanto legal quanto clandestina, produzida nesse período — em especial os panfletos e artigos redigidos por Stálin e impressos nas gráficas clandestinas da Transcaucásia — atesta, de forma inequívoca, a crescente influência ideológica e política do bolchevismo entre as massas operárias. As reuniões de massa e os debates públicos, frequentemente organizados com ampla participação proletária, reuniam destacados militantes como Stálin, Voroshilov, Ordzhonikidze e outros camaradas, que, com firmeza teórica e vigor revolucionário, enfrentavam abertamente os mencheviques, os socialistas-revolucionários e os anarquistas, desmontando suas ilusões e desmascarando suas posições oportunistas perante os olhos atentos dos trabalhadores.
Imediatamente após o encerramento do 5º Congresso do POSDR, realizado em Londres, e da subsequente dissolução da Segunda Duma pelo regime czarista, os mencheviques apressaram-se, como era de se esperar de uma fração conciliadora e hostil à luta de classes, em dissolver as combativas organizações de trabalhadores de Baku. Em resposta, os bolcheviques, com espírito de resistência e consciência de sua missão histórica, protestaram energicamente contra tal traição e se empenharam na restauração dessas organizações fundamentais à causa revolucionária.
Stálin, à frente desse processo, concentrou seus esforços na criação de um centro político dirigente em Baku, que fosse genuinamente eleito pela base partidária, mantivesse relações orgânicas com os comitês distritais e detivesse a confiança e o respeito das massas operárias.
Em um panfleto publicado em agosto de 1907, em nome da Comissão Organizadora que englobava os distritos de Balakhani, Bibi-Eibat, Cherry Gorod, Bely Gorod e Morskov, bem como o grupo maometano Gummet, vinculado às organizações bolcheviques de Baku do POSDR, Stálin conclamava os operários a rejeitarem a direção menchevique daquele centro ilegítimo, que operava à margem do Partido e das massas. Denunciava-o como um corpo estranho à luta de classes, desprovido de qualquer ligação orgânica com o movimento operário, seguidor de uma linha oportunista e pequeno-burguesa, totalmente divorciado do espírito e da vontade combativa do proletariado de Baku.
O proletariado de Baku, — afirmava o texto, — nutria uma legítima desconfiança em relação a esse centro, que não apenas fracassou em dirigir a luta proletária, como também se arrastou atrás dos acontecimentos e combateu abertamente a maioria dos distritos.
Diversos problemas assolaram a organização partidária de Baku. A dissolução da Duma do Estado deu origem a uma campanha grevista e cogitou-se a realização de uma conferência com os patrões do petróleo. Realizou-se também uma conferência dos ferroviários, além de uma conferência de quatro distritos de Baku e outra entre representantes de diferentes setores para intercâmbio de informações. Surgiu, então, a questão das eleições para a Terceira Duma do Estado; panfletos tiveram de ser impressos em azerbaijano e armênio, a fim de combater a propaganda nacionalista instigada, de um lado, pelos servidores do governo czarista, e de outro, pelos Dashnaks, Bund(1) e mencheviques. O centro dirigente menchevique ignorou completamente todos esses eventos.
A questão de estabelecer um centro bolchevique, nos moldes dos centros de Moscou e São Petersburgo, foi então colocada com clareza diante dos trabalhadores. A decisão da Comissão Organizadora dos distritos mencionados em favor dessa proposta foi prontamente apoiada pelos demais distritos, e assim um centro bolchevique foi fundado. Este desempenhou um papel importante no desenvolvimento do movimento revolucionário em Baku.
Não houve sequer um único evento do movimento operário em Baku ao qual esse centro dirigente não tenha reagido com a mais elevada energia revolucionária, e Stálin desempenhou um papel excepcionalmente importante em suas atividades.
Em conexão com o processo eleitoral para a Terceira Duma de Estado, ocorrido em agosto de 1907, foi publicado um panfleto em nome de diversos comitês distritais bolcheviques, no qual se expunha com clareza a linha revolucionária frente ao teatro parlamentar organizado pelo regime czarista. O panfleto afirmava, de maneira inequívoca, que, embora fosse impossível a existência de uma verdadeira representação popular sob a estrutura da Duma czarista — instituída com o propósito de iludir e conter o ímpeto revolucionário das massas —, ainda assim os operários e camponeses conscientes deveriam participar das eleições, não com ilusões, mas com o firme propósito de desmascarar perante o povo as vis maquinações do governo autocrático.
