Os bolcheviques jamais alimentaram ilusões quanto ao caráter pacífico da transição do capitalismo ao socialismo. Sabiam, com plena clareza teórica e lucidez histórica, que a ditadura do proletariado não poderia ser instaurada, tampouco consolidada, sem o enfrentamento direto e violento com as forças da reação. Compreendiam que a construção de um Estado socialista não ocorreria por consenso, sem uma guerra civil, pois as classes exploradoras — cujos privilégios se erguiam sobre séculos de espoliação — não abandonariam voluntariamente a cena da história. O que a Revolução de Outubro lhes arrebatara — o poder político, a propriedade fundiária, o controle dos meios de produção — elas procurariam reconquistar com sangue e aço, mobilizando todos os recursos de que ainda dispunham.
O fato de que a Rússia revolucionária se retirara da Guerra Imperialista por meios revolucionários, rompendo unilateralmente com o sistema imperialista, implicava automaticamente sua entrada em uma nova guerra: a guerra civil. A burguesia russa, aliada ao capital financeiro internacional, reagiu com rapidez. A insurreição da Legião Tchecoslovaca — meticulosamente planejada e executada sob orientação dos imperialistas britânicos e franceses — e as operações contrarrevolucionárias levadas a cabo por cadetes, mencheviques e socialistas-revolucionários marcaram, de forma inequívoca, o início da ofensiva burguesa contra o poder soviético. Assim começava a guerra civil, instigada e financiada pelo imperialismo internacional para destruir a jovem República dos Sovietes.
Já na primeira metade de 1918, — registra a “História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS”, — duas forças bem definidas tomaram forma e se preparavam para empreender a derrubada do poder soviético: de um lado, os imperialistas estrangeiros da Entente e, de outro, os contrarrevolucionários internos [...] As condições de luta contra o poder soviético impuseram a união de duas forças anti-soviéticas, a externa e a interna. Essa união se efetivou já na primeira metade de 1918. Foi assim que nasceu a intervenção militar estrangeira contra o poder soviético, sustentada por revoltas contrarrevolucionárias internas.
Com isso, chegava ao fim o breve intervalo de relativa trégua após a insurreição de Outubro, e abria-se uma nova fase da revolução: uma fase de guerra aberta entre duas ordens sociais inconciliáveis — de um lado, os trabalhadores e camponeses organizados nos sovietes, armados pelo Partido Bolchevique; de outro, os latifundiários, capitalistas e agentes do imperialismo, organizados sob a bandeira da reação branca.
Cinco frentes principais se formaram no território da Rússia soviética, exigindo da classe trabalhadora um esforço colossal e ininterrupto. A Frente Oriental, sob o comando de Kolchak, reunia as principais forças da contrarrevolução; a Frente Meridional era dirigida por Denikin; a Frente Noroeste abrigava os destacamentos de Rodzyanko e Yudenich; somavam-se ainda a Frente Polonesa e a Frente de Wrangel. Essas frentes formavam um arco de cerco e agressão contra o poder proletário. Nove décimos da energia política, administrativa e militar do Partido e do Governo Soviético foram consumidos na resistência a esses ataques — uma luta que envolveu toda a estrutura do novo Estado e exigiu o máximo da abnegação revolucionária dos comunistas.
Mais da metade dos membros do Partido Comunista e da União da Juventude Leninista-Comunista da União Soviética (Komsomol) foi mobilizada para as fileiras do Exército Vermelho; nas zonas de combate, essa mobilização atingia 100%. Era a juventude operária, forjada pela revolução, que dava sua vida para defender a nova ordem socialista.
O papel desempenhado por Stálin nessa luta histórica foi de magnitude excepcional. Como descreve Kliment Voroshilov, em sua obra “Stálin e o Exército Vermelho”, um de seus mais próximos camaradas de armas:
No período de 1918 a 1920, o camarada Stálin foi, provavelmente, o único companheiro que o Comitê Central enviava continuamente de uma frente a outra, sempre para os pontos mais vulneráveis, os locais onde a ameaça à revolução se mostrava mais iminente.
Seguindo rigorosamente as diretrizes do Partido, e após ter cumprido com firmeza a tarefa de organizar o abastecimento alimentar do país — em condições de bloqueio, sabotagem e fome generalizada —, Stálin passou a ser encarregado de missões de direção militar direta, com o objetivo de esmagar os focos da contrarrevolução e libertar as regiões ocupadas pelas forças brancas.
