Os Principais Marcos Históricos da Vida e da Atividade de Stálin

Emelyan Yaroslavsky


A Paz e a Restauração Econômica


Entre os anos de 1914 e o final de 1920, o vasto território da Rússia soviética foi submetido a uma prolongada e ininterrupta sucessão de conflitos armados — iniciando-se com a guerra imperialista, que logo cedeu lugar à heroica, mas devastadora, Guerra Civil. Tal contexto lançou o país num abismo de caos econômico extremo, arrastando as massas trabalhadoras à miséria mais profunda, comprometendo de forma generalizada a infraestrutura produtiva e social do Estado soviético.

Diante dessa conjuntura devastadora, impôs-se como necessidade objetiva e inadiável a desmobilização do Exército Vermelho, que já contava com cerca de cinco milhões de combatentes — soldados da revolução forjados no ardor da luta de classes. A aliança entre o proletariado e o campesinato, que havia sido o sustentáculo político-militar da vitória na Guerra Civil, começava, contudo, a revelar suas limitações diante das novas tarefas colocadas pela etapa de reconstrução econômica. Antes mesmo que a obra de edificação pacífica pudesse ganhar impulso, tornou-se imperioso descobrir métodos adequados para mobilizar as massas trabalhadoras. Os instrumentos do período do Comunismo de Guerra mostravam-se insuficientes e contraproducentes; era necessário substituí-los por formas de orientação baseadas na persuasão e no convencimento em massa. Assim, tornava-se evidente que a aliança operário-camponesa exigia uma reconfiguração, assentada sobre novas bases materiais e políticas, ao mesmo tempo em que a política econômica deveria ser transformada de maneira substancial.

Essa transição histórica mostrou-se ainda mais complexa e contraditória pelo fato de que, durante o período da Guerra Civil — exatamente quando o poder político fora transferido definitivamente para as mãos do Partido Bolchevique —, suas fileiras haviam sido penetradas por elementos provenientes da pequena-burguesia, oriundos dos mencheviques, dos socialistas-revolucionários, do Bund e dos círculos anarquistas. Muitos desses indivíduos, embora formalmente ingressassem no Partido, não haviam abandonado suas concepções oportunistas e antimarxistas, continuando a defender, em maior ou menor grau, teses hostis ao bolchevismo. Sempre que encontravam espaço, esses elementos sem princípios semeavam dúvidas sobre a justeza da linha partidária e fomentavam a hesitação entre os militantes politicamente instáveis, criando, assim, um terreno fértil para o florescimento de grupos oposicionistas organizados, como os trotskistas, os autodenominados “comunistas de esquerda”, os anarco-sindicalistas e os fracionistas.

Quanto o Partido Bolchevique iniciou a fase da construção pacífica, por meio da introdução da Nova Política Econômica (NEP), que visava à restauração progressiva da vida econômica do país, foram justamente esses mesmos elementos instáveis que manifestaram as maiores vacilações e resistências. O Partido foi, então, obrigado a enfrentá-los com firmeza e vigilância constante, a fim de salvaguardar a unidade ideológica monolítica e a eficiência organizativa do movimento revolucionário.

Foi também em 1920, seguindo uma proposta de Lênin, que se instituiu a Comissão Estatal para a Eletrificação de toda a Rússia (GOELRO). Esta comissão concebeu um plano grandioso de eletrificação nacional, cuja realização plena demandaria aproximadamente uma década. Tratava-se do primeiro programa histórico da industrialização socialista, que, de acordo com a concepção estratégica de Lênin, deveria se converter no segundo grande programa do Partido, imediatamente após a conquista do poder pelos sovietes. Apesar de sua importância indiscutível para o avanço técnico da nova economia soviética, esse plano encontrou resistência e ataques por parte de Trotsky e Rykov, enquanto o camarada Stálin, em clara sintonia com Lênin, apoiou-o de forma entusiástica e decidida.

Ao receber das mãos de Lênin um exemplar do plano do GOELRO, Stálin não hesitou em qualificá-lo como uma obra magistral, autenticamente socialista e orientada pelos princípios do planejamento estatal. Declarou, com clareza, que se tratava de:

A única tentativa marxista, em nossa época, de colocar a infraestrutura produtiva soviética — economicamente atrasada — sobre uma base técnica e produtiva concreta e verdadeiramente prática.