O objetivo dos bolcheviques, ao participar dessa farsa institucional, não era outro senão utilizar a tribuna eleitoral como meio de agitação revolucionária, conclamando as massas populares a romperem com a passividade, a exporem o caráter antipopular do czarismo e a iniciarem uma nova fase de luta ativa, orientada para a derrubada do regime monárquico e para o estabelecimento de uma república democrática, como etapa necessária à ditadura do proletariado.
O panfleto instava os trabalhadores a se apresentarem nas urnas como força organizada, não para legitimar a Duma, mas para denunciar sua essência contrarrevolucionária e afirmar, com voz potente e combativa, sua lealdade inabalável às palavras de ordem revolucionárias que haviam sido proclamadas nas jornadas gloriosas de outubro e dezembro de 1905. Tratava-se de manter viva a memória dos mártires da insurreição e de reafirmar, perante os olhos dos inimigos de classe, que o proletariado russo não havia recuado em sua missão histórica — apenas recarregava forças para novos embates.
Em 22 de agosto de 1907, o Gudok publicou um artigo não assinado, redigido por Stálin, sob o título “Entre os Social-Democratas”. O texto representava uma enérgica refutação às ideias reacionárias e desorganizadoras do anarquismo, que, em meio ao ambiente de retrocesso político após a dissolução da Segunda Duma e o avanço da reação, havia encontrado terreno fértil entre elementos desclassificados, intelectuais decadentes e até mesmo criminosos comuns. Contra essa influência deletéria, o panfleto conclamava os operários e camponeses a se unirem às organizações proletárias, lutarem por melhorias nas condições econômicas imediatas e manterem-se firmemente comprometidos com os objetivos históricos traçados pela classe operária organizada: a derrubada da autocracia e a edificação do socialismo.
Pouco tempo depois, em setembro de 1907, em resposta ao covarde assassinato de Khanlar — operário politicamente avançado e empregado da Companhia Naphtalan — o Comitê Distrital de Bibi-Eibat da organização bolchevique de Baku publicou um panfleto, redigido por Stálin, que homenageava o mártir revolucionário e explicava o papel histórico dos operários avançados como alvos prioritários da repressão burguesa. No panfleto, lia-se:
O caso de Khanlar é o nosso caso. Os assassinos que atiraram em Khanlar atiraram em nós, os operários avançados. Ao nos atacar, os servidores do capital queriam desorganizar as fileiras de nossos camaradas mais conscientes, a fim de, posteriormente, apertar o laço em torno do pescoço do proletariado de Baku.
Diante do crime, os bolcheviques convocaram os operários a largarem suas ferramentas e exigirem a imediata demissão dos assassinos — Djafar e Abuzarbek. Seguiu-se, então, uma greve política de duas semanas, cujo significado profundo foi expresso em novo panfleto, nos seguintes termos:
Mostraremos ao mundo inteiro que Khanlar não estava sozinho, que todo operário avançado é sustentado por um exército de muitos milhares de trabalhadores que estão firmemente dispostos a proteger seus camaradas e dirigentes.
A importância política e simbólica de Khanlar foi também imortalizada em um obituário publicado na quinta edição do Gudok, datada de 14 de outubro de 1907, no qual Stálin sintetizou, com concisão e força expressiva, o caráter do combatente caído:
Ele combinava o fogo, a paixão da alma proletária com a dor e o fardo do camponês.
Nesse mesmo contexto de ofensiva reacionária e atentados sistemáticos contra os quadros revolucionários, o Comitê de Baku do POSDR circulou, em agosto de 1907, uma carta interna, dirigida exclusivamente aos membros do Partido, tratando da necessidade de organizar destacamentos de autodefesa. Os mencheviques, dando sequência à sua política de desmobilização e conciliação, haviam dissolvido seus destacamentos de combate, propondo em seu lugar a criação de um comitê para onde os trabalhadores deveriam entregar suas armas. Justificavam essa rendição com base em uma interpretação oportunista da decisão do Congresso de Londres, que havia proposto a dissolução das unidades de combate, mas jamais negara aos operários o direito de se defenderem contra os ataques das Centúrias Negras.
