Sabemos que, após mais uma ousada fuga do exílio na província de Vologda, Stálin chegou a São Petersburgo exatamente quando as notícias do massacre dos operários nos campos auríferos de Lena sacudiam o país como uma tempestade de indignação, dando novo fôlego e poderosa energia ao movimento revolucionário, até então sufocado sob o peso brutal da reação stolypinista.
Apesar de o regime czarista ainda parecer firmemente entrincheirado, bastou o fuzilamento dos trabalhadores na longínqua Sibéria, em Bodaibo, para romper o gelo da apatia e fazer com que uma onda de greves se alastrasse por toda a Rússia. O proletariado de São Petersburgo tomou as ruas, respondendo com combatividade ao arrogante desafio do fanfarrão ministro Makarov — que ousara dizer, com insolência, “Pois será assim, e assim será” — e sua altivez foi derrubada de uma só vez pelo impulso popular.
Naquele contexto dramático, o Zvezda registrava com precisão o espírito do momento: “Estamos vivos, nosso sangue fervilha com o fogo de uma força inesgotável”. O renascimento do movimento revolucionário era palpável, irrefreável, histórico. Foi justamente nesse novo ascenso das lutas proletárias que nasceu o Pravda, o jornal de massas da classe operária russa, um instrumento poderoso da agitação, da propaganda e da organização marxista-leninista. Stálin desempenhou papel de destaque em sua fundação e organização.
Em uma reminiscência escrita em 1922, Stálin recorda esse episódio emblemático: foi numa noite de meados de abril de 1912, na casa do camarada Poletayev, com a presença de dois deputados da Duma (Pokrovsky e Poletayev), dois escritores (Olminsky e Baturin), além de Stálin, membro do Comitê Central então clandestino, abrigado na residência do “imune” Poletayev — que chegaram a um acordo quanto à linha política do jornal e compilaram o conteúdo da primeira edição. Naquela mesma data — 22 de abril — em que o primeiro número do Pravda chegava às ruas, Stálin foi preso, delatado por agentes provocadores, e sentenciado a mais um período de exílio — desta vez em Narym, no extremo norte do império russo. Mas em 1º de setembro daquele mesmo ano, logrou escapar e retornou a São Petersburgo, onde retomou de imediato sua atuação como dirigente do Comitê Central e editor do Pravda, que se tornava, com rapidez, uma das mais formidáveis ferramentas de consolidação do bolchevismo e preparação do terreno para a vitória proletária de outubro.
Relatos contidos no livro de A. Badayev, “Os Bolcheviques na Duma Czarista”, revelam detalhes valiosos sobre a atuação de Stálin na capital imperial naquele momento decisivo. A campanha eleitoral para a Quarta Duma do Estado encontrava-se em pleno curso. Stálin dirigia com mão firme toda a mobilização da classe operária de São Petersburgo, coordenando a implementação das diretrizes de Lênin, que, residindo então em Cracóvia — sede do Comitê Central do Partido —, enviava, por vias discretas, orientações ao Partido e à organização da cidade, que, sob a direção de Stálin, executava com rigor tais tarefas.
Stálin não apenas redigia artigos para o Pravda — ele o dirigia politicamente. Simultaneamente, participava ativamente da publicação da revista teórica bolchevique Prosveshcheniye (Esclarecimentos), cujo primeiro número contou com sua contribuição direta. Entre os números 3 e 5 dessa revista, foi publicado seu célebre ensaio “A Questão Nacional e a Social-Democracia”, que mais tarde se tornaria amplamente conhecido sob o título de “O Marxismo e a Questão Nacional” — um marco na teoria marxista sobre a questão das nacionalidades. No mesmo periódico, Stálin publicou também o artigo de 1º de novembro de 1913, “Um Ponto de Informação (As Eleições na Cúria dos Operários de São Petersburgo)”, em que explicava os motivos dos bolcheviques não estavam boicotando a Duma do Estado, e demonstrava a imensa importância das greves deflagradas pelos operários da capital em defesa dos seus direitos eleitorais e da representação revolucionária do proletariado.
