O ano de 1917 inscreveu-se, de modo fulgurante e definitivo, nos anais da história do movimento operário russo e do proletariado internacional como um marco de viragem revolucionária sem precedentes. Nele, materializaram-se duas revoluções de caráter qualitativamente distinto — a primeira, em fevereiro, de natureza democrático-burguesa, que pôs fim à autocracia czarista; a segunda, em outubro, de caráter socialista, que subverteu radicalmente as relações de poder e instaurou, pela primeira vez na história, a ditadura revolucionária do proletariado, sob a direção do Partido Bolchevique.
O ascenso revolucionário de 1917 teve início já no mês de janeiro, com greves de protesto que reavivavam a memória dos mártires operários e populares massacrados pelo czarismo em 9 de janeiro de 1905 — data que, desde então, marcava simbolicamente a unidade e combatividade da classe trabalhadora russa. Essas ações, inicialmente de caráter memorial e protestativo, transformaram-se gradativamente em um movimento de massas impetuoso que, ao final de fevereiro, transbordou em manifestações combativas de dimensões insurrecionais, nas quais operários, soldados e marinheiros se uniram nas ruas em luta comum. No dia 27 de fevereiro (12 de março pelo calendário gregoriano), unidades militares estacionadas em Petrogrado recusaram-se a cumprir as ordens de repressão e, em gesto decisivo, passaram para o lado da insurreição popular. O destino da monarquia absolutista dos Romanov estava, assim, selado de forma irreversível.
A imensa tarefa histórica da liquidação do czarismo — objetivo que havia sido delineado por Marx e Engels em diversas passagens e defendido tenazmente por Lênin desde os anos 1890 — foi, enfim, levada a cabo pela aliança operário-camponesa, sob a firme e clarividente direção do Partido Bolchevique. A monstruosidade putrefata da autocracia, sustentáculo secular da opressão, do obscurantismo e da exploração feudal-burguesa, foi derrubada pelas mãos dos trabalhadores e camponeses revolucionários. Era a consumação de uma luta secular, na qual gerações de revolucionários tombaram heroicamente — uma luta cuja culminância ocorreu em fevereiro de 1917, com a vitória da revolução democrático-burguesa.
As masmorras do czarismo foram abertas, os prisioneiros políticos libertados, os exilados puderam retornar à vida política, e o Partido Bolchevique emergiu da clandestinidade para atuar, pela primeira vez em sua história, em uma atmosfera de relativa liberdade, inédita no contexto russo. Contudo, apesar da derrubada da autocracia e da instalação de um novo regime, os problemas essenciais que afligiam as massas — a guerra, a fome, a questão agrária, a opressão nacional — permaneciam insolúveis no quadro do novo poder da burguesia. A experiência histórica demonstrava, assim, que a revolução democrático-burguesa, longe de representar o desfecho do processo, colocava a necessidade de sua superação dialética, isto é, de seu desenvolvimento rumo à revolução socialista.
Naquele momento decisivo, Lênin encontrava-se ainda no exílio, na Suíça, impedido de regressar à Rússia pelas manobras do Governo Provisório, que contava com o apoio político e logístico dos imperialistas anglo-franceses — os quais compreendiam perfeitamente que o retorno de Lênin significaria o aprofundamento inevitável da revolução.
Em 12 de março de 1917 (calendário gregoriano), Stálin chegou a Petrogrado vindo da Sibéria, trazendo consigo o acúmulo de sua experiência revolucionária forjada no exílio e na luta prática. Sua presença teve um impacto imediato e decisivo: lançou-se com energia na atividade política, e sua linha revolucionária começou a se fazer sentir com nitidez nas orientações do Comitê de Petrogrado e, progressivamente, em todo o Partido. Diante de um cenário fluido e profundamente contraditório, era imperativo fornecer respostas imediatas e corretas às questões candentes da conjuntura. E foi exatamente isso que Stálin fez, com a clareza política que o caracterizava.
A questão central que se impunha era, como sempre em uma situação revolucionária, a questão do poder. A corrupta quadrilha czarista havia sido finalmente derrubada, mas restava decidir quem deveria assumir o novo poder, qual classe social deveria tornar-se hegemônica na nova etapa. A situação apresentava-se ainda mais complexa porque, em virtude da capitulação política dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques — que haviam traído a revolução ao entregar o poder de bandeja à burguesia —, instalara-se uma configuração de duplo poder: de um lado, os Sovietes de Deputados Operários e Soldados, expressão direta da vontade revolucionária das massas; de outro, o Governo Provisório, composto por representantes da burguesia e determinado a preservar a dominação de classe sob nova roupagem.
Essa contradição — o poder dual — não poderia subsistir por muito tempo. Era necessário resolvê-la em favor do proletariado, aprofundando a revolução até a derrubada definitiva da burguesia e a instauração do poder soviético. Stálin, nesse momento, posicionou-se firmemente ao lado da linha revolucionária leninista, preparando o Partido e as massas para a nova etapa da luta, a etapa do socialismo.
Diante da existência do chamado “poder dual” — situação em que coexistiam, em contradição aberta, por um lado, o Governo Provisório, representante dos interesses do capital e dos kulaks, e, por outro, os Sovietes de Deputados Operários e Soldados, expressão direta da aliança revolucionária entre o proletariado urbano e os setores camponeses radicalizados encarnados nas fileiras do exército — impunha-se uma definição clara e revolucionária sobre qual deveria ser o papel desses Sovietes.
Foi justamente sobre essa questão fundamental que Stálin se debruçou no artigo publicado em 14 de março de 1917, no Pravda, sob o título “Os sovietes dos deputados operários e soldados”. Nele, o dirigente bolchevique formulava com precisão as tarefas imediatas a serem assumidas pela vanguarda proletária naquele momento decisivo da revolução:
Apegar-se aos direitos que já haviam sido conquistados, de modo a liquidar definitivamente as velhas forças, e, em conjunto com as províncias, avançar ainda mais a revolução russa.
Trata-se, aqui, de uma posição tática, porém profundamente estratégica: consolidar as conquistas revolucionárias obtidas pela ação direta das massas, repelir qualquer tentativa de restauração por parte das forças reacionárias e impulsionar, a partir da base, a unificação nacional da revolução proletária.