Stálin advogou que não se deveria perder um só minuto em discussões estéreis e que se devia, sem mais delongas, colocar o plano em execução imediata, destinando-se, para isso, ao menos um terço dos esforços produtivos da República Soviética.

Ainda no mesmo ano de 1920, eclodiu no seio do Partido Bolchevique uma polêmica de grande envergadura sobre o papel dos sindicatos. A controvérsia teve origem nas proposições de Trotsky e de seus partidários, que defendiam a continuidade da política do Comunismo de Guerra em todas as esferas da vida econômica e partidária, insistindo em “apertar ainda mais os parafusos”. Tal linha, ao pretender alimentar os métodos coercitivos e burocráticos, visava, em última instância, minar a confiança das massas trabalhadoras no Partido, fomentar o divórcio entre o Partido e as bases populares e, assim, enfraquecer as fundações da ditadura do proletariado. Embora cada uma dessas frações oposicionistas apresentasse seu “plano” específico, todas convergiam em sua ofensiva contra Lênin e Stálin e contra os bolcheviques leais à causa revolucionária.

Em resposta a essas tentativas de sabotagem e desorganização, Lênin e Stálin unificaram suas forças numa frente sólida, combativa e ideologicamente coesa, a fim de defender a unidade do Partido e a linha marxista-leninista. Durante esse período, Stálin redigiu uma série de artigos publicados no jornal Pravda, nos quais argumentava com profundidade em defesa das posições de Lênin e denunciava as tendências fracionistas que ameaçavam corroer o Partido desde seu interior.

Em 27 de outubro daquele ano, Stálin proferiu uma intervenção decisiva durante uma conferência regional do Partido Bolchevique em Vladikavkaz, na qual destacou que a vitória histórica da Grande Revolução Socialista de Outubro de 1917 havia criado as condições objetivas necessárias para o desenvolvimento e a consolidação definitiva do socialismo nas terras soviéticas.

Poucos meses depois, no 10º Congresso do Partido, realizado na primavera de 1921, Stálin apresentou um informe fundamental sobre a questão nacional, no qual sublinhou a necessidade de o Partido prestar assistência econômica e cultural concreta às nacionalidades que, sob o jugo do regime czarista, haviam sido submetidas a séculos de opressão nacional. Enfatizou, ademais, o dever intransigente de combater todos os desvios oportunistas presentes nessa frente, denunciando com especial ênfase o mais perigoso deles naquele momento: o chauvinismo Grão-Russo, expressão do espírito reacionário da nação outrora dominante.

Durante o verão de 1921, Stálin adoeceu gravemente, suscitando imediata preocupação de Lênin, que demonstrou profundo zelo e solidariedade pessoal. Ao tomar conhecimento da enfermidade, enviou sem demora o seguinte telegrama a Sergo Ordzhonikidze:

Por favor, informe-me sobre o estado de saúde de Stálin e a opinião dos médicos.

Após receber a resposta, Lênin redigiu nova mensagem:

Comunique-me o nome e o endereço do médico que trata Stálin. Há quanto tempo ele está doente?

No outono do mesmo ano, dirigiu-se ao comandante do Kremlin exigindo a transferência de Stálin para um alojamento mais isolado, dada a perturbação provocada pelos ruídos das instalações vizinhas, que comprometiam seu repouso. Ordenava que essa providência fosse executada de imediato e que o comandante o informasse com exatidão quanto à sua viabilidade e concretização.

Em dezembro de 1921, numa nota endereçada ao seu secretário, Lênin instruiu-o a lembrá-lo, pela manhã, de encontrar-se com Stálin e solicitou, ainda, que estabelecesse comunicação telefônica com o doutor Obukh, responsável pelo tratamento de sua saúde. Tais documentos e registros atestam, de maneira inequívoca, a estima política e pessoal que Lênin nutria por Stálin, fundada não apenas em laços de camaradagem, mas na confiança firme em sua dedicação e capacidade de direção.