Naturalmente, sob as severas e perigosas condições da clandestinidade — em meio a um clima de constante vigilância, com centenas de olhos espreitando cada passo dos bolcheviques —, não era tarefa simples para Stálin manter a continuidade de seu trabalho revolucionário. Se não fosse a vigilância fraterna e a firme proteção oferecida cotidianamente pelos operários conscientes, organizados e vigilantes de São Petersburgo, ele não teria permanecido em liberdade sequer por alguns meses, pois as garras do regime czarista estavam sempre prontas a capturá-lo.
Foi nesse ambiente tenso e repleto de perigos que, em outubro de 1912, realizou-se uma conferência dos representantes eleitorais operários no contexto das eleições para a Quarta Duma do Estado. Desta conferência emergiu um documento de importância singular: o “Mandato dos operários de Petersburgo ao seu deputado operário”, cuja redação coube a Stálin. A importância programática e estratégica desse mandato foi imediatamente reconhecida por Lênin, que, em sua cópia pessoal, escreveu uma nota à margem solicitando que o documento fosse cuidadosamente preservado — cópia esta que se encontra hoje arquivada no Museu Central de Lênin, em Moscou, como precioso testemunho histórico.
Este mandato, verdadeiro documento político de orientação proletária, estabelecia os princípios fundamentais sobre os quais deveria se basear a atuação dos representantes operários na Duma do Estado. Com notável clareza teórica e perspicácia tática, o mandato delineava a situação objetiva da classe operária e do campesinato russo, reafirmando o papel dirigente do proletariado no processo revolucionário e apontando o campesinato como o aliado estratégico e confiável da classe operária. Advertia que a luta em curso travar-se-ia simultaneamente em duas frentes: contra o sistema feudal-burocrático representado pelo czarismo e contra a burguesia liberal, cujo projeto político consistia em manter a ordem existente mediante um pacto com o velho regime.
Além disso, o mandato sublinhava o papel da tribuna da Duma não como instrumento de conciliação, mas como poderosa ferramenta de agitação e propaganda para o esclarecimento e convencimento das amplas massas trabalhadoras da linha bolchevique, devendo ser utilizada para desnudar as ilusões liberais e insuflar a consciência revolucionária. O documento afirmava de modo contundente:
Queremos ouvir a voz dos membros do grupo social-democrata não apenas como eco da tribuna da Duma, mas como expressão viva e vibrante do objetivo histórico e final do proletariado revolucionário; como proclamação intransigente da vitória plena — e não mutilada — das conquistas de 1905; como afirmação inequívoca do papel dirigente da classe operária russa no movimento popular; como reconhecimento do campesinato como o aliado mais fiel e combativo do proletariado; e como denúncia veemente dos liberais burgueses, que se revelam, a cada passo, traidores da liberdade para o povo.
Que a Fração Social-Democrata na Quarta Duma fundamente sua unidade prática e ideológica nessas palavras de ordem e mantenha sua coesão inquebrantável.
Que sua força emane do vínculo orgânico e constante com as amplas massas trabalhadoras. Que marche em firmeza e unidade com a organização política da classe operária em toda a Rússia.(1)
Ao refletir sobre a importância histórica do “Mandato dos operários de Petersburgo ao seu deputado operário”, Badayev observou — com razão e acerto político — que esse documento encontraria seu eco, quase um quarto de século mais tarde, no Mandato redigido por Stálin aos deputados populares eleitos ao Primeiro Soviete Supremo da URSS, em 12 de dezembro de 1937. Tal observação não constitui simples coincidência cronológica, mas revela a continuidade orgânica da linha político-estratégica bolchevique, que, em ambas as ocasiões, fez do Mandato o instrumento de ligação entre os representantes e a classe revolucionária, entre o Partido e as massas laboriosas.
Não há dúvida de que aquele primeiro Mandato, concebido em meio à luta encarniçada contra o czarismo e os oportunistas, foi de valor histórico inestimável. Em artigo publicado no Pravda, em 19 de outubro de 1912, assinado “K. St.”, Stálin afirmava com precisão lapidar:
O Mandato é a instrução do deputado; o Mandato constitui o deputado. A qualidade do deputado depende da qualidade do Mandato.