Para medir a solidez e a potência desse processo revolucionário em curso, Stálin oferecia uma fórmula concisa, mas de enorme conteúdo histórico:
A força da revolução russa reside na aliança entre os operários e os camponeses, encarnada nos uniformes dos soldados.
Essa frase sintetiza a análise dialética da correlação de forças: os Sovietes, enquanto órgãos de poder dual ainda embrionário, exprimiam precisamente essa aliança entre o proletariado industrial e o campesinato em armas. Consequentemente, a tarefa que se colocava aos revolucionários consistia em fortalecer esses órgãos, expandi-los a todas as localidades, interligá-los sob a direção do Soviete Central de Deputados Operários e Soldados e consolidá-los como núcleo do novo poder de Estado. Eis a orientação que os bolcheviques autênticos, os social-democratas revolucionários consequentes, deveriam seguir naquele momento: preparar, de forma organizada, a transição do poder dual à hegemonia do poder soviético.
No artigo publicado no Pravda de 18 de março de 1917, intitulado “As condições da vitória da Revolução Russa”, Stálin retoma e aprofunda essa linha, analisando a experiência histórica das revoluções precedentes e o caráter específico da conjuntura russa. Ele conclui com clareza que a coexistência do poder dual era insustentável e que a revolução não poderia triunfar sem a liquidação do poder da burguesia, e a instauração de um verdadeiro governo revolucionário das massas trabalhadoras. Assim, ele escreve:
O único organismo capaz de cumprir esse papel é um Soviete Nacional de Deputados Operários, Soldados e Camponeses. Essa é a primeira condição para a vitória da revolução russa.
Com esse posicionamento, Stálin antecipa, com notável lucidez, a consigna que em breve viria a mobilizar milhões de trabalhadores, soldados e camponeses em toda a extensão do território russo: “Todo o poder aos Sovietes!”
Nesse ínterim, uma das questões mais candentes que agitava as massas era a continuidade da guerra imperialista. Em 16 de março de 1917, Stálin publicou o artigo “A Guerra”, no qual denuncia com firmeza a natureza de classe do conflito, rechaçando o véu ideológico com que os imperialistas buscavam encobrir seus interesses predatórios. Afirmava Stálin:
É necessário arrancar a máscara dos imperialistas e revelar às massas o que realmente se escondia por trás da guerra em curso — pois isso não significava apenas desmascarar a guerra atual, mas sim tornar impossível a continuação da guerra presente.
Ou seja, a tarefa não era apenas explicar, pedagogicamente, às massas trabalhadoras o caráter de pilhagem da guerra, mas criar, com base nessa compreensão, as condições para a sabotagem do esforço de guerra burguês e para a transformação da guerra imperialista em guerra civil contra a burguesia.
Outra frente de luta fundamental era a questão nacional. Os séculos de dominação grão-russa, de opressão brutal contra os povos e nações subjugadas pelo Império Russo, encontravam-se à beira do colapso, e as forças centrífugas das nacionalidades oprimidas exigiam uma resposta clara e revolucionária. Foi novamente Stálin quem, com profunda sensibilidade política e rigor, formulou a base da orientação bolchevique sobre essa questão. No artigo publicado no Pravda de 25 de março de 1917, intitulado “A abolição das restrições dos direitos das nacionalidades”, Stálin escreveu:
É necessário, com a máxima urgência, estabelecer os direitos das nacionalidades que agora se libertam da opressão, e garantir esses direitos com força de lei.
Com isso, Stálin afirmava, sem ambiguidade, o compromisso do Partido Bolchevique com o direito à autodeterminação das nações oprimidas — inclusive o direito à secessão —, desferindo um golpe teórico e político contra o chauvinismo grão-russo e contra as posições conciliadoras de mencheviques e socialistas-revolucionários.
Enquanto os bolcheviques, sob a direção de Stálin e na expectativa do retorno de Lênin, delineavam um programa revolucionário para resolver as questões da paz, da terra e da liberdade nacional, os mencheviques e socialistas-revolucionários, fiéis à burguesia, atuavam como sua linha auxiliar. Colaboravam abertamente com latifundiários e capitalistas para preservar as estruturas agrárias do czarismo. Conclamavam os camponeses a esperar passivamente a convocação da Assembleia Nacional Constituinte — convocação essa que, embora prometida, era continuamente adiada, como forma de contenção da revolta no campo e de manutenção da ordem burguesa.
No Pravda de 14 de abril de 1917, Stálin publicou um artigo de importância decisiva para a causa revolucionária, intitulado “A terra aos camponeses”, no qual desmascarava abertamente a traição consumada contra o campesinato pelos socialistas-revolucionários, mencheviques e cadetes — representantes distintos, mas convergentes, dos interesses da burguesia e dos kulaks. Nesse texto, Stálin denunciava a hipocrisia dos que, enquanto prometiam terra ao camponês, garantiam lucros aos latifundiários:
Um governo composto por industriais e latifundiários não pode, por sua própria natureza de classe, agir de maneira diversa em relação aos camponeses; que lhes importam as necessidades do campesinato, contanto que se mantenham intactos os privilégios e a opulência parasitária dos latifundiários!
É por essa razão que dirigimos um chamado urgente aos camponeses, especialmente ao campesinato pobre, explorado e esmagado em toda a extensão da Rússia, para que tomem em suas próprias mãos o destino de sua causa, deixando de esperar salvação das instituições burguesas, e avancem decididamente no caminho da ação revolucionária direta.
A orientação formulada por Stálin era clara e direta: não se tratava de esperar passivamente pelas decisões da Assembleia Nacional Constituinte — promessa que a burguesia utilizava como álibi para adiar indefinidamente a solução da questão agrária —, mas de tomar, pelas próprias mãos, a terra que pertencia historicamente aos camponeses e que os latifundiários usurpavam com o respaldo do Estado burguês. Stálin prosseguia:
Convocamos ao campesinato a se organizarem em comitês camponeses revolucionários — seja em nível comunal, distrital, regional ou rural —, a se apoderarem, por meio desses organismos de base, das terras dos latifundiários, arrancando-as da propriedade privada parasitária, e a iniciarem o cultivo coletivo dessas terras sob direção própria, de maneira planificada e solidária.