Ainda em 6 de julho de 1921, Stálin dirigiu-se a uma assembleia das organizações do Partido em Tíflis, onde expôs as tarefas imediatas dos comunistas na Geórgia e em toda a região da Transcaucásia. À época, um grupo de nacionalistas do Cáucaso opunha-se frontalmente à proposta de Stálin de formar uma federação das repúblicas transcaucasianas. No entanto, Lênin apoiou com entusiasmo essa proposta, compreendendo seu valor histórico e político. Como resultado, consolidou-se a criação da Federação das Repúblicas Socialistas Soviéticas da Transcaucásia.

Os desvios nacionalistas manifestos nas repúblicas transcaucasianas, inicialmente expressos sob a forma de autonomismo, degeneraram, em seguida, em plataformas abertamente contrarrevolucionárias. A oposição firme de Stálin, já em 1921, frente a tais tendências, e sua percepção de que esses germes ideológicos conduziriam a uma ruptura com os fundamentos do internacionalismo proletário, revelam sua notável clarividência teórica e sua fidelidade intransigente aos princípios do marxismo-leninismo.

Foi também no 10º Congresso que o Partido decidiu, com base na análise concreta da nova conjuntura, introduzir a Nova Política Econômica (NEP), como transição necessária à restauração da vida econômica. Stálin figurou entre seus mais convictos e resolutos defensores, tendo formulado, mais tarde, uma definição clássica e cristalina do conteúdo estratégico da NEP:

A NEP é uma política especial do Estado proletário, concebida para tolerar o capitalismo, mas manter os postos-chave nas mãos do Estado proletário; ela se destina à luta entre os elementos capitalistas e socialistas; ao crescimento da importância dos elementos socialistas às custas dos elementos capitalistas; à vitória dos elementos socialistas sobre os capitalistas; à abolição das classes e ao lançamento das bases de um sistema econômico socialista.

Posteriormente, no 11º Congresso do Partido, o Comitê Central elegeu Stálin para o cargo de Secretário-Geral do Comitê Central do PCUS(B). Tal designação representava uma inovação significativa na estrutura organizativa do Partido e expressava, de modo inequívoco, o grau de confiança que Lênin, a direção coletiva do Partido e sua ampla base militante depositavam em Stálin. Reconhecia-se, assim, que ele possuía as qualidades políticas, organizativas e ideológicas necessárias para dirigir o Partido nesta nova e complexa etapa da Revolução.

O prestígio e o valor político de Stálin no interior do Partido atingiam, nesse momento, seu ponto mais alto. A amplitude de suas responsabilidades no Estado soviético também se intensificava. As tarefas atribuídas ao Secretário-Geral do Comitê Central consumiam cada vez mais seu tempo e energia. Ainda assim, Stálin acumulava simultaneamente outras funções de peso: exercia também o cargo de Comissário do Povo para os Assuntos das Nacionalidades e o de Comissário do Povo para a Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses. Tamanha responsabilidade concentrou sobre ele os ataques dos inimigos do socialismo, que pretendiam enfraquecer sua autoridade e criar divisões internas no Partido. No entanto, durante o 11º Congresso, Lênin rechaçou com vigor tais ataques, reafirmando o papel central e indispensável de Stálin na edificação do Estado soviético e na condução da revolução proletária.

Em resposta ao trotskista Preobrazhensky — elemento posteriormente desmascarado como inimigo declarado do povo soviético e da causa socialista —, Lênin reagiu com clareza e firmeza, expondo as contradições internas da crítica oportunista e defendendo, de maneira inequívoca, o papel desempenhado por Stálin. Disse ele:

Preobrazhensky queixa-se levianamente de que Stálin está à frente de duas comissarias, mas o que fazer, então, para manter a situação sob controle no Comissariado do Povo para as Nacionalidades e compreender a fundo toda essa complexa questão das nacionalidades — turquemenas, caucasianas, da Ásia Central? Afinal, são questões políticas! E são questões que devem ser resolvidas — questões que têm desafiado os Estados europeus por séculos, e que, mesmo nas repúblicas democráticas mais avançadas, só foram resolvidas em parte. Nós estamos resolvendo esses problemas. E precisamos de um camarada a quem qualquer representante das nacionalidades possa recorrer e discutir diretamente, com confiança. Onde encontraríamos um homem assim? Creio que nem mesmo Preobrazhensky ousaria nomear outro senão o camarada Stálin.