Estas palavras condensam o princípio marxista segundo o qual os representantes do proletariado não agem por iniciativa própria ou em nome de uma suposta independência parlamentar, mas atuam como portadores da vontade consciente e coletiva da classe operária organizada — cuja expressão mais elevada se manifesta no Partido revolucionário.
Stálin desempenhou papel destacado na discussão e elaboração da declaração a ser apresentada pelos membros social-democratas no ato de abertura da Quarta Duma do Estado, intervindo nessa ocasião em nome do Comitê Central do Partido. No dia 15 de novembro de 1912, data de abertura da Duma, o Comitê Bolchevique de São Petersburgo convocou uma manifestação política de massas, em contrapartida às saudações servis enviadas à Duma pelos liquidacionistas. Lênin, ao comentar essa ação, escreveu com entusiasmo:
O momento para a manifestação foi extremamente bem escolhido!
Esse episódio revela exemplarmente a habilidade tática de Stálin em extrair o máximo potencial revolucionário de cada brecha legal, por menor que fosse, a combinando de modo dialético com a luta clandestina, insurrecional e revolucionária. Mostra como um verdadeiro bolchevique sabe operar com flexibilidade e precisão estratégica, sem jamais romper a unidade entre a teoria e a prática.
Nesse mesmo período, Stálin mantinha correspondência contínua com Lênin, mas este ansiava por uma conversa direta e insistia para que se encontrassem no exterior. Apesar dos gravíssimos riscos inerentes à travessia das fronteiras, controladas por cordões de espiões e agentes da Okhrana, Stálin conseguiu romper o cerco policial e chegou com êxito até Cracóvia, em novembro de 1912. Lá, os dois líderes marxistas discutiram em profundidade a situação do Partido, a conjuntura política e as tarefas estratégicas. Alcançaram plena unidade em todos os pontos, consolidando ainda mais os laços políticos, ideológicos e organizativos entre eles.
No entanto, Lênin relutava em permitir que Stálin retornasse à Rússia, dada a gravidade da situação repressiva. Tentou persuadi-lo a permanecer no exterior, onde sua vida estaria menos ameaçada, e insistiu para que os seis deputados bolcheviques eleitos à Quarta Duma fossem também a Cracóvia a fim de alinhar posições com o centro dirigente. Em carta enviada a Vasilyev (pseudônimo de Stálin), datada de 23 de dezembro de 1912, Lênin escreveu com preocupação fraterna:
Venha para cá, nós estamos preocupados com a sua segurança!
Pouco depois, Stálin retornou a Cracóvia e participou da conferência do Comitê Central do POSDR junto a destacados militantes operários. Foi nessa reunião que se decidiu sua eleição como membro do Birô do Comitê Central para a Rússia — passo que consolidou ainda mais seu papel na direção prática do Partido. Para resguardar o sigilo da conferência frente à repressão, sua realização foi registrada como ocorrida em fevereiro de 1913, embora, de fato, tenha tido lugar no final de dezembro de 1912.
Durante janeiro e fevereiro de 1913, Stálin dedicou-se com afinco à questão nacional. Em carta a Gorky, Lênin escreveu entusiasticamente sobre Stálin:
Um georgiano maravilhoso, — disse ele, — que se sentou para escrever para a Prosveshcheniye um longo artigo para o qual reuniu todos os materiais austríacos e de outras fontes.
O resultado desses estudos se manifestou na obra clássica de Stálin, “O Marxismo e a Questão Nacional”. O objetivo dessa obra notável foi combater os liquidacionistas, bundistas e mencheviques caucasianos, que compartilhavam as teorias mencheviques de Otto Bauer e Karl Renner. Esses oportunistas defendiam a exigência burguesa de “autonomia cultural nacional” como alternativa à reivindicação bolchevique pelo direito das nações à autodeterminação. Chegaram até a propor a divisão dos trabalhadores por nacionalidade dentro do Partido, dos sindicatos e das cooperativas de seguro operário. Eram inimigos da unidade proletária e buscavam minar a ideia do internacionalismo revolucionário.