A realidade impunha outra lógica: os assassinatos de militantes como Khanlar, Tuckhin, Lyssenin e de diversos operários nos distritos ferroviários e industriais demonstravam que o proletariado bolchevique estava sob ataque sistemático. Em resposta, o Comitê Bolchevique de Baku publicou novo panfleto no qual informava os trabalhadores sobre a decisão de organizar, de maneira imediata, destacamentos de autodefesa armada, destinados a proteger os camaradas avançados contra os inimigos declarados e também contra os agentes ocultos da reação. As Centúrias Negras agiam de forma clandestina, e era necessário, portanto, que o proletariado construísse suas próprias forças de proteção. O Comitê conclamava os trabalhadores a fornecerem apoio moral e material ao destacamento, compreendendo que a autodefesa organizada era uma condição indispensável para a sobrevivência e o avanço do movimento revolucionário.
O mandato que Stálin elaborou posteriormente para os deputados operários da Quarta Duma do Estado é bem conhecido, mas menos se sabe sobre o fato de que ele também redigiu o mandato para os deputados da Terceira Duma do Estado. Este mandato era um desdobramento das resoluções do V Congresso (Londres) do POSDR, no qual os bolcheviques saíram vitoriosos. Foi endossado por uma assembleia de representantes da cúria operária na cidade de Baku, em 22 de setembro de 1907. Declarava que os deputados social-democratas deveriam formar um grupo separado na Duma do Estado e que, sendo representantes de um partido definido, deveriam manter o contato mais estreito possível com o Partido, submeter-se à sua direção e seguir as instruções do Comitê Central.
A principal tarefa deste grupo na Duma do Estado era a de auxiliar a educação de classe do proletariado e ajudar este último a desempenhar seu papel como dirigente político de todo o povo trabalhador.
O grupo tinha como meta seguir uma linha de classe proletária coerente, distinta da de todos os demais partidos — desde os cadetes até os socialistas-revolucionários. Os deputados operários estavam indo à Duma do Estado não para fins legislativos, mas para utilizá-la como tribuna revolucionária. Essas eram, em linhas gerais, as diretrizes do mandato aos deputados da Terceira Duma.
Num panfleto publicado em novembro de 1907, em conexão com a abertura da Terceira Duma do Estado, foi salientado que os deputados operários na Duma só poderiam atuar com êxito se as massas populares fossem mantidas constantemente informadas do que se passava no seio da Duma, e se as organizações do Partido explicassem às massas que todas as esperanças de conquistar a satisfação de suas reivindicações por vias pacíficas, sem derramamento de sangue e dentro da via “parlamentar”, eram vãs.
No início de 1908, realizou-se a primeira reunião do Conselho dos Delegados de Fábrica dos trabalhadores e empregados da indústria petrolífera, para eleger representantes a uma conferência com os patrões. Esta conferência revelou o quanto a influência do Partido Bolchevique entre os operários de Baku havia crescido. Quando os patrões perceberam que seus planos de manipular a conferência em seu favor não estavam dando certo, lançaram um ataque contra os trabalhadores: começaram a demitir os delegados mais influentes, a retaliar os grevistas, fomentar o ódio nacional e incitar os trabalhadores a ações isoladas, com o objetivo de esmagá-los pouco a pouco.
A 22ª edição do Gudok, datada de 9 de março de 1908, publicou um artigo assinado por Stálin, sob o título “Os Proprietários de Petróleo Mudam Suas Táticas”. Nele, o autor analisava a nova orientação adotada pelos patrões da indústria petrolífera durante a conferência com os trabalhadores, desmascarando suas manobras de contenção e divisão e convocando os operários a se unirem solidamente em torno do Sindicato dos Petroleiros. Alertava contra as ações isoladas, que apenas serviam para dispersar forças e minar o potencial combativo do proletariado, e insistia na necessidade de convocar, sem demora, uma nova sessão do Conselho dos Delegados de Fábrica, a fim de centralizar as decisões e fortalecer a unidade da classe operária de Baku.