Hoje, a documentação histórica — na forma de escritos, filmes, peças teatrais e testemunhos — conserva e transmite a memória heroica daqueles anos: anos de luta encarniçada, nos quais cada grão de cereal era disputado com suor e sacrifício, cada palmo de terra era conquistado com sangue, e cada passo da revolução só era possível porque o povo, sob a direção do Partido, lançava todas as suas forças, sem reservas, na defesa da pátria socialista. Cercada por forças de intervenção estrangeira, submetida ao bloqueio econômico e ameaçada pela fome e pela miséria herdadas da guerra imperialista, a Rússia soviética sobreviveu, resistiu e venceu — não por um milagre, mas pela convicção inabalável de seus dirigentes, pela tenacidade das massas e pela unidade orgânica entre o Partido, o Exército Vermelho e os Sovietes.
Na derrota da contrarrevolução interna e externa, o papel desempenhado por Stálin foi decisivo, tanto no plano organizativo quanto no plano militar. Em 4 de agosto de 1918, escrevendo a Lênin diretamente de Tsaritsyn, Stálin relatava a situação crítica da frente e as medidas imediatas que se fizeram necessárias:
Recomeçamos tudo do princípio: organizamos o abastecimento, criamos um Departamento de Operações Militares, estabelecemos comunicações com todas as seções da frente, rescindimos ordens antigas — ordens criminosas, eu diria — e só então, enfim, lançamos a ofensiva sobre Kalach e o Sul, em direção a Tikhoretsk.
Essa era a realidade objetiva da luta de classes naquele momento: o antigo exército czarista havia ruído como estrutura militar coerente; o novo exército — o Exército Vermelho — encontrava-se em estágio de gestação, em processo de formação entre os escombros da velha ordem. Sua composição inicial estava marcada por grande heterogeneidade e, inevitavelmente, por elementos indisciplinados, muitos deles remanescentes da estrutura czarista, o que dificultava sobremaneira a criação de um exército regular, com unidade de comando, coesão política e disciplina.
Era uma necessidade objetiva, imposta pela guerra civil, a criação de um autêntico exército proletário — centralizado, disciplinado, firme — capaz de defender a ditadura do proletariado contra a reação interna e o imperialismo. Essa tarefa se converteu numa das principais questões do 8º Congresso do Partido, quando surgiu uma ampla “Oposição Militar”. Essa oposição, por um lado, agrupava elementos pequeno-burgueses que exaltavam métodos de guerrilha e desorganizavam as fileiras revolucionárias; por outro, reunia bolcheviques sinceros que, embora leais, estavam indignados com a direção de Trotsky no Exército Vermelho, especialmente por seu comportamento autoritário e sua política de cooptação de ex-generais czaristas.
O Congresso rejeitou o retorno aos métodos de guerrilha como um perigoso desvio anarquista, aprovando resoluções que visavam coibir as práticas desorganizadoras de Trotsky e estabelecer os fundamentos de um exército proletário verdadeiramente novo. Nesse debate, Stálin uniu-se a Lênin na defesa resoluta da criação de uma força armada disciplinada e popular, sustentada pela aliança entre operários e camponeses. Suas palavras no Congresso foram categóricas:
Ou criamos um verdadeiro exército de operários e camponeses — principalmente camponeses — um exército estritamente disciplinado, e defendemos a República, ou pereceremos.
Durante a Guerra Civil, Stálin revelou-se não apenas um dirigente político, mas também um estrategista militar de primeira ordem, com extraordinária capacidade de organização, julgamento concreto das situações e agressividade contra o inimigo. No final de 1918, uma crise de grandes proporções estourou na Frente Oriental: Kolchak, o chefe da reação naquela região, havia tomado a cidade de Perm e preparava um avanço no sentido norte, com a intenção de estabelecer contato direto com as forças de intervenção estrangeira.
O 3º Exército, mal dirigido por comandantes incompetentes e sem coesão política, encontrava-se em franca retirada e sofria pesadas perdas. O Comitê Central do Partido decidiu, então, enviar uma comissão investigativa composta por dois de seus membros mais confiáveis — Dzerzhinsky e Stálin — com a missão de apurar as causas da rendição de Perm e dos reveses sofridos nos Urais. Nas palavras de Voroshilov:
Designar uma comissão investigativa do Partido, composta por dois membros do Comitê Central — Dzerzhinsky e Stálin — para examinar minuciosamente as causas da rendição de Perm e das derrotas recentes na Frente dos Urais, bem como apurar integralmente todas as circunstâncias envolvidas.