Instamos que o façam sem demora, sem aguardar as deliberações da prometida Assembleia Nacional Constituinte, cujo adiamento sistemático serve apenas aos interesses da classe dominante, e sem dar ouvidos às ordens e proibições reacionárias dos ministros do Governo Provisório, cujas medidas têm por única finalidade colocar travas e entraves entre as engrenagens da revolução popular em marcha.
Com tais palavras de ordem, Stálin antecipava — antes mesmo do retorno de Lênin à Rússia — os elementos centrais do programa agrário do Partido Bolchevique. Ele oferecia ao campesinato pobre não apenas uma consigna, mas uma estratégia concreta de poder: organização de base, expropriação direta e produção coletiva sob comando dos comitês revolucionários. Era a tradução prática da aliança operário-camponesa, alicerce indispensável da revolução socialista.
A consolidação da Revolução Proletária exigia, naquele momento, a preservação inflexível dos princípios programáticos e táticos do bolchevismo, e isso significava travar uma luta encarniçada contra todas as formas de oportunismo, revisionismo e capitulação diante da burguesia. Não bastava combater os adversários declarados — mencheviques, socialistas-revolucionários e cadetes —, era necessário também desmascarar os conciliadores internos, aqueles que, embora se apresentassem sob o manto do bolchevismo, defendiam uma política ambígua, titubeante e, no fundo, contrarrevolucionária.
Foi precisamente isso que Stálin fez. Atuando pela linha leninista, denunciou os derrotistas e vacilantes de dentro do Partido — entre os quais Kamenev e sua fração —, cujas posições favoreciam a manutenção do poder burguês e obstaculizavam a transição para a ditadura do proletariado. Mesmo em meio a essa luta ideológica e política, Stálin manteve firme a bandeira do Comitê Central do Partido Bolchevique e empenhou-se, com energia redobrada, no chamado ao retorno de Lênin à Rússia, compreendendo que sua direção era insubstituível quando a revolução entrava em nova etapa.
No dia 3 de abril de 1917, Stálin deslocou-se até Byelo-Ostrovo para encontrar-se com Lênin, que acabara de retornar do exílio. O reencontro entre os dois grandes dirigentes do bolchevismo foi marcado por profunda emoção e júbilo. Após longa separação física, Lênin e Stálin uniram-se novamente na frente de combate, prontos a conduzir lado a lado a luta pela instauração da ditadura do proletariado e pela conquista do poder pelos Sovietes.
Durante a viagem a Petrogrado, Stálin atualizou Lênin sobre a situação interna do Partido, os avanços do movimento de massas e as principais contradições do momento político. No dia seguinte, em 4 de abril, Lênin interveio numa conferência do Partido e apresentou suas célebres “Teses de Abril”, nas quais traçava, com a clareza estratégica que o caracterizava, o plano para a transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista. Nessas teses, convocava a classe operária e os soldados a romperem definitivamente com o Governo Provisório e a transferirem todo o poder para os Sovietes, expressão viva da ditadura do proletariado em formação.
Quando Zinoviev e Kamenev — cujo nome a história registra como traidores da revolução — insurgiram-se contra o plano estratégico de Lênin para a superação da etapa democrático-burguesa e a transição à revolução socialista, encontraram em Stálin uma oposição inflexível. Com firmeza e lealdade revolucionária, Stálin rechaçou suas posições conciliadoras e defendeu, com ardor e clareza, a proposta de Lênin como o único caminho consequente diante da correlação de forças e das tarefas históricas do momento. A partir daquele ponto, iniciou-se uma nova etapa na trajetória política de Stálin — etapa marcada pela estreita colaboração com Lênin, pela atuação conjunta nas frentes decisivas da luta de classes e pela consolidação de sua estatura como dirigente bolchevique de envergadura internacional.
Ele próprio atribuiu importância excepcional à experiência revolucionária forjada nos combates de 1917. Em discurso pronunciado diante dos operários dos Ateliês Centrais da Estrada de Ferro Transcaucásica, na cidade de Tiflis, em 8 de junho de 1926, Stálin evocava aquele período com emoção e clareza política:
Lembro-me, finalmente, do ano de 1917, quando, por vontade do Partido, após vagar de prisão em prisão e de exílio em exílio, fui enviado a Leningrado. Ali, entre os operários russos, junto ao grande mestre do proletariado de todos os países, o camarada Lênin, no calor dos combates entre o proletariado e a burguesia, no meio da guerra imperialista, aprendi, pela primeira vez, o que significa ser dirigente de um grande Partido da classe trabalhadora.
Ali, entre os operários russos — libertadores dos povos oprimidos e vanguarda da luta proletária em todos os países e nações — recebi meu terceiro batismo de fogo revolucionário. Ali, na Rússia, sob a direção de Lênin, tornei-me um dirigente na arte da revolução.
Ao lado de Lênin, Stálin participou ativamente das reuniões do Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado, contribuindo diretamente para a orientação política da insurreição em desenvolvimento. Junto ao grande chefe do bolchevismo, dirigiu os trabalhos dos delegados bolcheviques na Conferência Pan-Russa dos Sovietes de Deputados Operários e Soldados. Como membro do Comitê Central, colaborou estreitamente com Lênin na redação e na direção política do Pravda, órgão central do Partido, onde seus artigos se alternavam harmoniosamente com os de Lênin, iluminando, com precisão teórica e clareza revolucionária, todas as questões candentes da luta de classes.
Na Conferência de Abril do Partido Bolchevique, realizada em 1917, Stálin apresentou o informe sobre a questão nacional. Em contraposição à linha chauvinista e centralista defendida por Pyatakov e outros elementos da ala “esquerdista”, sustentou com vigor a orientação leninista, centrada no reconhecimento concreto do direito das nações à autodeterminação, inclusive à secessão. Ao mesmo tempo, combateu energicamente a proposta oportunista de Kamenev, que sugeria que os bolcheviques deveriam abandonar a luta pela hegemonia soviética sobre o Governo Provisório, em nome de uma suposta “confiança popular”. Stálin desmascarou essa posição como sendo, de fato, uma tentativa de legitimar um acordo reacionário entre opressores e oprimidos, entre dominadores e dominados — algo absolutamente incompatível com a política de classe do Partido Bolchevique.