O mesmo se aplica à Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses. O trabalho é imenso. Mas para levar a sério o trabalho de investigação, é preciso um homem de autoridade real no comando, ou tudo será afogado em intrigas mesquinhas.

No verão de 1922, Lênin adoeceu gravemente, recaindo sobre Stálin uma carga ainda maior de responsabilidades. Este intensificou suas visitas a Lênin, informando-o permanentemente sobre a marcha da situação política e administrativa do país, zelando pela continuidade da liderança coletiva e pela integridade do Estado soviético.

Assim que a condição de saúde de Lênin apresentou ligeira melhora, os médicos autorizaram que recebesse visitas — e sua primeira solicitação foi que Stálin viesse encontrá-lo. Em suas memórias desse reencontro, Stálin testemunha o quanto Lênin permanecia, mesmo debilitado, profundamente atento aos destinos da revolução:

Não me é permitido ler jornais, — comentou ironicamente o camarada Lênin, — e também me proíbem falar de política. Examino com cuidado cada folha de papel deixada sobre a mesa, com receio de que possa conter uma notícia e me leve a quebrar a disciplina médica.

Ri com gosto, — relata Stálin, — e louvei o camarada Lênin por sua excelente disciplina.

Em dezembro de 1922, um novo marco foi alcançado na construção do Estado proletário multinacional: formou-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma união voluntária e fraterna das repúblicas soviéticas, baseada na igualdade plena de direitos e na luta comum pelo socialismo. Stálin desempenhou um papel central nesse processo histórico, sendo o redator tanto do “Tratado da União” — aprovado no 1º Congresso dos Sovietes da URSS em 30 de dezembro — quanto da primeira Constituição da União, adotada pelo 2º Congresso dos Sovietes.

A Constituição da URSS e a aprovação do seu texto constitucional representaram uma vitória decisiva da linha leninista-stalinista na questão nacional, consolidando os princípios do internacionalismo proletário e da unidade voluntária das nações trabalhadoras em torno de um centro socialista comum.

No 12º Congresso do Partido, Stálin, já na qualidade de Secretário-Geral do Comitê Central, apresentou o informe organizativo, bem como um informe específico intitulado “Os fatores nacionais na construção do Partido e do Estado”. Nesse documento — como já havia feito no 10º Congresso —, denunciou vigorosamente o perigo do desvio chauvinista Grão-Russo, apontando também os perigos análogos do nacionalismo local, de extração burguesa, em suas múltiplas manifestações ideológicas e políticas.

Pouco tempo depois, numa conferência do Comitê Central convocada por Lênin, Stálin apresentou uma denúncia contra um grupo de nacionalistas burgueses tártaros e bachquires, dirigido por Sultan-Galiev. Essa intervenção — tal como as resoluções do 12º Congresso sobre a questão nacional — constituiu uma contribuição de valor estratégico incalculável à luta contra os desvios nacionalistas e à consolidação firme das repúblicas soviéticas como expressões da ditadura do proletariado sob forma federativa.

Em outubro de 1922, a saúde de Lênin havia melhorado o suficiente para que os médicos autorizassem sua volta parcial às atividades públicas. Com o apoio constante e vigilante de Stálin, Lênin retomou seu posto de direção, participando de sessões do Conselho dos Comissários do Povo, de Plenárias do Comitê Central do PCUS(B), bem como do 4º Congresso do Comitê Executivo Central Pan-Russo dos Sovietes. Ainda interveio com brilho e profundidade no 4º Congresso da Comintern, onde apresentou um informe decisivo sobre a NEP e as perspectivas estratégicas da revolução mundial.