Mas Stálin não era homem de investigações puramente formais. Para ele, examinar as causas de uma derrota significava, acima de tudo, agir imediatamente para superá-las. E assim fez. Assumiu a reorganização do comando, garantiu o fornecimento de suprimentos, destituiu chefes ineficazes, reforçou o trabalho do Partido e dos Sovietes na retaguarda e promoveu a revitalização do poder soviético nas zonas ameaçadas. Como resultado direto dessas medidas, o avanço do inimigo foi contido, e em janeiro de 1919 a Frente Oriental passou à ofensiva. Os Urais foram retomados no flanco direito. Conforme destacou Voroshilov:
Eis como o camarada Stálin compreendeu e executou sua tarefa de investigar as causas da catástrofe. Ele investigou, estabeleceu as causas e, ali mesmo, por sua própria ação, eliminou-as e promoveu as medidas necessárias para superá-las, fortalecer a frente e reorganizar o exército.
A ofensiva nos Urais contou também com a valiosa contribuição de Frunze e Kuibyshev, que atuaram ao lado de Stálin na consolidação da vitória na Frente Oriental.
Apesar das derrotas sofridas por Kolchak e da contenção de seu avanço rumo ao território europeu da Rússia, a ameaça reacionária ainda não havia sido liquidada. O imperialismo internacional, ao perceber o fortalecimento do poder soviético, buscou criar novas distrações para dividir as forças do Exército Vermelho. Elaborou, então, um plano para atacar diretamente Petrogrado — berço da Revolução de Outubro — com o objetivo de enfraquecer a Frente Oriental e permitir um contra-ataque de Kolchak.
Para isso, foi formado um exército contrarrevolucionário em território estoniano, sob o comando do general Yudenich, que rapidamente avançou contra Petrogrado, representando uma ameaça real e imediata ao coração simbólico da revolução proletária mundial.
Mesmo no seio das forças armadas revolucionárias, o inimigo de classe não cessava suas tentativas de sabotagem. Em Petrogrado e, inclusive, na Frota do Báltico, com destaque para Kronstadt, agentes contrarrevolucionários haviam se infiltrado — oficiais traidores que, mediante disfarce e subversão interna, abriram caminho para que a Guarda Branca se apossasse de posições fortificadas consideradas até então inexpugnáveis, como os fortes de Krasnaya Gorka e Seraya Loshad. Simultaneamente, unidades de Bulak-Balakhovich marchavam sobre Pskov, agravando ainda mais a situação no Noroeste.
Diante da gravidade do momento, o Comitê Central designou Stálin para enfrentar o perigo naquela frente ameaçada. Com a sua habitual firmeza, Stálin restaurou a disciplina entre as tropas, organizou o trabalho político-ideológico no interior do Exército Vermelho, assegurou suprimentos regulares, reforçou o moral das fileiras proletárias e, com energia inabalável, esmagou tanto os traidores quanto as forças do inimigo. Mesmo quando especialistas militares declaravam que seria “cientificamente impossível” capturar as fortificações costeiras pelo mar, Stálin, rompendo com a estreiteza da “ciência militar” tradicional, ordenou a ofensiva — e venceu. Em carta dirigida a Lênin, expressou com ironia o contraste entre a liturgia burocrática e a iniciativa política bolchevique:
Após a captura de Krasnaya Gorka, a fortificação conhecida como Seraya Loshad foi neutralizada. Todo o armamento apreendido encontra-se em excelente estado operacional. Prossegue, em ritmo acelerado, a tomada de todos os fortes e posições fortificadas remanescentes.
Especialistas da Marinha alegam que a operação anfíbia que garantiu a conquista de Krasnaya Gorka contraria os princípios estabelecidos da ciência naval. Só posso registrar meu pesar por tais princípios.
A rápida captura de Gorka deve-se à intervenção direta e decidida de minha parte — e, de modo geral, de outros civis — nos assuntos estritamente operacionais, intervenção que incluiu a anulação de ordens emitidas pelas forças navais e terrestres e a imposição de diretrizes determinadas por nós.
Declaro, como obrigação de comando, que continuarei agindo dessa forma sempre que necessário, apesar de todo o respeito formal que tenho pela chamada “ciência militar”.
Josef Stálin,
16 de junho de 1919.
Apenas seis dias após essa carta, Stálin já comunicava a Lênin uma virada decisiva na conjuntura da frente: o inimigo havia sido repelido em direção à Estônia, abrindo caminho para a ofensiva final contra Kolchak, cujas forças, desorganizadas e fragmentadas, entraram em colapso.