A importância que Lênin atribuía à obra de Stálin pode ser vista em sua referência ao artigo “O Programa Nacional do POSDR”, no qual Lênin escreve:
Essa situação e os princípios do programa nacional social-democrata já foram devidamente tratados pela literatura marxista recente (nesse contexto, os artigos de Stálin ocupam posição de destaque).
A obra “História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS” observa com propriedade que, naquele momento:
Somente os bolcheviques possuíam um programa marxista sobre a questão nacional, tal como estabelecido no artigo de Stálin, “O Marxismo e a Questão Nacional”, e nos artigos de Lênin “O Direito das Nações à Autodeterminação” e “Notas Críticas sobre a Questão Nacional”.
Ao concluir esses estudos, Stálin retornou a São Petersburgo. Preocupado pela ausência de notícias, Lênin escreveu a 8 de março de 1913:
Por que não há notícias e informes de Vasily? Aconteceu algo com ele? Estamos preocupados...
Dois dias depois acrescentou:
Cuidem bem de nosso camarada... ele está muito doente.
No entanto, a conjuntura política era adversa: um agente provocador, Roman Malinovsky — membro do Comitê Central e da Fração Bolchevique da Duma — havia sido descoberto como espião da polícia secreta czarista (Okhrana). Malinovsky traiu Yakov Sverdlov e, posteriormente, forneceu informações que levaram à prisão de Stálin, então escondido em São Petersburgo
Em sua obra “Os Bolcheviques na Duma Czarista”, A. Badayev descreve com precisão a prisão de Stálin, revelando o clima de constante vigilância policial sob o qual operavam os bolcheviques:
A polícia aguardava com impaciência a primeira oportunidade para prendê-lo assim que saísse à rua. Essa oportunidade logo se apresentou. Um concerto havia sido organizado no Salão Kalashnikov em nome do Pravda e para outros fins revolucionários. Concertos como esses eram geralmente frequentados por grandes contingentes de operários e simpatizantes entre os intelectuais. Eram também frequentados por membros do Partido, incluindo muitos trabalhadores clandestinos, que aproveitavam o ambiente ruidoso para encontrar-se com pessoas com quem seria perigoso conversar em público. Stálin decidiu comparecer ao concerto no Salão Kalashnikov, e Malinovsky, que sabia disso, informou o Departamento de Polícia. Stálin foi preso antes mesmo que pudesse sair de uma das salas do Salão.
Assim se deu sua sexta e última prisão sob o regime czarista. Foi condenado ao exílio forçado na gélida e inóspita Região de Turukhansk, para além do Círculo Polar Ártico, inicialmente no vilarejo de Kostino e, mais tarde, a partir de meados de 1913, na remota aldeia de Kureika.
A camarada Vera Schweitzer, também exilada na mesma região, legou-nos um impressionante testemunho sobre a vida de Stálin em Kureika:
No inverno, sem que a polícia soubesse, Suren Spandaryan e eu fizemos uma longa jornada até o vilarejo de Kureika para visitar Stálin. Precisávamos discutir algumas questões relacionadas ao julgamento da Fração Bolchevique na Duma, que então ocorria, e tratar de várias tarefas partidárias. Durante aquele período do ano, dia e noite se fundem em uma única escuridão ártica, cortada por gélidas geadas. Percorremos rapidamente os 200 quilômetros até Kureika, sobre o Rio Ienissei, perseguidos pelo uivo incessante dos lobos. Chegamos a Kureika e procuramos a cabana onde o camarada Stálin vivia. Entre as quinze cabanas da aldeia, a dele era a mais pobre: apenas um cômodo externo, uma cozinha onde morava o dono da casa com a família, e o quarto de Stálin — e só.