Em 20 de novembro de 1922, Lênin pronunciou, na Plenária do Soviete de Moscou, o que viria a ser seu último discurso público, no qual tratou com notável lucidez das diretrizes fundamentais da política interna e externa do Estado soviético. Nessa intervenção histórica, expressou, com convicção revolucionária inabalável, sua certeza de que a Rússia da Nova Política Econômica (NEP) se transformaria, em processo dialético, numa Rússia socialista, baseada nas conquistas da revolução proletária.

Apesar de seu estado de saúde declinante, Lênin ainda preparava um discurso para o próximo Congresso Pan-Russo dos Sovietes. No entanto, ao agravar-se sua condição, passou a manifestar crescente preocupação com o desmonte do monopólio estatal sobre o comércio exterior — uma conquista central da ditadura do proletariado. Em resposta, redigiu uma carta dirigida a Stálin, solicitando-lhe que levasse ao Plenário do Comitê Central uma denúncia frontal contra Bukhárin e outros opositores do monopólio, acusando-os de defender, conscientemente ou não, uma linha política favorável aos Kulaks, ou seja, à restauração de elementos capitalistas na economia soviética.

A plenária, presidida por Stálin, rejeitou de maneira categórica as teses liberais dos adversários da centralização econômica, reafirmando com firmeza a necessidade de manter o monopólio estatal do comércio exterior como eixo estratégico da transição ao socialismo.

O ano de 1923 representou um período particularmente crítico para Lênin, para o Partido Bolchevique e para o Estado soviético como um todo. A saúde debilitada de Lênin impôs que as tarefas de condução política e administrativa do Partido e do governo recaíssem diretamente sobre os ombros de Stálin, então já consolidado como Secretário-Geral do Comitê Central. Os trotskistas, aproveitando-se da ausência de Lênin, intensificaram seus ataques contra a direção bolchevique, dirigindo seus principais golpes contra Stálin. Procuraram fomentar divisões internas, provocando uma controvérsia partidária artificial que, no entanto, revelou-se mais clarificadora do que desagregadora: pois os elementos trotskistas e demais inimigos do marxismo-leninismo foram desmascarados diante do Partido e das massas como fracionistas cuja meta oculta era a criação de um segundo partido — um partido paralelo, contrarrevolucionário e hostil à construção do socialismo.

Diante dessa ofensiva, Stálin manteve o Partido firmemente ancorado à linha revolucionária traçada por Lênin. E o fez não apenas por sua habilidade política, mas também pelo prestígio acumulado junto às fileiras bolcheviques e pela confiança profunda da classe operária, que reconhecia nele um lutador intransigente e coerente, forjado nas trincheiras da luta de classes e leal à causa comunista desde os anos mais difíceis do movimento revolucionário.

Em 2 de dezembro de 1923, Stálin dirigiu-se à plenária do Comitê Distrital Krasnaya Presnya do Partido, onde expôs detalhadamente as medidas adotadas pelo Comitê Central para consolidar a coesão partidária e combater os elementos desorganizadores — trotskistas e oportunistas de várias matizes. Poucos dias depois, em 15 de dezembro, o jornal Pravda publicou uma proclamação do Comitê Central, assinada por Stálin, dirigida a todas as organizações partidárias, lançando uma campanha à unidade militante na luta contra as tendências oportunistas e pequeno-burguesas.

Na Conferência do Partido realizada em janeiro de 1924, após a apresentação de um informe minucioso por Stálin, foi aprovada uma resolução condenando formalmente os trotskistas como uma tendência de matriz pequeno-burguesa. Foi nessa ocasião que Stálin lançou ao Partido uma palavra de ordem que se tornaria histórica: “Enterrem o trotskismo como uma tendência ideológica!”

No dia 21 de janeiro de 1924, Vladimir Ilyich Lênin faleceu. Sua morte constituiu uma perda irreparável para o movimento operário internacional, para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e para o Partido Bolchevique. Contudo, ao mesmo tempo, o Partido tinha consciência de que a bandeira revolucionária de Lênin permanecia empunhada por mãos firmes e confiáveis — por um bolchevique que, desde a década de 1890, havia trilhado ao seu lado o árduo caminho da luta revolucionária e que havia provado, em todas as fases do combate, sua fidelidade irrestrita à causa do socialismo.