Kolchak, o símbolo da reação na Frente Oriental, foi capturado em Irkutsk e executado pelas autoridades soviéticas locais. O plano para sua captura e justiçamento havia sido formulado por Stálin, mesmo diante da oposição de Trotsky, que, em mais uma de suas manobras indecisas e conciliatórias, tentou impedir o fuzilamento de Kolchak e exigiu a suspensão de sua perseguição. Mas nem mesmo essa vitória estratégica encerrou a ofensiva contrarrevolucionária.
As potências estrangeiras, derrotadas em um flanco, reorganizaram seus esforços noutra direção, depositando agora todas as suas esperanças no general Denikin, que já ocupava a região do Kuban, de onde organizava um “exército voluntário”, composto por oficiais do antigo regime, cadetes e elementos degenerados da Guarda Branca. No verão de 1919, armado, financiado e abastecido pelos imperialistas da Entente, Denikin lançou uma poderosa ofensiva. As ordens equivocadas de Trotsky, mais uma vez, facilitaram esse avanço. No fim de setembro, as forças brancas capturaram a cidade de Orel e se aproximaram perigosamente de Tula, um dos maiores centros de armamento da Rússia soviética, situado a poucas horas de Moscou.
A situação era crítica. A ameaça de derrota total pairava sobre a capital da revolução. Diante disso, o Partido Bolchevique lançou um apelo vigoroso e mobilizador: “Todos à luta contra Denikin!”
A resposta foi imediata: operários e camponeses, conscientes do que significaria uma vitória da Guarda Branca — o retorno do czarismo, a restauração do latifúndio, a anulação de todas as conquistas de Outubro —, acorreram com entusiasmo às fileiras do Exército Vermelho, determinados a salvar a República dos Sovietes.
Para assegurar a derrota de Denikin, o Comitê Central concentrou seus mais leais e capazes quadros na Frente Sul: Stálin, Voroshilov, Ordzhonikidze, Kirov, Budyonny, Shchadenko e Mekhlis foram destacados para dirigir pessoalmente a contraofensiva. Considerando traiçoeira a linha militar de Trotsky e cientes de que sua política conduziria o exército à derrota certa, os bolcheviques decidiram retirar-lhe o comando da frente sul.
Stálin, mais uma vez, assumiu a responsabilidade estratégica. Avaliando a composição social hostil do território sob o domínio cossaco — profundamente permeado por simpatias pró-brancas —, propôs um plano alternativo ao deslocamento direto das tropas por essa região. Defendeu que o grosso do Exército Vermelho deveria avançar por Kharkov, através do Donbass e em direção a Rostov — caminho mais populoso, industrial e favorável à mobilização de apoio proletário.
Seu plano foi aprovado, reconhecido como superior do ponto de vista militar, logístico e político. Lênin, pessoalmente, redigiu a ordem formal para que os quartéis-generais das forças vermelhas obedecessem ao plano de Stálin — um reconhecimento inequívoco da autoridade e da justeza estratégica de sua proposta.
A derrota de Denikin representou mais do que o colapso de uma frente reacionária: significou a libertação integral do Cáucaso do Norte e da Ucrânia no início de 1920, encerrando mais uma fase decisiva da guerra civil. A vitória foi conquistada graças à ação articulada das forças revolucionárias, com destaque para o papel desempenhado pelo 1º Exército Montado — criado de acordo com as diretrizes estratégicas de Stálin — que esmagou as forças da Guarda Branca no sul.
Com a liquidação de Kolchak, Denikin e Yudenich, a reação interna sofreu um golpe mortal, e a intervenção armada promovida pelas potências estrangeiras perdeu força. Inglaterra, França e Itália, forçadas pela pressão das massas operárias e pela própria realidade das armas, viram-se obrigadas a levantar o bloqueio imposto contra a Rússia Soviética. Contudo, mesmo diante dessas derrotas sucessivas, o imperialismo não abandonou seus intentos de estrangular a jovem República dos Sovietes.