O camarada Stálin ficou imensamente feliz com nossa chegada inesperada e fez de tudo para nos deixar confortáveis. A primeira coisa que fez foi correr até o rio Ienissei, onde havia deixado linhas de pesca em buracos abertos no gelo. Poucos minutos depois, retornou com um enorme esturjão pendurado no ombro. Sob sua orientação de “pescador experiente”, limpamos o peixe, extraímos o caviar e preparamos uma sopa de peixe. Enquanto cozinhávamos, engajamo-nos numa intensa discussão sobre os assuntos do Partido. A própria sala parecia pulsar com o pensamento ativo de Stálin, que não se desligava nem por um instante da realidade que o cercava. Sua mesa estava repleta de livros e pilhas de jornais. E num canto havia ferramentas de pesca e caça de vários tipos — feitas por ele mesmo.
Stálin permaneceu nesse local de exílio até os eventos da Revolução de Fevereiro de 1917, conservando intacto seu fervor militante e sua ligação viva com o movimento operário. Cabe ressaltar que, durante todo o período de renascimento do movimento revolucionário, ele desempenhou tarefas de máxima responsabilidade: dirigiu o Birô Russo do Comitê Central, dirigiu a organização bolchevique de São Petersburgo, comandou a campanha eleitoral para a Quarta Duma do Estado, coordenou a redação e orientação política do Pravda, colaborou teoricamente com a revista Prosveshcheniye e elaborou, com notável profundidade, a obra “O Marxismo e a Questão Nacional”. Esta última se revelou de importância extraordinária nos preparativos ideológicos e organizativos da Revolução de Outubro e nos anos subsequentes de edificação do Estado Proletário Soviético.
Essas concepções, forjadas na base teórica do marxismo e orientadas pela experiência concreta da luta de classes, guiaram com firmeza o Partido, o Estado soviético e as amplas massas trabalhadoras no processo de libertação revolucionária do campesinato e do proletariado da Ucrânia Ocidental e da Bielorrússia Ocidental, até então subjugados ao jugo feudal e à exploração bárbara imposta pelos latifundiários poloneses.
Durante os anos tormentosos da Primeira Guerra Mundial, expressão máxima da fase imperialista do capitalismo, Lênin e Stálin encontravam-se separados por vastas distâncias geográficas — milhares de quilômetros os apartavam, enquanto a realidade do exílio siberiano impunha barreiras materiais à circulação de informações. Os jornais bolcheviques, já escassos, mal chegavam à remota localidade de Kureika, situada nas regiões inóspitas da Turukhanka, e a correspondência, quando não interceptada pela repressão czarista, alcançava seus destinos em blocos descontínuos, muitas vezes reunindo exemplares acumulados de dois ou três meses. Apenas um número restrito de cartas enviadas por Stálin conseguia transpor os obstáculos materiais e policiais, traçando caminhos labirínticos e perigosos até atingir as mãos de Lênin.
Entre essas correspondências preservadas, destaca-se uma carta de Stálin que expressava sua confiança na vitória da revolução proletária e sua fidelidade irrestrita à causa do socialismo científico. O conteúdo da missiva evidencia a profunda capacidade analítica de Stálin em interpretar o cenário internacional, mesmo sob condições extremas de isolamento forçado, revelando sua aptidão para apreender, de forma autodidata e consequente, a justa linha política do Partido diante do conflito inter-imperialista em curso. Apesar de desconectado do centro dirigente do Partido, sua sólida formação marxista-leninista lhe permitiu alcançar, por meio da dedução dialética, as mesmas conclusões estratégicas que Lênin e o Comitê Central haviam estabelecido quanto ao caráter da guerra imperialista e às tarefas revolucionárias dela decorrentes.
Somente ao final de 1914 é que Stálin teve acesso ao primeiro esboço das Teses de Lênin sobre a guerra — documento que sintetizava, com precisão científica, a análise leninista da conjuntura e as tarefas internacionais do proletariado.