No informe que apresentou à Conferência, Stálin conduziu uma crítica devastadora contra a ala “esquerdista”, demonstrando que, ao negar a autodeterminação nacional sob o pretexto de internacionalismo, tais elementos acabavam servindo objetivamente à causa do chauvinismo grão-russo. Concluiu sua exposição sistematizando a posição do Partido sobre a questão nacional nos seguintes termos:
Assim, nossa posição sobre a questão nacional pode ser resumida nas seguintes proposições:
1. Reconhecimento do direito das nações à secessão;
2. Autonomia regional para as nações que permaneçam dentro do Estado em questão;
3. Legislação especial garantindo liberdade de desenvolvimento para as minorias nacionais;
4. Um único corpo proletário indivisível, um único partido para os proletários de todas as nacionalidades do Estado.
Essa formulação tornou-se uma das pedras angulares da política nacional do Partido Bolchevique, expressão prática da unidade proletária na diversidade nacional, e arma poderosa contra o chauvinismo e o separatismo.
Após a Conferência de Abril, em maio de 1917, Stálin foi eleito membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Bolchevique — organismo que passaria a exercer papel dirigente central na condução da insurreição socialista. Desde então, sua presença nesse núcleo dirigente permaneceu ininterrupta, refletindo o reconhecimento, por parte do Partido, de sua firmeza, clareza ideológica e capacidade organizativa.
Como é do conhecimento de todo marxista-leninista, as resoluções adotadas pela Conferência de Abril de 1917 representaram um ponto de inflexão decisivo no curso da Revolução Russa, tendo exercido um impacto colossal sobre o desenvolvimento posterior do processo revolucionário e sobre a luta consciente e organizada do Partido pela conquista do poder pela classe operária. Nessas resoluções, formuladas sob a direção teórica de Lênin e sustentadas pela intervenção firme de Stálin, traçava-se com clareza e rigor dialético o caminho da transição da revolução democrático-burguesa para a revolução socialista — ou seja, a passagem ao segundo estágio do processo revolucionário, cujo objetivo imediato era a destruição do poder dos capitalistas e latifundiários e a instauração da ditadura do proletariado, alicerçada no poder soviético.
Logo após essa conferência histórica, Lênin e Stálin lançaram-se, com incansável energia revolucionária, à realização de um trabalho gigantesco de agitação, esclarecimento político e organização das massas, preparando-as para cumprir sua tarefa histórica. Stálin, de modo particular, mergulhou de forma abnegada numa atividade intensa e multifacetada, que combinava a propaganda política com o trabalho prático de mobilização, instrução e centralização da ação proletária. Compreendia perfeitamente que, diante da magnitude da tarefa colocada — a tomada do poder pelo proletariado —, seria um erro grave desperdiçar forças em ações esparsas, isoladas e descoordenadas. A ação coletiva das massas deveria ser organizada de tal maneira que sua força demonstrasse, não apenas simbolicamente, mas concretamente, a crescente hegemonia política do bolchevismo.
As manifestações de abril, o desfile do Primeiro de Maio e, sobretudo, a grandiosa manifestação de massas de 18 de junho de 1917, comprovaram, de forma incontestável, a força acumulada pelo Partido Bolchevique no seio do proletariado urbano e das tropas revolucionárias. Em conexão com essa última manifestação, Stálin redigiu um poderoso manifesto intitulado “A todos os trabalhadores, a todos os operários e soldados de Petrogrado”, no qual conclamava o povo a transformar aquele dia em:
Um dia de protesto grandioso e revolucionário em Petrogrado contra a reemergência da opressão e da tirania!
A peça de agitação seguia com palavras de convocação:
Que as bandeiras da vitória tremulem amanhã, para o desespero dos inimigos da liberdade e do socialismo!
Que vossa voz, a voz dos combatentes da revolução, ecoe pelo mundo, para a alegria de todos os oprimidos e escravizados!
Operários! Soldados! Uni-vos num abraço fraterno e avançai sob a bandeira do socialismo! Todos às ruas, camaradas! Reuni-vos em torno de vossas bandeiras! Marchai em fileiras cerradas pelas ruas da capital!
Nesse dia histórico, cerca de meio milhão de operários e soldados de Petrogrado marcharam sob a bandeira vermelha do Partido Bolchevique, orientados politicamente por Lênin e Stálin, revelando aos olhos do mundo a crescente maturação do movimento revolucionário e o avanço prático da luta pelo poder dos Sovietes.
Ao constatar a velocidade fulminante com que crescia a influência do bolchevismo, e temendo que a insurreição se tornasse incontrolável, o Governo Provisório, dominado pelas forças do capital e sustentado pelas baionetas da contrarrevolução, decidiu recorrer abertamente ao terror político. Buscando empurrar o Partido Bolchevique novamente à clandestinidade e justificar futuras repressões, passou a operar a construção de um pretexto político para desferir um golpe contra o Partido.
A política traiçoeira, contrarrevolucionária e antiproletária do Governo Provisório provocou, como reação, as poderosas manifestações de 3 e 4 de julho de 1917, nas quais operários e soldados, indignados com as promessas traídas e os ataques da burguesia, tomaram novamente as ruas. A resposta do Estado foi imediata e brutal: disparou contra os manifestantes, destruiu a redação do Pravda, caluniou publicamente Lênin com falsas acusações e, por fim, decretou sua prisão. Diante do cerco repressivo, Lênin foi forçado a passar à clandestinidade.
Neste momento de crise aguda, em que o Partido se encontrava sob fogo cruzado da burguesia, da imprensa reacionária e da provocação policial-militar, Stálin demonstrou, mais uma vez, sua firmeza bolchevique e sua fidelidade incondicional ao camarada Lênin. Enquanto elementos vacilantes e oportunistas — como Kamenev e outros revisionistas internos — exigiam que Lênin se entregasse “voluntariamente” aos tribunais da burguesia, Stálin, junto a Sergo Ordzhonikidze, Yakov Sverdlov e outros membros leais do Partido, assumiu a responsabilidade direta por garantir a segurança de Lênin, ocultando-o tanto da polícia do Governo Provisório de Kerensky quanto da fúria das tropas e da Guarda Branca.