No dia 26 de janeiro de 1924, por ocasião da sessão memorial realizada durante o 2º Congresso dos Sovietes da URSS, Stálin prestou um solene juramento em nome de todo o Partido. Prometeu preservar, com integridade e honra, o elevado título de membro do Partido Comunista; proteger a unidade do Partido; defender e fortalecer a ditadura do proletariado; intensificar, com todas as forças disponíveis, a aliança entre operários e camponeses; consolidar e ampliar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas; fortalecer o Exército Vermelho e a Marinha Vermelha; e permanecer fiel, sem vacilação, aos princípios programáticos da Internacional Comunista.

Este juramento, pronunciado com a autoridade moral e política de um dirigente forjado nas batalhas mais duras do movimento comunista, foi prontamente assumido pelo Partido — um Partido que, construído por Lênin e Stálin, se mantinha firme na senda do socialismo e na lealdade internacionalista ao proletariado mundial. Com a morte de Lênin, os frutos da direção firme, coerente e estratégica de Stálin se tornaram ainda mais evidentes. Os inimigos da revolução, em vão, tentaram transformar o luto em brecha para desorganizar as fileiras do bolchevismo e construir um partido alternativo trotskista e menchevique. No entanto, sob a direção de Stálin, esses elementos foram expostos, denunciados e derrotados. O Partido permaneceu uno, firme, revolucionário e vitorioso — fiel à sua missão histórica.

A luta ideológica travada contra o trotskismo e demais correntes antimarxistas exigiu, de maneira incontornável, a formulação, aprofundamento e resposta teórica a uma série de questões fundamentais para o desenvolvimento da revolução. Tal tarefa, de valor estratégico incalculável, foi realizada com brilho singular pelo camarada Stálin, que, após a morte de Lênin, assumiu com firmeza a responsabilidade de conduzir o avanço da teoria marxista-leninista frente aos novos desafios do período de transição ao socialismo.

Diversos artigos publicados por Stálin no Pravda desempenharam papel decisivo na derrota ideológica do trotskismo. Entre eles, destaca-se “A Revolução de Outubro e as Táticas dos Comunistas Russos”, no qual Stálin desmascara os resíduos de menchevismo que permeavam a obra “As Lições de Outubro”, de Trotsky — panfleto cuja essência consistia numa tentativa de reescrever a história da Revolução de Outubro à luz do seu personalismo pequeno-burguês. Somam-se a esse escrito os discursos proferidos por Stálin na reunião plenária conjunta do Comitê Central e da Comissão Central de Controle, em janeiro de 1925; sua intervenção nas organizações do Partido em Moscou, em maio daquele mesmo ano; e sua participação no 14º Congresso do Partido. Em todos esses momentos, Stálin mobilizou com profundidade as armas teóricas do marxismo-leninismo, contribuindo decisivamente para desmascarar e esmagar não apenas os trotskistas, mas também os zinovievistas, cujas posições reacionárias haviam ganhado novo fôlego à sombra da crise interna gerada pela doença e posterior falecimento de Lênin.

Essa vitória ideológica sobre os inimigos do bolchevismo teria sido impensável sem o colossal trabalho teórico realizado por Stálin. Um dos momentos mais altos dessa produção foi o ciclo de conferências intitulado “Os Fundamentos do Leninismo”, ministrado por Stálin em abril de 1924 na Universidade de Sverdlov. Essas conferências — que, posteriormente, seriam reunidas com outros escritos fundamentais sob o título “As Questões do Leninismo” — converteram-se em uma obra de referência obrigatória para todo comunista consciente e disciplinado. Publicado em milhões de exemplares e traduzido para dezenas de línguas, esse livro tornou-se um verdadeiro manual teórico, formador de quadros revolucionários em toda a extensão da União Soviética e além de suas fronteiras.

Na obra “As Questões do Leninismo”, Stálin oferece uma definição precisa e magistral da essência do leninismo:

O Leninismo é o marxismo na era do imperialismo e da revolução proletária. Para ser mais exato, o Leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral, a teoria e a tática da ditadura do proletariado em particular.