Ainda em agosto de 1907, realizara-se uma conferência das organizações do POSDR nos distritos industriais de Baku, tendo como ponto central a discussão sobre a conveniência e oportunidade de declarar uma greve geral. Durante os debates, surgiu a questão de participar ou não de uma “conferência” promovida pelos patrões — instrumento evidentemente criado com o intuito de, por meio de agentes provocadores, semear a confusão nas fileiras do proletariado e impedir a deflagração da greve. A conferência operária, no entanto, decidiu com firmeza a favor da greve geral, convocando todos os membros do Partido a se engajarem de forma enérgica na campanha grevista.
A conjuntura, marcada pela alta no preço do petróleo e pela ânsia dos patrões em elevar a produção, era particularmente favorável à mobilização operária. Os bolcheviques compreenderam a natureza do momento histórico e impulsionaram a criação de um organismo dirigente da luta: o Comitê dos Treze, cujos membros foram eleitos em assembleia de delegados de fábrica, com ampla participação da base.
Como resposta, os patrões recorreram a velhas táticas de cooptação, oferecendo gratificações e promessas de “caridade” patronal. Os bolcheviques, por sua vez, organizaram uma vigorosa campanha de denúncia contra essa tentativa de suborno, desmascarando a estratégia patronal como instrumento de desmobilização. Propuseram, em contrapartida, a elevação dos salários e a melhoria geral das condições de trabalho como reivindicações centrais do movimento, rejeitando liminarmente qualquer conciliação simbólica ou esmola.
O Comitê de Baku, no início, opôs-se à participação na conferência proposta pelos capitalistas. Em artigo publicado no Gudok, a 29 de setembro de 1907, com o título “É Preciso Boicotar a Conferência!” e assinado “Ko...” (iniciais de Koba), Stálin formulou com clareza a posição bolchevique:
A questão de participar ou boicotar a Conferência não é uma questão de princípio, mas de conveniência prática. Não podemos decidir de uma vez por todas boicotar todas e quaisquer conferências. [...] Por outro lado, também não podemos decidir, de forma definitiva, a favor de comparecer a todas, como parecem crer nossos camaradas de espírito cadete. Devemos abordar a questão de participar ou boicotar com base na avaliação concreta dos fatos e das condições reais.
Nos meses de janeiro e fevereiro de 1908, diversas greves eclodiram nos centros industriais de Baku, muitas das quais foram bem-sucedidas, ampliando significativamente a influência dos bolcheviques entre os trabalhadores. Os resultados dessa ofensiva operária foram analisados por Stálin no artigo “Que demonstram nossas greves recentes?”, publicado na 21ª edição do Gudok, de 2 de março de 1908, sob o pseudônimo “K. Kato.” No texto, afirmava-se que as greves demonstraram a eficácia da luta econômica quando organizada de forma consciente e combativa, com o Sindicato dos Petroleiros desempenhando um papel ativo, aliado à persistência dos militantes e à escolha acertada do momento. Mesmo as greves parciais e isoladas, dizia Stálin, quando dirigidas com competência e inseridas numa estratégia geral, podiam gerar resultados importantes e contribuir para o fortalecimento do movimento como um todo.
Durante a intensa reação que se estendeu por todo o fim de 1907 sob o terror do regime de Stolypin, os bolcheviques de Baku aventaram uma estratégia decisiva para enfrentar os instrumentos de contenção política: definiram quatro condições mínimas que os trabalhadores exigiam para considerar a participação em qualquer conferência convocada por patrões ou autoridades — conferências que em geral serviam apenas para dispersar a mobilização operária e neutralizar suas reivindicações:
1. O direito incontestável de apresentar reivindicações por parte dos trabalhadores;
2. A permissão para realizarem reuniões preparatórias ao futuro Conselho dos Delegados de Fábrica;
3. O direito de utilizar os serviços de seus sindicatos como suporte organizativo legítimo;
4. A prerrogativa de escolher a data da conferência, para assegurar condições de participação consciente e massiva.
Essa plataforma pragmática foi rejeitada frontalmente por socialistas‑revolucionários, dashnaks e mencheviques: os primeiros optando por um boicote absoluto e incondicional (“boicote a qualquer preço”), os segundos defendendo participação mesmo sem qualquer garantia (“conferência a qualquer preço”). Contra ambos, os bolcheviques proclamaram a palavra de ordem revolucionária: “Conferência com garantias — ou nenhuma conferência!”