Foi nesse momento dramático, em que a reação procurava estrangular a revolução em seu berço, que Stálin assumiu, com firmeza e maturidade revolucionária, a direção prática do Partido Bolchevique, mantendo a linha insurrecional, reorganizando as forças revolucionárias e mobilizando o proletariado e as tropas para a tarefa iminente: a preparação e deflagração da insurreição armada.
Após a brutal repressão desencadeada pela burguesia e seus aliados contrarrevolucionários nos dias de julho de 1917, o Partido Bolchevique, embora ferido, permaneceu de pé, reorganizando suas forças e mantendo sua ligação orgânica com as massas proletárias e revolucionárias. O jornal Pravda, órgão central do Partido, havia sido suprimido pelas autoridades do Governo Provisório. Em seu lugar, passou a circular, a partir de 10 de julho de 1917, o periódico Rabochy i Soldat (Operários e Soldados), órgão provisório do Partido, através do qual Stálin se dirigiu novamente ao proletariado.
No artigo intitulado “A vitória da contrarrevolução”, Stálin denunciava sem ambiguidades a traição dos partidos pequeno-burgueses — os socialistas-revolucionários e os mencheviques — que, aliados à burguesia, haviam se colocado aberta e violentamente contra os trabalhadores e soldados. Escrevia:
Os operários jamais esquecerão que, nos momentos cruciais dos dias de julho, quando a contrarrevolução enfurecida abriu fogo contra a revolução, o Partido Bolchevique foi o único partido que não abandonou os bairros operários.
Os operários jamais esquecerão que, nesses momentos, os partidos “governantes” — os Socialistas-Revolucionários e os Mencheviques — estavam no campo dos que atacavam e desarmavam os operários, soldados e marinheiros. Os operários recordarão tudo isso e daí tirarão as conclusões apropriadas.
Essas palavras expressavam não apenas a denúncia de uma traição específica, mas uma orientação estratégica: o Partido precisava aprofundar sua ligação com as massas, mostrando, com exemplos vivos e concretos, quem de fato defendia os interesses históricos do proletariado e quem os traía por trás de frases vazias e alianças com a burguesia.
Mesmo sob as condições extremamente difíceis impostas pela ofensiva contrarrevolucionária, o Partido não recuou. Em 26 de julho de 1917 (8 de agosto pelo calendário gregoriano), enquanto a burguesia celebrava sua “vitória” efêmera, o Partido Bolchevique reunia, em condições semiclandestinas, seu 6º Congresso, momento decisivo no processo preparatório da insurreição armada. Com Lênin ainda forçado à clandestinidade, coube a Stálin a direção política e organizativa do Congresso. Foi ele quem orientou a linha do Partido, com base na análise da situação objetiva e das tarefas do momento, traçando com precisão o caminho a ser seguido até a derrubada definitiva do Estado burguês.
A maior parte dos informes apresentados ao Congresso foi responsabilidade de Stálin, que demonstrou, com domínio teórico e clareza política, que a tarefa central naquele momento era o esclarecimento e o trabalho de convencimento das massas trabalhadoras quanto à necessidade histórica da derrubada armada do Governo Provisório e da instauração do poder dos Sovietes — isto é, da ditadura revolucionária do proletariado em aliança com o campesinato pobre. Dizia ele:
Restava apenas uma tarefa, a saber, tomar o poder pela força, derrubando o Governo Provisório. E apenas o proletariado, aliado ao campesinato pobre, poderia tomar o poder pela força.
Essa formulação não era apenas uma palavra de ordem tática, mas a expressão de uma análise dialética da correlação de forças e da maturação do processo revolucionário. Para Stálin, a revolução democrático-burguesa, ao alcançar seus limites históricos, já se transformava, em seu próprio movimento, em revolução socialista. A própria realidade do país — as profundas transformações que se operavam na estrutura econômica, tanto na agricultura quanto na indústria — apontava inequivocamente para o caráter socialista do novo estágio da revolução. Era preciso, portanto, dotar o Partido de uma linha política ofensiva, com vistas à insurreição armada e à conquista integral do poder pelos Sovietes, sob a direção consciente do Partido Bolchevique.
Ela começou a adquirir o caráter de uma revolução socialista, dos trabalhadores.(1)
No 6º Congresso do Partido Bolchevique, realizado em meio ao refluxo momentâneo provocado pela ofensiva contrarrevolucionária de julho, Stálin respondeu com firmeza e severidade marxista aos inimigos internos da revolução proletária — entre eles, os oportunistas Bukhárin e Preobrazhensky. Esses elementos, embora formalmente inseridos nas fileiras do Partido, sustentavam posições profundamente derrotistas, ecoando concepções fatalistas e mecanicistas que, em essência, negavam a possibilidade da vitória do socialismo no país. Segundo eles, a Rússia, devido ao seu suposto “atraso” histórico, não poderia ser o primeiro país a realizar uma revolução socialista vitoriosa.
Stálin refutou essas ideias com clareza e combatividade, desmascarando-as como vestígios do dogmatismo esterilizado e da subordinação teórica à Europa Ocidental. Em sua “Resposta a Preobrazhensky quanto ao artigo 9 da resolução sobre a situação política”, declarou categoricamente:
Devemos abandonar essa ideia antiquada de que apenas a Europa pode nos mostrar o caminho. Isso é dogmatismo, é marxismo estéril. Eu defendo o marxismo criador.
Esta formulação sintetiza uma das contribuições teóricas mais avançadas de Stálin naquele momento histórico: a defesa de um marxismo vivo, criador, dialético — enraizado nas condições concretas da luta de classes na Rússia —, em contraposição à repetição mecânica de fórmulas abstratas extraídas da realidade da Europa Ocidental.
Stálin sublinhou ainda que a fase anterior, de coexistência instável entre os Sovietes e o Governo Provisório, havia terminado. O poder havia passado, de fato, às mãos da burguesia, e o período pacífico da revolução encontrava-se encerrado. Um novo ciclo histórico despontava, marcado por rupturas abertas e confrontos irreversíveis. Em seu “Informe sobre a situação política”, afirmou:
O período pacífico da revolução terminou, inicia-se um período não pacífico, um período de choques e explosões.
Essas palavras não eram previsões abstratas, mas uma orientação estratégica precisa: a preparação da insurreição armada era agora a tarefa imediata e central do Partido.