Nesses compêndios teóricos, Stálin expõe as origens históricas do leninismo, desenvolve sua metodologia, sistematiza os princípios da teoria marxista-leninista e aprofunda as questões centrais que lhe são constitutivas: a ditadura do proletariado como forma de poder político da classe operária, a aliança com o campesinato como fundamento da estabilidade revolucionária, a questão nacional e colonial como expressões do imperialismo em sua fase decadente, as estratégias e táticas de combate da vanguarda revolucionária, a organização partidária e, por fim, o estilo leninista de trabalho, com sua disciplina férrea, seu vínculo com as massas e sua precisão científica.

O objetivo político dessa obra — traduzida para os mais diversos idiomas dos povos da URSS e do mundo — era inequívoco: formar milhões de militantes e quadros do Partido Comunista, capazes de compreender e aplicar a dialética marxista-leninista, interpretar os fenômenos sociais em sua totalidade concreta e desvelar as leis objetivas do desenvolvimento histórico. Com esse instrumento teórico, o Partido se armava para enfrentar as tarefas do período de restauração econômica e da transição socialista com clareza estratégica e profundidade tática.

Sob a direção de Stálin, o Partido logrou resolver os enormes desafios econômicos herdados da Guerra Civil, do bloqueio imperialista e das devastações da difícil época do Comunismo de Guerra. Embora os primeiros passos da NEP tenham exigido concessões transitórias à economia mercantil e à iniciativa privada restrita, os êxitos alcançados elevaram significativamente as condições de vida dos operários e camponeses. Contudo, a consolidação desses avanços exigia que as tarefas imediatas fossem subordinadas a uma perspectiva mais ampla, que apontasse com firmeza para a edificação de uma sociedade socialista sem classes. A transição não poderia limitar-se à estabilização econômica: era necessário desmascarar e combater vigorosamente aqueles que, sob o disfarce do “realismo” ou do “internacionalismo revolucionário”, sustentavam que o socialismo não poderia ser construído na União Soviética enquanto não triunfasse simultaneamente em outros países.

Esses elementos — inimigos confessos ou disfarçados do bolchevismo — distorciam deliberadamente a doutrina de Lênin, que jamais excluíra a possibilidade de construir o socialismo em um só país, desde que estivessem reunidas as condições internas fundamentais. A Revolução de Outubro havia garantido à classe operária o poder político. A tarefa que se colocava agora era mais complexa: consistia em liquidar definitivamente as bases econômicas do capitalismo e construir, nas condições concretas da URSS, uma economia socialista integral.

A pergunta colocava-se de forma objetiva e incontornável: seria possível construir o socialismo em um só país?

Stálin respondeu afirmativamente a essa questão fundamental. Demonstrou que, embora a vitória completa do socialismo mundial dependesse da derrubada do capitalismo nos demais países e da consequente destruição do cerco imperialista, nada impedia — no plano interno — que a União Soviética, sob a ditadura do proletariado e com uma economia planificada, edificasse as bases materiais e sociais de uma sociedade socialista sem classes. Essa tese, elaborada e sustentada por Stálin com vigor teórico e respaldo histórico, tornou-se a pedra de toque da estratégia socialista soviética e um dos maiores serviços prestados ao movimento operário internacional.

A questão da possibilidade da construção do socialismo em um só país, levantada em meio ao intenso processo de transição econômica e social da União Soviética, foi objeto de amplo e decisivo debate tanto na 14ª Conferência do Partido quanto no 14º Congresso do PCUS(B). Em ambos os espaços, a esmagadora maioria dos militantes bolcheviques posicionou-se em defesa da tese formulada e defendida por Stálin — tese que viria a ser igualmente endossada pela Comintern como expressão correta da doutrina marxista-leninista diante da nova etapa da revolução mundial.

Stálin, como dirigente de autoridade teórica e prática já consolidada, desempenhou papel de vanguarda nos trabalhos do 5º Congresso da Comintern, bem como na 7ª Plenária Ampliada do Comitê Executivo da Comintern. Sua intervenção em ambos os eventos constituiu uma contribuição de altíssimo valor para o movimento comunista internacional, ajudando a clarificar a estratégia dos Partidos comunistas irmãos frente às condições concretas do cerco capitalista e da luta revolucionária nos diferentes países.