A consulta popular realizada junto ao operariado de Baku foi esclarecedora: entre 35 mil trabalhadores consultados, apenas 8 mil apoiavam o boicote incondicional dos dashnaks e socialistas‑revolucionários, outros 8 mil seguiam a linha menchevique de aceitação irrestrita, e uma esmagadora maioria de 19 mil trabalhadores se alinhava com a tática consciente dos bolcheviques, exigindo garantias. Este dado, registrado por Lavrentiy Béria em sua obra, demonstra o alcance da direção bolchevique naquele momento crucial.
No decorrer de uma reunião representativa dos delegados das refinarias de petróleo, onde seriam formalizadas as reivindicações a serem apresentadas aos patrões, os bolcheviques tomaram a direção dos trabalhos do chamado “parlamento operário”: órgão representativo que se reuniu por cerca de duas semanas sob a presidência do operário bolchevique Tronov, e no qual consolidaram-se os princípios de soberania proletária e autodeterminação sindical.
Em edição de 15 de abril de 1908, o jornal Bakinsky Proletary publicou um artigo não assinado, intitulado “A Reação Atual e Nossas Tarefas”, no qual se afirmava que Baku estava mergulhada sob as pesadas nuvens da reação política. Embora a classe operária tivesse conquistado uma vitória brilhante durante o auge da revolução, se mostrava incapaz de mantê-la. O campesinato, que poderia tê-la apoiado, se manteve inerte. O regime das Centúrias Negras aproveitou a retração, retirando passo a passo todas as conquistas de outubro: liberdade de imprensa, de reunião, de associação — tudo sendo revogado com frieza burocrática e violência policial.
Stálin via esse período não como uma derrota definitiva, mas como uma travessia — um momento de transição exigindo estratégia e paciência. Sustentava que o renascimento da revolução não ocorreria de forma espontânea, a menos que os comunistas desencadeassem uma ofensiva consciente: não bastaria a mera resistência clandestina, era preciso combinar a construção de organizações ilegais com o uso estratégico das formas legais de atuação proletária — sindicatos, cooperativas, sociedades de consumo e outras entidades legais ou semilegais — como meios de sobrevivência organizativa, de educação de classe e de preparação para a retomada da luta efetiva.
Ao mesmo tempo em que se intensificavam as ações e debates no seio do proletariado urbano, o Bakinsky Proletary insistia com firmeza na necessidade de estender a organização e a mobilização também ao campesinato pobre e semi-proletarizado.
Em julho de 1908, o jornal publicou um suplemento especial, sua quinta edição ampliada, no qual Stálin — sob a assinatura “Koba” — veiculou um artigo intitulado “A Conferência e os Trabalhadores”. A conferência inicialmente proposta pelos patrões havia sido suspensa; igualmente, foram interrompidas as atividades do Conselho dos Delegados de Fábrica, órgão central que reunia os trabalhadores para formular reivindicações coletivas e coordenar o movimento grevista.
Nesse texto, Stálin observava, com sarcasmo, a reação patronal:
O Sr. Djunkovsky, que afirmou que Tiflis era um circo e que o espetáculo estava encerrado, recebe aplausos do Sr. Kara‑Murza — aquele lacaio-servil do capital. O pano cai, e contemplamos a velha cena familiar: patrões e operários permanecem em suas posições de costume, aguardando a próxima tempestade histórica.
Ao mesmo tempo, procedia a recapitulação meticulosa dos episódios que antecederam a conferência, expondo e denunciando como os patrões sabotaram o processo ao perceber que os operários não se submeteriam à direção pequeno-burguesa, mas permaneceriam fiéis à direção bolchevique. Estratégia deliberada para provocar o proletariado à declaração precipitada de uma greve geral, quebrando a unidade e justificando a repressão.
Stálin advertia que o momento já não pedia a greve geral: as condições haviam mudado e seria suicida tentar repetir a ação anterior. Contudo, isso não significava inação. Propunha que se convocassem greves parciais em indústrias selecionadas, onde houvesse base organizada e energia combativa. Simultaneamente, reforçava a necessidade de consolidar os órgãos representativos já eleitos — aqueles legítimos formados pela conferência —, fazendo-os funcionar como instrumentos eficazes de direção proletária.