Em agosto de 1920, um novo ciclo de agressões foi inaugurado. Surgia então mais um “herói” da contrarrevolução: o barão Wrangel, que assumiu o comando das forças reacionárias no sul, reorganizando o que restava dos exércitos brancos com apoio material das potências ocidentais. Em resposta à nova ameaça, o Comitê Central do Partido Bolchevique, em 2 de agosto de 1920, aprovou a seguinte resolução citada pelo camarada Voroshilov em sua obra:
Diante do avanço das forças de Pyotr Nikolayevich Wrangel e da instabilidade crescente na região do Kuban, reconhece-se que a Frente de Wrangel adquiriu importância estratégica própria e deve ser destacada como uma frente autônoma. Fica incumbido o camarada Stálin de organizar o respectivo Comitê Militar Revolucionário e concentrar todas as forças disponíveis nesse setor, cabendo a nomeação de Alexander Yegorov ou Mikhail Frunze para o comando da frente, conforme acordo entre o Comandante-em-Chefe e o camarada Stálin.
A ofensiva de Wrangel, entretanto, foi apenas uma parte de uma campanha mais ampla do imperialismo contra o poder soviético. Em abril de 1920, os círculos dirigentes da Polônia, instigados e financiados pelas potências ocidentais, lançaram uma nova frente de ataque, invadindo a Ucrânia e ocupando Kiev. O objetivo era claro: desestabilizar a retaguarda soviética e dividir a frente revolucionária.
Para enfrentar esse novo perigo, Stálin foi nomeado membro do Conselho Militar Revolucionário da Frente Sudoeste. Sob sua direção, e com a decisiva participação do 1º Exército Montado — novamente peça-chave da vitória —, as forças soviéticas derrotaram os invasores poloneses e libertaram amplas regiões ocupadas. No entanto, como já ocorrera em outras ocasiões, os avanços do Exército Vermelho foram sabotados por manobras desastrosas e decisões oportunistas tomadas por Trotsky e seus aliados.
A derrota que se seguiu foi em grande parte consequência da política militar equivocada de Tukhachevsky, cuja ofensiva avançou de forma precipitada e isolada, afastando-se das reservas e da linha de suprimento, até ser cercada e estrangulada. Sem munições e apoio logístico, a ofensiva fracassou, permitindo à Polônia — com apoio dos imperialistas britânicos e franceses — consolidar o controle sobre a Ucrânia Ocidental e a Bielorrússia Ocidental. Essas regiões permaneceram sob o jugo da aristocracia polonesa até serem libertadas em neste ano.
Ainda assim, no terreno estratégico, o papel de Stálin destacou-se como exemplo de rigor, iniciativa e fidelidade incondicional aos interesses da revolução. Voroshilov, que combateu lado a lado com Stálin, resume com clareza suas qualidades como dirigente de guerra:
Esta breve descrição da atividade militar do camarada Stálin tampouco esgota a caracterização de suas qualidades fundamentais como dirigente militar e revolucionário proletário. O que mais impressiona é sua capacidade de compreender rapidamente uma situação concreta e agir de acordo com ela.
Inimigo feroz da negligência, da indisciplina e das improvisações irresponsáveis, o camarada Stálin — sempre que os interesses da revolução o exigiam — jamais hesitou em assumir a responsabilidade por medidas extremas ou mudanças radicais. Quando a necessidade revolucionária impunha, o camarada Stálin estava pronto a contrariar qualquer estatuto formal, qualquer instrução rígida de subordinação.
O camarada Stálin sempre defendeu a disciplina militar mais rigorosa e a centralização, desde que acompanhadas de uma direção realmente ponderada e equilibrada por parte dos órgãos militares superiores.
Mas mesmo diante das situações mais críticas, e apesar de sua independência tática e audácia de comando, Stálin jamais se afastou da única bússola que orientava sua ação: a linha do Partido e os interesses superiores da revolução socialista. A sua fidelidade ao centralismo democrático, sua submissão consciente à disciplina partidária e sua vinculação orgânica às massas foram sempre consistentes e permanentes.
Reconhecendo seus méritos e serviços excepcionais durante a Guerra Civil, o Comitê Executivo Central Pan-Russo, por iniciativa direta de Lênin, conferiu a Stálin, em 27 de novembro de 1919, a “Ordem da Bandeira Vermelha”, condecoração máxima da República Soviética naquele período.
Com isso, Stálin acrescentava à sua já vasta experiência revolucionária uma nova dimensão: a de comandante militar, estrategista da revolução em armas, arquiteto da vitória proletária nas frentes de batalha. Sua atuação durante a Guerra Civil não apenas consolidou o poder soviético, mas demonstrou à classe operária internacional a possibilidade concreta de esmagar, com organização, consciência e audácia, a ofensiva combinada do capital estrangeiro e da reação interna.