Um dos momentos mais emocionantes da nossa vida no exílio foi a chegada das instruções de Lênin, — relembra Vera Schweitzer. — Quando estava de passagem por Krasnoyarsk, a caminho do meu exílio na região de Turukhansk, recebi, através de canais clandestinos, o primeiro rascunho das teses de Lênin sobre a guerra. O documento havia sido enviado a Nadezhda Konstantinovna [Krupskaya], que me incumbiu da missão de entregá-lo a Lênin. Coube-me, então, entregá-lo diretamente a Stálin, que naquela ocasião residia com Suren Spandaryan na aldeia de Monastyrskoye.
Ao debruçar-se sobre as sete teses elaboradas por Lênin, Stálin constatou a absoluta coincidência entre sua própria análise e a formulação leninista da situação histórica concreta. A unidade de concepção entre os dois grandes dirigentes bolcheviques tornava-se, assim, patente.
É difícil expressar com palavras a alegria intensa, a confiança renovada e o entusiasmo revolucionário com que o camarada Stálin recebeu aquelas teses — elas não apenas corroboravam suas próprias ideias, como também representavam a promessa concreta da vitória iminente da revolução proletária na Rússia. — Testemunhou a mesma camarada.
Preserva-se também uma carta conjunta, redigida por Stálin e Suren Spandaryan e dirigida a Lênin, na qual os dois revolucionários lançam uma irônica crítica aos representantes do oportunismo nacional-reformista — Georgi Plekhanov, Piotr Kropotkin e Marcel Sembat (então ministro do governo burguês francês) —, cujas posições conciliadoras e chauvinistas os alinhavam objetivamente à reação imperialista.
No verão de 1915, Stálin conseguiu participar de uma reunião política de alta importância estratégica, realizada entre os bolcheviques exilados no vilarejo de Monastyrskoye, na Sibéria. Estavam presentes todos os membros do grupo russo do Comitê Central do Partido Bolchevique que se encontravam em confinamento: Stálin, Suren Spandaryan e Yakov Sverdlov. Nessa ocasião, Stálin pronunciou uma crítica intransigente contra a atitude vergonhosa de Kamenev, que, no julgamento da Fração Bolchevique na Duma, adotou uma postura colaboracionista, traindo assim os princípios do internacionalismo proletário e agindo em conivência com o regime czarista.
Mesmo imerso na solidão gélida da aldeia siberiana, Stálin permanecia profundamente conectado à vida do Partido e ao pulsar da luta revolucionária. Lia com avidez os textos que lhe chegavam, absorvia atentamente as notícias da Rússia e reagia com energia a todos os acontecimentos relevantes da conjuntura política. Parte de sua sobrevivência era garantida por atividades práticas como a pesca e a caça, que lhe proporcionavam o sustento material necessário ao exílio forçado.
Em fevereiro de 1915, após um hiato provocado pela prisão da equipe editorial, o jornal bolchevique Voprosy Strakhovaniya (Questões de Seguro) voltou a ser publicado. Este periódico assumiu, naquele momento crítico, uma função decisiva, constituindo-se no único órgão legal do bolchevismo ativo em território russo. Seu núcleo editorial operava como centro clandestino de articulação política dos bolcheviques em Petrogrado, muitos dos quais atuavam sob a direção do camarada Molotov.
Apesar da vigilância severa e da censura militar, que frequentemente suprimia trechos inteiros de artigos — substituídos por espaços em branco —, a revista lograva difundir as palavras de ordem revolucionárias formuladas pelo Partido. Tão logo recebeu o primeiro número dessa nova fase editorial, Stálin mobilizou esforços imediatos para arrecadar fundos entre os exilados, buscando garantir a continuidade desse importante instrumento de agitação e propaganda.
Os bolcheviques relegados ao exílio na longínqua e gelada Região de Turukhansk redigiram uma carta endereçada à redação do jornal Voprosy Strakhovaniya, à qual anexaram uma modesta, porém significativa, contribuição financeira — no valor de 6 rublos e 85 kopeks — como expressão material de seu apoio incondicional à continuidade desse órgão operário de combate ideológico. A carta, cujo conteúdo é de alto valor político e simbólico, revela de forma límpida o profundo apego e amor de Stálin ao Partido Bolchevique e à imprensa revolucionária proletária, ao mesmo tempo em que define com nitidez as tarefas ideológicas que competem a um veículo marxista em meio à conjuntura crítica da guerra imperialista.