Paralelamente, agentes provocadores infiltravam-se entre os operários atrasados, estimulando atos anarquistas e tumultos com o objetivo de fornecer pretexto para novas ações repressivas. Em resposta, o Gudok (nº 25, 1908) publicou o texto “Terrorismo econômico e o movimento da classe operária”, que refutava e denunciava esses atos de sabotagem, colocando aos trabalhadores a manterem a tática disciplinada de mobilização de massas.
No ápice dessa conjuntura de profundos antagonismos de classe em Baku, Stálin permaneceu uma constante de clareza teórica, coerência tática e espírito revolucionário. Defendeu firmemente a linha do marxismo-leninismo, a herança da tática leninista, e combateu tanto os oportunistas direitistas que buscavam render-se à repressão, quanto os falsos radicais esquerdistas que exaltavam a desordem: sempre em prol de uma ação consciente, unitária e emancipadora do proletariado.
A magnitude da influência bolchevique em Baku, bem como o valor reconhecido por Lênin à atividade operária na região, pode ser ilustrada por dados históricos precisos: “Em 1908, dentre as províncias com maior número de grevistas, destacava-se Baku, com cerca de 47 mil trabalhadores em mobilização”. Foi nesse caldeirão revolucionário que Stálin protagonizou uma atuação extraordinária — que, por sua vez, foi abruptamente interrompida com sua prisão em 25 de março de 1908.
Encerrado na prisão de Bailov, ele não interrompeu sua atividade revolucionária nem por um momento. Manteve o contato com seus camaradas, contribuiu intensamente para a imprensa operária e compilou praticamente todo o conteúdo do segundo número do Bakinsky Proletary enquanto estava atrás das grades. Relatos de companheiros de cela destacavam seu prestígio entre os presos políticos. Organizou debates teóricos, confrontando mencheviques e socialistas‑revolucionários, reafirmando nas condições adversas a superioridade estratégica do marxismo revolucionário.
Nesse período de transição para uma repressão ainda mais brutal — com o fim gradual do regime relativamente “brando” que havia sido aplicado às prisões durante o apogeu revolucionário —, os presos políticos se declararam em protesto, e Stálin alinhou-se à resistência. O regime veio a responder com dureza: uma companhia do Regimento de Salyansk conduziu os presos ao pátio para “correr a raia”, ou seja, marchar entre duas filas de soldados que golpeavam os presos com coronhadas. Stálin marchou de cabeça erguida, carregando um exemplar de Marx, personificando o verdadeiro bolchevique: destemido diante da perseguição, superando todos os obstáculos, avançando com firmeza pelo caminho do marxismo, convencido de que sua vitória é inevitável.
Após oito meses de encarceramento, durante o auge da reação stolypinista, Stálin foi condenado ao exílio em Solvychegodsk. Entretanto, em 24 de junho de 1909, avaliando o ambiente “hospitalar demais”, decidiu fugir e regressar a Baku sob o disfarce de Oganes Totomyants. Imediatamente retomou o trabalho político clandestino: organizou uma nova gráfica tipográfica secreta, reconstituiu o Comitê de Baku, fundou um grupo de agitação e propaganda e expandiu sua atuação aos distritos ferroviários, Cherry Gorod e Bely Gorod, além de desenvolver trabalho junto aos marinheiros. Participou também da preparação de uma conferência partidária em Tíflis, reafirmando a linha de combate ao liquidacionismo e ao otzovismo.
Essa atuação demonstrou novamente sua capacidade de antecipação política: em janeiro de 1910, ao assumir o pseudônimo “Koba” e redigir para a primeira edição do Tiflissky Proletary o artigo “Estamos à beira de novas erupções”, evidenciou uma percepção aguçada da iminente retomada do movimento operário. Essa foi a intuição de um revolucionário profundamente alinhado com as massas e atento a cada mudança na conjuntura política concreta — característica essencial dos dirigentes verdadeiramente leninistas.