A “História da Guerra Civil”, obra oficial da historiografia bolchevique, ao tratar o 6º Congresso, afirma:
As teses de Lênin, suas ideias, sua direção firme e suas recomendações diretas e precisas impregnaram os trabalhos do Congresso e os discursos e pronunciamentos de Stálin.
Stálin apoiava-se nas palavras de Lênin, orientando o Partido para a tarefa urgente e decisiva: a derrubada do Estado burguês e a conquista do poder pelo proletariado em aliança com o campesinato pobre.
Durante esse período crítico, Stálin manteve contato estreito com Lênin, coordenando os preparativos da insurreição de forma meticulosa e disciplinada. Através de contatos diretos e por meio do camarada Sergo Ordzhonikidze, Stálin assegurava o elo vivo entre o Comitê Central do Partido e seu dirigente máximo, que permanecia na clandestinidade, perseguido pelo regime de Kerensky e pelos destacamentos contrarrevolucionários.
As memórias do camarada Sergei Alliluyev oferecem testemunho vívido desse período:
Nos dias de julho, quando Lênin foi obrigado a se esconder da perseguição enfurecida da burguesia, viveu comigo por vários dias, de 6 a 11 de julho, e o camarada Stálin vinha com frequência à minha casa para visitar o camarada Lênin.
Quando Lênin partiu para Sestroretsk (isto ocorreu na noite de 11 de julho), o camarada Stálin e eu o acompanhamos até a Estação de Sestroretsk, situada então em Novaya Derevnya, na margem do Nevka, próximo ao aterro de Bolshaya Nevka. Caminhamos todo o trajeto desde a Rua Tenth Rozhdestvenskaya até a estação.
Enquanto permanecia no barracão em Razliv e, mais tarde, na Finlândia, Lênin me enviava cartas de tempos em tempos para que fossem entregues ao camarada Stálin. As cartas eram trazidas à minha casa e, como precisavam ser entregues com urgência, o camarada Stálin mudou-se para minha casa, na Rua Rozhdestvenskaya, nº 17, em agosto, e ocupou o mesmo quarto no qual o camarada Lênin havia se escondido durante os dias de julho.
Esses relatos confirmam, de forma documental e humana, o grau de confiança mútua e a colaboração estreita entre Lênin e Stálin, que, juntos, traçavam as linhas gerais da insurreição e asseguravam a continuidade política e organizativa do Partido.
Graças à justa linha do Partido, sob a direção direta de Lênin e Stálin — esses dois mestres insuperáveis da arte da revolução —, a classe operária, em aliança cada vez mais sólida com os soldados e marinheiros revolucionários, conquistou o apoio político ativo de camadas cada vez mais amplas do campesinato. A hegemonia bolchevique nas cidades avançava para o campo, estabelecendo as bases sociais e políticas para a vitória da insurreição socialista.
O levante contrarrevolucionário comandado por Kornilov, em agosto de 1917, marcou um dos momentos mais críticos da Revolução Russa — e um dos mais esclarecedores para as massas quanto à natureza de classe do Governo Provisório e à necessidade urgente de sua derrubada. Esse motim, que teve como objetivo declarado esmagar os Sovietes, restaurar a ditadura militar e restaurar as estruturas czaristas do poder burguês-latifundiário, foi derrotado graças à resistência organizada das massas operárias, dos soldados revolucionários e à ação decidida do Partido Bolchevique, cuja direção política recaiu, nesse momento, principalmente sobre os ombros de Stálin.
Uma parte significativa do trabalho de denúncia, organização, convencimento e mobilização para a derrota de Kornilov coube diretamente a Stálin, enquanto dirigente central do Partido. Em 8 de agosto de 1917, o Rabochy i Soldat publicou um artigo de Stálin em que se desmascaravam os planos de conspiração do alto comando contrarrevolucionário. Ali, Stálin advertia as massas quanto à farsa orquestrada pelas classes dominantes sob o pretexto de “salvar a revolução”, e expunha a ligação objetiva entre o general golpista Kornilov e o próprio Governo Provisório, que encobria e facilitava suas manobras.
No mesmo mês, quando foi convocado a chamada Conferência de Moscou, um órgão espúrio forjado pelas forças contrarrevolucionárias sob a máscara de “representação nacional”, Stálin publicou no Rabochy i Soldat o artigo “Contra a Conferência de Moscou”, no qual delineava com precisão as tarefas imediatas da vanguarda proletária diante daquela ameaça reacionária. Assim escreveu:
Arrancar da Conferência a máscara de órgão representativo do povo, revelando seu caráter contrarrevolucionário e antipovo diante da luz pública;
Denunciar os mencheviques e socialistas-revolucionários que, com a bandeira de “salvar a revolução”, protegiam essa Conferência e enganavam o povo da Rússia;
Organizar manifestações de massas contra essas maquinações contrarrevolucionárias dos salvadores, que na verdade defendem os lucros dos latifundiários e capitalistas.
Que os inimigos da revolução saibam que os operários não se deixarão enganar, e que não permitirão que a bandeira de combate da revolução escape de suas mãos.
Com a repressão do Rabochy i Soldat pelo Governo de Kerensky, surgiu um novo órgão da imprensa bolchevique — o jornal Proletary (O Proletário) —, que começou a circular ainda em agosto de 1917. Já no primeiro número, Stálin publicou o artigo “Onde leva Conferência de Moscou?”, no qual saudava a greve dos operários moscovitas como expressão direta da consciência de classe e da vigilância revolucionária das massas. Nesse texto, Stálin expunha, passo a passo, o curso da conspiração encoberta pela Conferência, revelando como os setores mais reacionários da burguesia, com o apoio tácito dos partidos pequeno-burgueses, preparavam um novo assalto ao poder soviético.
No artigo de 17 de agosto de 1917, também publicado no Proletary, Stálin foi categórico na caracterização daquele órgão:
A Conferência de Moscou representa, na prática, a coroação da contrarrevolução.