Os Partidos comunistas que compunham a Comintern reconheciam nas instruções políticas e teóricas de Lênin as diretrizes fundamentais de sua atuação. Foi sob essa orientação que o Partido Bolchevique pôde desenvolver uma política consequente de depuração sistemática e liquidação completa dos elementos capitalistas remanescentes, enquanto avançava na edificação de uma sociedade socialista, sem classes e baseada na propriedade social dos meios de produção. Essa linha revolucionária encontrou, desde o início, a oposição resoluta dos trotskistas, que se aliaram, ao final de 1924, aos zinovievistas e kamenevistas — os capitulacionistas derrotados —, formando aquilo que passou a se denominar “Nova Oposição”, composta por um pequeno círculo de seguidores politicamente hesitantes e ideologicamente degenerados.

Essa nova formação oposicionista, de corte trotskista-zinovievista, já se manifestava de modo ruidoso e provocador por ocasião do 14º Congresso do Partido. É mérito político e teórico inegável de Stálin o fato de que, desde os primeiros indícios desse agrupamento, ele tenha desmascarado de forma clara e pública seu caráter antibolchevique e contrarrevolucionário. Essa vigilância política foi o fator decisivo que permitiu ao Partido desmontar os fundamentos da oposição e preservar a unidade de sua linha revolucionária.

Referindo-se, mais tarde, à importância estratégica do 14º Congresso do Partido, Stálin registrou, em sua obra “As Questões do Leninismo”, a seguinte avaliação:

O significado histórico do 14º Congresso do Partido Comunista da União Soviética reside no fato de que este foi capaz de expor as raízes mais profundas dos erros da “Nova Oposição”, de tal modo que incitou seu ceticismo rancoroso e vacilante, e, ao mesmo tempo, indicou de forma clara e inequívoca o caminho da luta ulterior pelo socialismo, abrindo diante do Partido a perspectiva da vitória e armando, assim, o proletariado com uma fé inquebrantável na vitória da construção socialista.

Assim, num período particularmente difícil da luta de classes e da consolidação do poder soviético, Stálin conduziu o Partido à vitória sobre as forças internas da reação e da desorganização, realizando, ao mesmo tempo, um trabalho teórico de envergadura monumental. Por meio de “As Questões do Leninismo”, forneceu ao Partido uma autêntica guia de ação, firmemente ancorada na doutrina de Marx, Engels e Lênin, adaptada criativamente às condições concretas da revolução socialista na União Soviética.

Nessa obra, Stálin não se limitou à polêmica com os oposicionistas; abordou um conjunto de questões teóricas essenciais vinculadas diretamente à luta do Partido pela vitória final do socialismo: a natureza da ditadura do proletariado, o papel dirigente do Partido, a aliança operário-camponesa, a questão nacional e colonial, a planificação econômica, o internacionalismo proletário e a organização interna do Partido como vanguarda consciente da classe operária.

Já naquele período, Stálin delineava os primeiros passos práticos em direção à industrialização socialista e à coletivização da agricultura, compreendendo que a superação do atraso econômico herdado do czarismo e da guerra civil exigia uma reestruturação radical das bases produtivas do país. A ele também couberam as principais orientações contra os desvios nacionalistas e em prol da construção de uma autêntica comunidade multinacional de repúblicas soviéticas, fundada sobre os princípios do internacionalismo proletário e da igualdade entre as nações.

A primeira Constituição da URSS, por ele redigida, é exemplo eloquente desse esforço criador e organizativo. Documento de extraordinária importância histórica, a Constituição de 1924 expressava, no plano jurídico-político, as conquistas acumuladas pela classe operária em sua luta pela construção do socialismo. Sua relevância, no momento de sua promulgação, não era inferior à da nova Constituição Soviética de 1936 — conhecida como a Constituição Stalinista —, adotada posteriormente durante o 8º Congresso Extraordinário dos Sovietes, a qual viria a consagrar formalmente a vitória do socialismo em todas as esferas da vida social da URSS.