As célebres “Cartas do Cáucaso”, publicadas por Stálin no Sotzial-Demokrat em 26 de fevereiro de 1910 e no Tribuna de Debates em 24 de junho do mesmo ano, ofereciam um panorama vivo e preciso da situação na Transcaucásia. Tratava-se de artigos de grande valor político: constituíam não apenas uma análise rigorosa das condições objetivas, mas também uma arma poderosa de combate ideológico contra liquidacionistas, mencheviques, bundistas e outros círculos oportunistas. As críticas agudas de Stálin expunham os mencheviques de modo público, provocando furor na ala liquidacionista, mas fortalecendo a consciência de classe da vanguarda operária.
Nesse período, Lênin e Stálin mantinham intensa correspondência, aprofundando os laços estratégicos e consolidando sua unidade política. Ainda assim, a liberdade de Stálin seria breve: em 23 de março de 1910 foi novamente preso em Baku, onde permaneceu sob detenção até 23 de setembro, quando foi exilado pela terceira vez em Solvychegodsk. Ali ficou retido até 6 de julho de 1911.
Mesmo exilado, manteve sua inflexível atividade revolucionária. O pequeno apartamento que ocupava em Solvychegodsk tornou-se ponto de encontro de exilados bolcheviques, local de debates clandestinos, distribuição de instruções e divulgação de propaganda. Registrou-se que Stálin, mesmo preso, correspondia frequentemente com Lênin, defendendo com convicção a formação de um bloco com os partidários de Plekhanov — um bloco fundamentado em princípios. Com expressivo desprezo, criticou o bloco de Trotsky, classificando-o como oportunista e destituído de base programática.
Em cartas, argumentou que a necessidade política primordial na época era fundar um jornal legal. Pouco depois, nasceu o Zvezda (A Estrela), confirmação efetiva da proposta que tinha endossado.
Além disso, Stálin insistia no fortalecimento da organização bolchevique: propunha a criação de um Birô russo do Comitê Central que fosse capaz de coordenar toda a atividade do Partido dentro do território da Rússia. Declarava ainda:
Ainda tenho mais seis meses de exílio. Quando esse prazo terminar, estarei totalmente à sua disposição. Se houver uma necessidade urgente de minha presença, posso “me virar” imediatamente.
Stálin jamais deixou de estar apto a “se virar” — ou seja, a fugir do exílio — sempre que a causa revolucionária reclamasse sua atuação direta.
Na conferência do Comitê Central realizada em junho de 1911, foi nomeado membro do Comitê de Organização encarregado de preparar a Conferência de Toda a Rússia do POSDR. Lênin atribuiu especial importância aos artigos que Stálin publicava no Sotzial-Demokrat — órgão bolchevique no exterior — denunciando os liquidacionistas e defendendo a estratégia revolucionária como núcleo programático para o Partido e suas organizações.
A ousadia revolucionária de Stálin se repetia. Durante os preparativos para a Conferência de Praga, conseguiu escapar mais uma vez do exílio: obteve passaporte falso em nome do exilado Chizhikov — cujo prazo já havia expirado — para viajar até Petrogrado. No entanto, foi preso novamente e, após três meses de detenção preventiva, enviado outra vez ao exílio, desta vez na província de Vologda.
Stálin atribuiu enorme importância à Conferência do POSDR de Toda a Rússia do, realizada em Praga, em janeiro de 1912. Disse:
É bem conhecido, — afirmou, — que esta conferência teve importância máxima na história de nosso Partido, pois traçou a linha divisória entre bolcheviques e mencheviques e unificou as organizações bolcheviques de todo o país num único Partido Bolchevique.(2)
Lênin regozijou-se com o fato de que os mencheviques haviam sido finalmente expulsos do Partido. Em carta a Gorky, escreveu:
Finalmente conseguimos, apesar da escória liquidacionista, restaurar o Partido e seu Comitê Central. Espero que você compartilhe conosco a alegria por esse fato.
Como sabemos, nessa Conferência, embora Stálin não estivesse presente fisicamente, foi eleito membro do Comitê Central e nomeado chefe do Birô Russo. Uma vez eleito, não poderia permanecer em exílio — isso não estava em sua natureza — e assim, com a ajuda de Sergo Ordzhonikidze, fugiu de Vologda. Lênin ficou bastante inquieto por não ter notícias de Stálin durante algum tempo. Considerava-o um campeão da linha de frente da causa revolucionária, e, em uma carta datada de 28 de março de 1912, interceptada pela polícia, expressava com alarme a amigos:
Não tive notícias de Ivanovitch [Stálin]. Ele está bem? Onde ele está? Como ele está?