Contudo, como os acontecimentos se encarregaram de demonstrar, o resultado do motim de Kornilov foi oposto ao que seus articuladores esperavam. Em vez de esmagar a revolução, o fracasso da conspiração demonstrou às massas trabalhadoras — e especialmente aos soldados e camponeses — que apenas o Partido Bolchevique era capaz de defender a revolução com firmeza, clareza programática e ligação direta com os interesses dos explorados. O prestígio do Partido cresceu consideravelmente, e as novas eleições aos Sovietes deram lugar a uma vitória expressiva dos bolcheviques. A palavra de ordem “Todo o Poder aos Sovietes!”, que havia sido temporariamente retirada das palavras de ordem, voltou a ser levantada com força redobrada, agora com base no amadurecimento da situação objetiva e subjetiva da revolução.
Lênin, então na clandestinidade, insistia de forma cada vez mais veemente na necessidade de preparar a insurreição armada, advertindo contra qualquer hesitação ou capitulação diante do perigo reacionário. Em suas cartas “Os bolcheviques devem tomar o poder” e “O Marxismo e a Insurreição” Lênin apresentava com nitidez a linha de ação necessária: organizar, com disciplina e determinação revolucionária, o assalto ao poder, condenando severamente os capituladores Kamenev, Zinoviev e demais elementos vacilantes que se opunham à insurreição, ora em nome de um “respeito formal à legalidade”, ora sob o disfarce do “realismo tático”.
Enquanto isso, Stálin, atuando à frente do Comitê Central, desenvolvia incansavelmente os preparativos concretos da insurreição. A partir da experiência acumulada na derrota de Kornilov, da intensificação da luta de massas nas ruas e da consolidação do apoio proletário nos principais centros industriais e militares, o Partido avançava com segurança rumo ao cumprimento de sua missão histórica: a conquista do poder político pelas mãos da classe operária, em aliança com o campesinato pobre e com as forças revolucionárias do exército.
Na reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique realizada em 15 de setembro de 1917, o traidor Kamenev — cuja atuação representava, àquela altura, a quintessência do oportunismo e da capitulação diante da burguesia — ousou propor a inclusão, na resolução partidária, de uma declaração que desautorizasse qualquer ação de rua, defendendo abertamente que os bolcheviques se opunham a toda e qualquer forma de mobilização. Indo ainda mais longe em sua política abertamente reacionária, Kamenev exigiu que as cartas de Lênin, nas quais se delineava com precisão a necessidade imediata da insurreição armada, fossem destruídas, conservando-se apenas uma única cópia arquivada — tentativa clara de sabotar a orientação revolucionária do Partido e de apagar os traços da linha insurrecional.
Foi Stálin quem enfrentou decididamente essa manobra. Com crítica firme e severa, desmontou os propósitos de Kamenev, denunciando o conteúdo sabotador de sua proposta e defendendo que as cartas de Lênin fossem imediatamente debatidas em todos os níveis do Partido, e que cópias fossem distribuídas aos principais organismos, como instrumentos de orientação para a ação revolucionária. O Comitê Central aprovou as propostas de Stálin, frustrando assim a tentativa de censura e ocultamento da linha revolucionária traçada por Lênin.
A partir daquele momento, Stálin concentrou-se com disciplina e método nos preparativos práticos da insurreição armada. Dedicou atenção especial à formação da Guarda Vermelha, à organização dos destacamentos de combate e ao armamento sistemático da vanguarda operária — entendendo que a vitória da revolução dependeria, em última instância, da capacidade do proletariado de se organizar, de forma independente, como força armada de poder.
Em 10 de outubro de 1917, o Comitê Central do Partido Bolchevique aprovou, por maioria decisiva, a resolução que determinava a realização da insurreição. Na mesma ocasião, Stálin foi eleito membro do Comitê Militar Revolucionário encarregado da direção da insurreição armada, integrando o centro dirigente que coordenaria as ações revolucionárias no plano militar, político e logístico.
Nas reuniões decisivas do Comitê Central de 10 e 16 de outubro, que selaram o compromisso do Partido com a insurreição e a tomada do poder pelos Sovietes, Stálin, em uníssono com Lênin, desmascarou e denunciou os elementos conciliadores e derrotistas — Zinoviev, Kamenev, Trotsky e seus adeptos — que, sob pretextos “táticos”, propunham adiar o levante e, com isso, dar tempo à burguesia para reorganizar suas forças contrarrevolucionárias.
Na reunião ampliada de 16 de outubro, Stálin foi categórico ao identificar o antagonismo irreconciliável entre duas linhas em confronto dentro do próprio Partido:
O que Kamenev e Zinoviev propõem permitiria à contrarrevolução se reorganizar. Duas linhas estão em choque: uma marcha rumo à revolução; a outra, não acredita na revolução e contenta-se em ser mera oposição.
Com essas palavras, Stálin demarcava, sem equívocos, os campos em luta: de um lado, a linha leninista-insurrecional, revolucionária e de ofensiva; de outro, a linha da espera passiva, da colaboração disfarçada com a burguesia, da rendição diante da história.
Foi nessa mesma reunião que Stálin foi designado para dirigir, no plano prático, o Centro do Partido encarregado da insurreição, núcleo dirigente da ação armada que se aproximava. Com base nessa direção centralizada e disciplinada, o Comitê Central pôde neutralizar a tentativa do Governo Provisório de deslocar forças militares reacionárias para Petrogrado a fim de esmagar a revolução iminente.
Kerensky, em desespero, ordenou a supressão do jornal bolchevique Rabochy Put (O Caminho Operário), buscando calar a palavra de ordem dos revolucionários. Mas essa ordem tornou-se inócua. Como escreveram os próprios bolcheviques: “Já não se dependia dele”.
A revolução encontrava-se em marcha. A organização dos destacamentos defensivos da Guarda Vermelha e das unidades de soldados revolucionários, realizada sob a supervisão direta de Stálin, garantiu não apenas a continuidade da publicação do jornal, como também a proteção dos centros operários e dos pontos estratégicos da capital — prenúncio da insurreição que, em breve, tomaria de assalto o velho poder e instauraria a ditadura do proletariado.