Eis o teor integral da missiva:
Prezados camaradas,
Nós, um grupo de exilados na Região de Turukhansk, saudamos com entusiasmo a retomada da publicação de Voprosy Strakhovaniya. No presente momento, quando a opinião pública das massas trabalhadoras na Rússia é deliberadamente distorcida e manipulada, e quando a genuína representação do proletariado é sabotada com o auxílio servil de elementos da grande burguesia — como A. Guchkov e P. Ryabushinsky — constitui verdadeira alegria encontrar e ler um autêntico jornal operário.
Voprosy Strakhovaniya deve lançar mão de todas as suas forças ideológicas e políticas para proteger a classe operária de nosso país contra as pregações corruptoras e traiçoeiras de Potresov, Levitksy, Plekhanov e seus congêneres — todos representantes do oportunismo reacionário, visceralmente antiproletários e inimigos declarados dos princípios do internacionalismo revolucionário.
Assinam o documento os camaradas Josef Stálin, A. Maslennikov [posteriormente executado pelas tropas contrarrevolucionárias de Kolchak], Suren Spandaryan, Vera Schweitzer e outros revolucionários bolcheviques.
Para Stálin, a missão estratégica fundamental atribuída àquele jornal consistia em fornecer blindagem ideológica à vanguarda proletária russa contra os sofismas insidiosos da propaganda pequeno-burguesa, representada sobretudo pelas tendências liquidacionistas mencheviques, tanto direitistas quanto esquerdistas, cujas posições objetivamente antiproletárias e anti-internacionalistas atuavam como linha auxiliar da burguesia.
No mês de dezembro de 1916, às vésperas do colapso do regime czarista, todos os militantes que cumpriam pena de exílio foram arbitrariamente recrutados pelas autoridades para o serviço militar obrigatório. No entanto, o Estado reacionário hesitou em incorporar Stálin ao efetivo ativo das Forças Armadas, ciente da poderosa influência revolucionária que o dirigente bolchevique exercia entre os trabalhadores e soldados. Por essa razão, enviou-o para Krasnoyarsk, tentando mantê-lo sob vigilância; mais tarde, foi transferido para Achinsk, com o propósito de concluir sua pena de exílio. Foi precisamente nesse contexto, enquanto ainda se encontrava oficialmente punido, que eclodiu o levante revolucionário de fevereiro de 1917.
Durante todo esse período de refluxo e posterior renascimento revolucionário, assim como ao longo da sangrenta guerra inter-imperialista, Stálin jamais se deixou abater pelas privações e adversidades do exílio. Pelo contrário: sustentado por uma tenacidade bolchevique inquebrantável, enfrentou todos os obstáculos com coragem, permanecendo firme ao lado de Lênin na construção orgânica do Partido Bolchevique, na consolidação das suas fileiras e na resolução, com rigor científico e político, das questões teóricas e práticas colocadas pela marcha da revolução.
Sua postura nesse período constitui um modelo acabado de intransigência leninista diante das múltiplas manifestações do oportunismo — fossem elas oriundas dos trânsfugas trotskistas, dos mencheviques, dos liquidacionistas ou mesmo do renegado e dissimulado Kamenev, cuja traição se revelou abertamente nas etapas mais críticas da luta.
Ainda que separado fisicamente de Lênin por vastas distâncias continentais, Stálin marchava lado a lado com ele no plano da teoria, da estratégia e da certeza revolucionária na vitória histórica do proletariado. Mais do que meros dirigentes políticos, Lênin e Stálin encarnavam, naquele momento histórico, a vontade unificada da vanguarda revolucionária russa; representavam, em sua ação e pensamento, a síntese viva do ardor comunista, do internacionalismo proletário e da firmeza do Partido Bolchevique — força dirigente da revolução socialista e bastião da nova sociedade que se anunciava.