Após sua fuga do exílio, Stálin visitou diversos distritos para consolidar os resultados da Conferência e retornou a São Petersburgo exatamente quando as notícias sobre os acontecimentos nos campos auríferos de Lena estouravam no mundo.
Em conjunto com Poletayev e outros, já havia logrado, nesse momento, iniciar a publicação do jornal Pravda (A Verdade). Em 1912, o jornal bolchevique Zvezda, de São Petersburgo, publicou um artigo de Stálin sobre os eventos de Lena, no qual, ao destacar sua importância revolucionária, afirmou:
Prometeram-lhe “prosperidade” e “bem-estar”; no entanto, a economia camponesa mergulhava em ruína cada vez mais profunda, enquanto dezenas de milhões de camponeses definhavam na fome crônica, assolados pelo escorbuto e pelo tifo, que colhiam milhares de vidas com a frieza impiedosa da morte. E o país suportou. Suportou com estoicismo trágico, numa paciência que beirava o sacrifício. Aqueles que não suportaram, tombaram pelo próprio punho — pois até o desespero assumiu feições coletivas. Mas tudo, mesmo a resignação, conhece seus limites: e chegou, enfim, o momento em que o país se recusou a continuar suportando. A fuzilaria do Lena rompeu a couraça de silêncio acumulada durante anos, fazendo estalar, com estrondo, o gelo do conformismo — e a torrente do movimento popular, represada até então, lançou-se adiante com força irresistível. Moveu-se! Sim, moveu-se!
Todo o mal e toda a ignomínia concentrados no regime vigente, tudo aquilo que fazia sangrar a Rússia martirizada, condensou-se e se simbolizou num único episódio: os acontecimentos do Lena. Eis por que a fuzilaria do Lena se tornou o estopim de uma nova onda de greves e manifestações. Nisso, e apenas nisso, reside a verdadeira explicação dos últimos acontecimentos.
No dia 22 de abril de 1912 — data marcada pela publicação do primeiro número do Pravda — Stálin foi mais uma vez preso. Fora denunciado por agentes provocadores que haviam identificado sua residência e os lugares por ele frequentados, entregando-o ao inimigo de classe. Assim, pela quinta vez, o Estado czarista, em sua fúria reacionária, o condenava ao exílio. Desta feita, a sentença o enviava para os confins gelados de Narym, na Sibéria Ocidental, extremo norte do Império, onde deveria cumprir três anos de desterro. Contudo, nem mesmo nesse isolamento inóspito cessaram suas atividades revolucionárias: continuou a exercer, com firmeza e disciplina de ferro, suas funções como membro do Comitê Central. Ainda no outono de 1912, empreendeu nova fuga e obteve êxito, retornando à luta ativa.
As tarefas que assumiu durante o período da reação stolypinista foram de importância decisiva para a preservação da continuidade e da firmeza ideológica do Partido. Atuando em Baku, num contexto em que a repressão se mostrava impiedosa e feroz, Stálin provou, por meio do exemplo concreto, que nada — absolutamente nada — pode deter um bolchevique genuíno, forjado na escola da luta de classes, de manter viva e ardente a chama revolucionária nas entranhas da classe operária, por mais brutal que seja o jugo das forças contrarrevolucionárias.
Foi precisamente nesse período que os laços políticos e teóricos entre Lênin e Stálin se estreitaram e se tornaram inquebrantáveis. Stálin já se afirmava então como um dos principais dirigentes do movimento bolchevique em escala nacional, com papel ativo e central na preparação da Conferência de Praga — evento que, como é sabido, teve importância crucial para a consolidação da forma organizativa do Partido Bolchevique. Como membro do Comitê Central, Stálin também figurou como um dos fundadores do Pravda, o primeiro jornal bolchevique com ampla circulação entre as massas proletárias, um instrumento poderoso de agitação, propaganda e organização política.
A importância histórica do Pravda revela-se extraordinária: tornou-se uma das principais alavancas do renascimento revolucionário que começava a despontar naquele momento, galvanizando as forças do proletariado e reacendendo, nas trevas da reação, a centelha da esperança.