Às onze horas da manhã do dia 24 de outubro de 1917 (6 de novembro pelo calendário gregoriano), o jornal Rabochy Put, lançou ao povo trabalhador o chamado definitivo à derrubada do Governo Provisório. Simultaneamente, por ordem do Comitê Militar Revolucionário encarregado da insurreição — cuja direção política e organizativa estava sob responsabilidade direta de Lênin, Stálin, Lazimir, Bubnov, Uritsky, Sverdlov e Dzerzhinsky — destacamentos de soldados revolucionários e guardas vermelhos deslocavam-se com presteza rumo ao Instituto Smolny, que se tornava o quartel-general da revolução em marcha.
A insurreição havia começado.
Naquela mesma noite, compreendendo a urgência do momento histórico e o equilíbrio precário da correlação de forças, Lênin redigiu sua célebre “Carta ao Comitê Central”, na qual expressava com precisão a necessidade inadiável da ação armada:
É imprescindível que todos os bairros operários, todos os regimentos revolucionários, todas as unidades armadas e destacamentos populares sejam imediatamente mobilizados e que enviem, sem a menor demora, delegações ao Comitê Militar Revolucionário e ao Comitê Central do Partido Bolchevique, exigindo com veemência e resolução inflexível: não deixar, em hipótese alguma, o poder nas mãos de Kerensky e seus cúmplices até o dia 25; resolver essa questão inadiavelmente ainda hoje, esta noite ou, no mais tardar, na madrugada seguinte.
A história não perdoará a hesitação aos revolucionários que, podendo vencer hoje — e certamente vencerão hoje se agirem com decisão —, arriscarem-se a perder tudo amanhã. O custo de um erro de cálculo nesse momento é incalculável; adiar agora é ceder, e ceder é trair a revolução.
Tomando o poder hoje, não o tomaremos contra os Sovietes, mas em nome deles, para eles e através deles.
A tomada do poder é uma ação prática da insurreição armada; sua definição política e institucional será clarificada após a vitória, por meio da edificação do novo poder soviético. Seria um desastre histórico, ou pior, um formalismo, esperar passivamente pela votação vacilante e indecisa do dia 25 de outubro. O povo — e somente o povo — possui o direito, e mais do que isso, o dever histórico, de resolver tais questões não por meio de votações formais, mas pela força revolucionária direta.
O povo, em momentos decisivos da revolução, não deve esperar por seus representantes — mesmo os melhores dentre eles —, mas deve dirigi-los, impulsioná-los, colocá-los à frente da tempestade popular.
Assim tem sido o ensinamento de todas as grandes revoluções da história, e seria um crime imperdoável da parte dos revolucionários perder o momento certo, quando dele depende a salvação da revolução, a paz tão urgentemente necessária, a defesa de Petrogrado, a ruptura com a fome, e a entrega imediata da terra aos camponeses.
O governo vacila — é hora de liquidá-lo, custe o que custar! Adiar a insurreição agora é marchar ao encontro da derrota. A demora significa a morte.
No mesmo espírito, e no mesmo dia, Stálin publicou no Rabochy Put o artigo “Do que precisamos?”, onde reiterava com firmeza a linha do Partido:
É imperioso corrigir, sem qualquer demora, esse erro funesto, pois o momento histórico é tal que qualquer novo adiamento ameaça conduzir à ruína total e irreversível toda a causa da revolução proletária.
Torna-se uma exigência objetiva da luta de classes que o atual governo burguês, sustentáculo dos latifundiários e dos capitalistas, seja imediatamente derrubado e substituído por um novo governo — um governo dos operários e dos camponeses, fundado sobre as massas revolucionárias e em consonância com os interesses históricos do proletariado.
É absolutamente necessário que se substitua este governo ilegítimo, que surgiu não da vontade popular, mas de acordos de bastidores e que não foi eleito pelo povo nem diante dele presta contas, por um governo verdadeiramente revolucionário — eleito democraticamente pelos Sovietes de Deputados Operários, Soldados e Camponeses, e plenamente responsável perante essas instâncias representativas da classe trabalhadora e das massas populares exploradas.
Na noite de 24 de outubro, Lênin chegou ao Smolny, e, junto de Stálin, assumiu pessoalmente a direção das forças armadas da revolução, coordenando os movimentos dos destacamentos, articulando as tomadas dos pontos estratégicos e assegurando o curso vitorioso da insurreição.
Na manhã do dia 25 de outubro (7 de novembro), o poder político passava, pela primeira vez na história da humanidade, às mãos da classe operária e do campesinato pobre. Os sovietes, sob a hegemonia do Partido Bolchevique, tornaram-se órgãos efetivos do novo Estado — o Estado da ditadura revolucionária do proletariado.
Dois dias depois, em 27 de outubro (9 de novembro), o 2º Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia consagrava o nascimento do primeiro governo operário e camponês da história mundial. O decreto de sua formação foi redigido nos seguintes termos:
Presidente do Conselho de Comissários do Povo
Vladimir Ulyanov (Lênin);Comissário do Povo para as Nacionalidades
J. V. Dzhugashvili (Stálin).
A Grande Revolução Socialista de Outubro de 1917 saía vitoriosa, e com ela abria-se uma nova era na história — a era do socialismo, da ditadura do proletariado, da construção de uma nova sociedade sem exploradores nem explorados. Encerrava-se a época do reformismo, da conciliação de classes, da traição da 2ª Internacional e de sua decadência. Inaugurava-se a época do leninismo, da Comintern, da estratégia da revolução mundial.
Chegara, enfim, o grande momento histórico pelo qual lutaram gerações de revolucionários, o objetivo pelo qual os grandes mestres do socialismo científico — Marx, Engels e Lênin — haviam combatido com tenacidade e abnegação. O sonho secular dos povos oprimidos, o ideal do comunismo, deixava de ser uma utopia distante para tornar-se realidade concreta: a bandeira vermelha do socialismo foi hasteada sobre um sexto da superfície do planeta.
Naquele instante decisivo, o Partido Bolchevique contava com menos de 250 mil membros. Contudo, era um partido de novo tipo, um partido proletário autêntico, armado com a teoria revolucionária e a disciplina de ferro, que organizava e dirigia milhões — operários, camponeses, soldados, marinheiros — dispostos a dar a vida pela causa da revolução socialista. Eles marcharam com confiança e consciência histórica rumo à vitória, guiados pela mão firme de dois gigantes do pensamento e da prática revolucionária, forjados nas batalhas da luta de classes: Lênin e Stálin, os dois grandes mestres da arte da revolução.